A intercultura refere-se a um complexo campo de debate entre as variadas concepções e propostas que enfrentam a questão da relação entre processos identitários socioculturais diferentes, focalizando especificamente a possibilidade de respeitar as diferenças e de integrá-las em uma unidade que não as anule. A intercultura vem se configurando como uma nova perspectiva epistemológica, ao mesmo tempo que um objeto de estudo interdisciplinar e transversal, no sentido de tematizar e teorizar a complexidade (para além da pluralidade ou da diversidade) e a ambivalência ou o hibridismo (para além da reciprocidade ou da evolução linear) dos processos de elaboração de significados nas relações intergrupais e intersubjetivas, constitutivos de campos identitários em termos de etnias, de gerações, de gênero, de ação social. A partir de diferentes percursos e concepções teórico-metodológicas desenvolvidos na América do Norte, na Europa, na América Latina, a problemática vem interpelando o campo da educação no Brasil, que vem respondendo com estudos e propostas no campo da educação indígena, das políticas afirmativas das minorias étnicas, dos processos de inclusão social de pessoas portadoras de necessidades especiais, dos movimentos de gênero, da valorização das culturas infantis, dos movimentos de pessoas de terceira idade. Os mais recentes trabalhos de pesquisa, apresentados em 2002, na 25ª Reunião Anual da ANPEd, descortinam novas perspectivas de compreensão das diferenças e das identidades culturais no campo das práticas educativas. Para além de uma compreensão rígida, hierarquizante, disciplinar, normalizadora da diversidade cultural, emerge o campo híbrido, fluido, polissêmico, ao mesmo tempo trágico e promissor da diferença, que se constitui nos entrelugares e nos entreolhares das enunciações de diferentes sujeitos e identidades socioculturais. Neste contexto, a educação passa a ser entendida como o processo construído pela relação tensa e intensa entre diferentes sujeitos, criando contextos interativos que, justamente por se conectar dinamicamente com os variados contextos culturais em relação aos quais os diferentes sujeitos desenvolvem suas respectivas identidades, torna-se um ambiente criativo e propriamente formativo.
RESUMO:Problematizando o racismo e os processos de discriminação sociocultural, discute-se a questão da diferença na educação, por meio de estudos recentes que focalizam os campos das relações étni-cas, geracionais, de gênero, assim como das diferenças físicas e mentais. Tendo como referência Bhabha, Pierucci, Scott, Skliar e, de modo particular, jovens pesquisadores que se apresentaram na 25ª Reunião Anual da ANPEd, busca-se compreender as motivações construídas nos processos identitários relativos à diferença. Concluise que as novas perspectivas emergentes de compreensão das diferenças indicam uma visão mais complexa do diferente, para além do paradigma da diversidade. Deste modo, surge o campo híbrido, fluido, polissêmico, ao mesmo tempo promissor, da diferença, que se * Este artigo completa uma trilogia de estudos sobre a questão da diferença na educação. Ao retomar e reformular, sob novo enfoque, partes do estudo elaborado para subsidiar a discussão deste tema na 25 ª Reunião Anual da ANPEd (Fleuri, 2002), o presente artigo (2006) amplia e dá continuidade ao estudo apresentado no nosso artigo "Intercultura e educação" (Fleuri, 2003). O primeiro texto (2002) constitui um esboço de subsídios teóricos, tomados de trabalhos que estavam sendo apresentados naquela mesma reunião da ANPEd, tendo como objetivo debater como o colega Carlos Skliar, da sessão especial A questão da diferença na educação, sobre o conceito de alteridade, relacionando-o com o de interculturalidade. O segundo texto (2003) teve como objetivo, a partir do debate realizado, fundamentar a proposição do conceito de intercultura no campo da educação. O presente artigo (2006) retoma a análise de alguns elementos do mesmo referencial com o objetivo de discutir mais explicitamente a questão dos estereótipos e do racismo na educação.Colaboraram na pesquisa textual inicial Silvana Maria Bitencourt (mestre em Ciências Sociais pela UFSC) e Lia Vainer Schucman (mestre em Psicologia pela UFSC).
