Resumo.A presente pesquisa busca utilizar alguns instrumentos metodológicos da área de Análise do Discurso para refletir sobre aspectos relacionados à Natureza da Ciência presentes em textos jornalísticos. Para isso, elegemos como principal referência metodológica a análise polifônica de Ducrot e analisamos artigos de divulgação científica que abordavam a detecção do Bóson de Higgs e cujo discurso foi produzido a partir de uma imagem ingênua do desenvolvimento científico. A partir da análise foi possível identificar que, de maneira subentendida, há uma imagem de ciência como um desvelar da realidade, como um empreendimento que alcança gradativamente as verdades da natureza. Apontamos que tais concepções relacionadas à Natureza da Ciência produzidas fora do ambiente escolar têm influência sobre os estudantes na produção de seus discursos sobre a Natureza da Ciência e, portanto, a análise dos discursos produzidos pelos jornalistas deve estar presente nas aulas de ciências. Elas permitem que os estudantes lidem, de maneira crítica, com uma possível tensão entre os discursos sobre ciência dentro e fora da escola. Abstract. In this work we present some methodological tools in the area of discourse analysis to discuss some aspects related to the Nature of Science. We use as the primary methodological reference the polyphonic analysis, by Ducrot. A popular science text about the detection of Higgs Boson, whose speech was produced from a naive picture of scientific development has been analyzed in this work. From this analysis we found that, in a subliminal manner, there was an image of science as an enterprise of unveiling of reality, as a venture that gradually reaches the truths of nature. We point out that such conceptions related to Nature of Science produced outside the school environment have an influence on students in their discourses of Nature of Science and, therefore, the analysis of the discourses of journalists texts must be present in science classes in order to prepare students to deal critically, with possible tensions between discourses of science inside and outside school. Palavras-chave: análise do discurso, natureza da ciência, texto jornalístico Keywords: discourse analysis, nature of science, journalistic text Introdução É consenso entre os pesquisadores em ensino de ciências que além de ensinarmos teorias, modelos e conceitos científicos devemos, também, ensinar aspectos relacionados à produção deste conhecimento. Isto é, para além de ensinar as ciências, ensinar sobre ciências, o que passou a ser conhecido na literatura como Natureza da Ciência (NdC) (LEDERMAN, 2007;MATTHEWS, 2012). A preocupação com uma educação científica voltada à NdC se torna um elemento fundamental quando se verifica que imagens sobre a ciência são transmitidas pelas práticas educacionais mesmo quando os professores não planejam isso. Em outras palavras, mesmo quando estamos ensinando ciências, e não sobre ela, carregamos em nosso discurso uma visão sobre o 1 Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada e publicada ...
Neste trabalho vamos discutir e apresentar dados de pesquisa sobre um evento de divulgação científica mundial desenvolvido pelos pesquisadores do laboratório CERN que tem como público alvo estudantes do ensino médio. Baseados nos pressupostos da alfabetização científico-tecnológica (ACT) e na procura pelo engajamento dos alunos em temas da física contemporânea discutiremos o papel das atividades do Masterclasses - Hands on na formação de jovens estudantes. Inicialmente iremos apontar as reformulações em relação às atividades do CERN que o evento ocorrido no Instituto de Física da USP propôs a fim de o aproximar do contexto educacional dos participantes. Em um segundo momento, buscaremos discutir elementos que emergem da fala dos estudantes em relação aos sentidos atribuídos à ciência quando os alunos participam de um evento de divulgação científica como apresentado aqui. Os resultados apontam que a interação e os debates com os cientistas proporcionaram reflexões que apresentam perspectivas da ACT e que indicam potencialidades para conduzir futuras atividades no evento.
1 Political-Curricular Reflections on the Importance of the History of Science in the Modernity Crisis Context 2 A partir dos anos 90 a discussão sobre o papel da história das ciências no ensino passou a se confundir com os debates sobre natureza da ciência. Estes últimos defendem que a questão "o que é ciência?" deve ser tratada como um conteúdo específico nos currículos, em especial com o objetivo de fazer com que estudantes superem concepções ingênuas sobre as ciências. Busca-se, então, o estabelecimento de matrizes de referência que delimitem as visões de ciência que devem ser ensinadas. Esta é uma perspectiva curricular que implicitamente adota a lógica das avaliações em larga escala (Noronha, 2018). Aqui defendemos um papel educacional mais diverso para a história da ciência.
A constante cosmológica de Einstein, introduzida por ele como uma estratégia para manter seu modelo de universo estático, tem sido divulgada como um dos maiores erros de sua carreira. Em 1922, Einstein avaliou o artigo enviado por Friedmann para um periódico alemão, mostrando que existe uma solução das equações de campo da relatividade geral em que o tamanho do universo aumenta com o tempo. Einstein considerou que Friedmann teria cometido um erro nos cálculos, mas após discutir a questão com um colega de Friedmann, reconheceu seu engano, declarando que a proposta do universo em expansão seria matematicamente possível. Contudo, acreditava que essa ideia dificilmente teria algum sentido físico. Este episódio histórico foi adaptado para o contexto do ensino de Física do ensino médio através da criação de um jogo didático. Neste artigo, analisamos argumentos envolvendo a oposição entre Einstein e Friedmann e as concepções dos alunos sobre o papel dos erros na ciência. Houve um equilíbrio entre o número de alunos que apoiou Einstein ou Friedmann. Muitos dos fãs de Einstein tinham uma admiração ingênua, acreditando que alguém tão inteligente como ele não poderia cometer erros. Por outro lado, os fãs de Friedmann valorizaram sua atitude crítica, desafiando a autoridade de um cientista renomado. Os alunos discutiram se o fato de que Einstein tenha admitido seu próprio erro deveria ou não ser valorizado. Com isso, notamos argumentos interessantes dos alunos sobre o papel dos erros na ciência, que motivaram a problematização do mito dos grandes gênios que nunca erram e cuja autoridade não deve ser questionada.
A importância do estudo de episódios da história da ciência como forma de ensinar não só conteúdos científicos, mas também discutir sobre a chamada “natureza da ciência” têm sido amplamente defendidas por pesquisadores do ensino de ciências há muito tempo. Porém, na medida em que se reconhece haver questões controversas sobre a natureza da ciência, é natural que também haja divergências no modo como educadores, cientistas, historiadores, filósofos e sociólogos pensam ser a visão adequada sobre a ciência a ser apresentada às gerações futuras. Na chamada “Guerra das Ciências”, cientistas naturais se opuseram ao questionamento da autoridade da ciência em estudos realizados nas áreas da história, da filosofia e principalmente da sociologia das ciências. Apresentamos uma revisão de debates envolvendo controvérsias sobre a natureza da ciência na educação básica, com foco nas críticas à chamada “visão consensual”, que busca eliminar controvérsias construindo consensos. Defendemos que, ao invés de evitar aspectos controversos na educação básica, uma abordagem filosófica pluralista é mais adequada para formar cidadãos críticos. Para ilustrar como esta postura pode ser levada para a educação básica, apresentamos um jogo didático elaborado por um grupo de pesquisadores do ensino de física e professores do ensino médio, que tem como objetivo fazer uso de episódios da história da cosmologia para estimular debates sobre o valor atribuído pelos alunos à ciência, dando espaço para a discussão de questões prescritivas, não só sobre o que a ciência tem sido, mas sobre o que ela pode, poderia ou deveria ser.
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