RESUMOComo vêm se construindo no Brasil processos sociais de garantia de igualdade de direitos e de direito à diferença nas relações étnicas, de gênero, geracionais, assim como nos campos da ecologia e do associativismo? Esta tensão entre igualdade e diferença, unidade e pluralidade se constitui na problemática central em torno da qual se configura o desenvolvimento das redes de cooperação científica e social, potencializado pelo Projeto Rizoma. Este projeto, constituído no âmbito do Plano Sul de Pesquisa e Pós-Graduação (financiado pelo CNPq e Funcitec em [2001][2002][2003], foi mobilizado polissemicamente por quatro Núcleos de Pesquisa. Mediante suas atividades, que culminaram na organização de um seminário internacional, o Projeto Rizoma focaliza o caráter multidimensional e complexo da interação entre sujeitos de identidades culturais diferentes. Busca desenvolver concepções e propostas que favoreçam o enfrentamento dos conflitos sociais, na direção de superação das estratégias socioculturais geradoras de discriminação, de exclusão ou de sujeição que vêm se manifestando no mundo globalizado, nas relações entre nações, entre etnias, entre classes sociais, entre gerações, entre religiões, entre movimentos sociais e, de modo particular, nas relações interculturais e de gênero. As pesquisas e os debates desenvolvidos evidenciam novas perspectivas epistemológicas que permitem o entendimento do hibridismo e da ambivalência, ou seja, dos contextos intersticiais que consti-
A educação intercultural, no contexto das lutas sociais contra os processos crescentes de exclusão social inerentes à globalização econômica, propõe o desenvolvimento de estratégias que promovam a construção de identidades particulares e o reconhecimento das diferenças ao mesmo tempo que sustentem a inter-relação crítica e solidária entre diferentes grupos. O artigo apresenta uma conceituação operacional de educação intercultural, elaborada a partir dos estudos desenvolvidos na Europa. Verifica a necessidade de se recolocar a proposta de educação intercultural, considerando a especificidade da formação das identidades culturais e dos processos de integração interétnica no Brasil. E propõe uma perspectiva epistemológica da complexidade, com base nas premissas de Gregory Bateson, para compreender e para orientar o desenvolvimento de contextos educativos que promovam a articulação entre diferentes contextos subjetivos, sociais e culturais. Palavras-chave: educação intercultural; pluridade cultural; identidade; transversalidade; epistemologia; complexidade. Abstract The intercultural education, in the context of social struggles against the crescent processes of social exclusion inherent to the economical globalization, proposes the development of strategies that promote the construction of particular identities and the recognizing of the differences, at the same time in which they support the critical and solidaristic inter-relation among different groups. The article presents an operational concept of the intercultural education, elaborated from studies developed in Europe. It verifies the need to put back the proposal of intercultural education, considering the specificity on the formation of the cultural identities and of the processes of inter-ethnical integration in Brazil. And it proposes an epistemological perspective of the complexity, based on Gregory Bateson's premises, to understand and to guide the development of educational contexts that promote the articulation among different subjective, social and cultural contexts. Keywords: intercultural education; cultural plurality; identity; transversal; epistemology; complexity.
RESUMEN (Inglés)El INTRODUCCIÓNLos planteamientos socioeconómicos actuales y su globalización no están reduciendo la problemática ambiental, ni la pobreza ni la desigualdad, sino todo lo contrario. Existen múltiples problemas de carácter ambiental, social, político y cultural que ponen en riesgo la propia supervivencia de la Tierra, como pone de manifiesto el cálculo de la huella ecológica (Rees y Wackernagel, 1996), siendo urgente, por tanto, detener la degradación irreversible del medio ambiente y avanzar, desde la perspectiva de la sostenibilidad y la equidad, hacia modos de vida y actividades económicas que no superen la capacidad de carga de los ecosistemas y no generen desigualdades sociales.
A conceituação de interculturalidade tem sido importante para a implementação de políticas educacionais. Entretanto, constitui um campo complexo de debate entre múltiplas perspectivas que não podem ser reduzidas um esquema universal. Neste contexto, as lutas por justiça social e por construir sociedade plural, democrática, requerem a compreensão dos fundamentos epistemológicos da sociedade moderno-colonial, bem como a problematização dos processos de subalternização e racialização inerentes à constituição do sistema-mundo atual. Estudos recentes, referenciados neste artigo, problematizam o modelo político de Estado-Nação e estudam suas implicações na vida e na políticas dos povos indígenas na América Latina, considerando que o reconhecimento dos povos originários como sujeitos de sua história implica em rever criticamente o imaginário produzido no processo colonizatório sustentado pelas culturas hegemônicas globalizadas. A desconstrução da matriz colonial do poder implica em desarmar o dispositivo de “raça”, que vem sendo historicamente acionado para a distribuição, dominação e exploração da população mundial no contexto capitalista-global do trabalho. E do ponto de vista do saber, torna-se necessária uma ressignificação epistemológica do conhecimento, que desconstrua o pressuposto moderno colonial da “universalidade” das “ciências” e considere as complexidades e as ambivalências produzidas no encontro entre os diferentes saberes e culturas.Palavras-chave: Interculturalidade. Decolonialidade. Indígenas.
This study argues that western societies have to learn from the cosmological vision of first peoples. In the Brazilian context, despite the genocide of these peoples, there still remains a rich variety of cultures, keeping their traditions and lifestyles based on the concept of buen vivir, in Spanish, or Tekó Porã as the Guarani people say. From a decolonial intercultural approach, we can learn a sustainable way of life from indigenous peoples, and create relevant policies and educational frameworks. Principles of buen vivir such as cooperation and reciprocity are incorporated by Paulo Freire in his dialogic pedagogy. Freire has incorporated these principles due to his engagement with social and communitarian movements. For this reason, his pedagogical proposal is not limited to school contexts only; it is rather linked to community and social praxis. This political transformation of educational praxis involves changes in the modern-colonial matrix of power and knowledge. Deconstructing racism and the myth of universality is necessary for recognizing epistemic rationalities developed by indigenous communities, in order for us to establish with them critical dialogue and mutually enriching interaction. In this sense, the newly introduced term neologism ‘conversity’ indicates intercultural dialogue resulting from the recognition of indigenous peoples and social movements as producers of legitimate knowledge and autonomous organisation.
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