O presente artigo tem como objeto a formação do professor universitário. Volta-se para a elucidação das seguintes questões: a) os avanços para a compreensão da natureza do percurso a ser trilhado para que se instale, no professor universitário em formação, um desejo que encontre seu norte no ato de ensinar que são possíveis de se levar em consideração, ao tomar em consideração a psicanálise lacaniana; e b) a configuração dos pontos de virada por meio dos quais um sujeito em formação vem a construir um lugar singular de onde possa criar um trabalho próprio de professor universitário. Postula a necessidade do ultrapassamento do que estamos chamando de pontos de virada para que aquele que está em um percurso de formação, para se tornar professor universitário, possa vir a criar um espaço próprio para o exercício da docência, fundando, portanto, a possibilidade da re-invenção de um si próprio. Para tal fim, estamos recorrendo ao conceito de identificação - tal qual é visto na psicanálise de orientação lacaniana - para elucidar a experiência decorrida no âmbito do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE), ao longo de 2005, em duas disciplinas (cujos alunos são prioritariamente oriundos da graduação em Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP), que têm a carga horária de 120 horas cada uma (60 em sala de aula e 60 de estágio supervisionado).
Escrito na articulação entre Lingüística, Psicanálise e Educação, o objeto do trabalho é o agenciamento da singularidade em textos escritos na escola. Demonstraram-se quatro modalizações deste agenciamento: (1) Sujeito esmagado pelos restos metonímicos do discurso do Outro; (2) Sujeito limitado a testemunhar sua alienação ao Outro cultural; (3) Sujeito que agencia as demandas da cultura escolar e uma ética própria; e (4) Subjetividade agenciada em tal grau que permite a construção de metáforas criativas. Para concluir, postulou-se que, na direção de uma escrita criativa, quem ensina a escrever precisa funcionar como uma " prótese" , suprindo funções ausentes no início do percurso.
RESUMO:O presente estudo toma as observações de um orientador de mestrado em uma área das ciências humanas que foram encontradas em rascunhos produzidos por duas informantes ao longo de 36 meses de trabalho como objeto de análise. Seu objetivo principal é estudar como a ação de ensinar a escrever o texto acadêmico se configura. Para tal fim, partilhamos a hipótese de trabalho de Pommier (1993), segundo a qual os modos pelos quais alguém aprende a escrever atualizam, de forma metafórica, os caminhos por meio dos quais sua subjetivação se deu. Tendo a psicanálise de orientação lacaniana como campo em que trabalhamos, inserimo-nos na continuidade dos trabalhos que vêm defendendo a possibilidade do agenciamento da singularidade de quem escreve em direção a uma universidade produtiva. A partir da análise dos dados, foi possível depreender cinco diferentes funções exercidas pelo orientador para ensinar suas alunas a escrever um texto acadêmico, a saber: 1) diretor de trabalhos, 2) leitor, 3) coautor, 4) revisor e 5) agente do real. Dessa forma, pudemos ratificar a alegada dificuldade para orientar um trabalho. Pudemos, também, ter uma visão mais detalhada da complexidade de escrever um texto acadêmico. Palavras-chave: ensino da escrita; formação de pesquisadores; psicanálise.ABSTRACT: This article focuses on the remarks of an academic advisor of humanity students that have been found in drafts produced by two young women along 36 months. Its main objective is to study how the action of teaching how to write the academic text takes along. To do so, we use Pommier's hypothesis (1993), to whom the manners adopted by someone as he/she learns how to write follow, metaphorically, the ways by which his/her subjectivation has happened. We work in the field of lacanian psychoanalysis, following those works that defend that it is necessary to administrate the singularity of the one who writes academic papers in order to construct a productive university. After data analysis, it was possible to verify that the academic advisor had to adopt five different functions to teach his students how to write academic texts: 1) advisor, 2) reader, 3) co-author, 4) reviser, and 5) agent of the real. Thus, we could confirm the so said difficulty of supervising writing works, and we also could have a more detailed understanding of the academic writing complexity.
Visando a elucidar em que medida o aluno aprende a escrever uma dissertação na aula de língua portuguesa no ensino médio, analisamos 2.434 horas de aula previamente registradas em diário de campo e que foram ministradas de 2006 a 2008 em 61 escolas públicas na capital de São Paulo. A análise dos dados mostrou que a literatura foi o conteúdo privilegiado em metade das aulas, e a gramática, em um quarto delas. Apenas 15% do tempo foi utilizado para ensinar a escrever, preferencialmente o texto não dissertativo. Assim, a pesquisa constatou que o ensino da escrita do texto dissertativo vem sendo negligenciado. Apenas 6% do tempo das aulas de língua portuguesa foi dedicado à exposição das características desse tipo de texto, seguida da demanda de produção escrita. Os momentos dedicados à correção coletiva e à reescrita foram praticamente inexistentes e aqueles dedicados a fazer uma reflexão prévia à prática da escrita, raríssimos. Frente às repetidas denúncias dos graves problemas de escrita que se encontram nos textos dos egressos do ensino médio, incapazes de vencer as barreiras dos vestibulares das universidades públicas, fica um alerta para os formadores de professores e para os pesquisadores que se dedicam ao ensino da escrita.
Resumo: Por meio da análise de textos jornalísticos, investigamos as representações de escrever que são construídas por periódicos. O foco foram os recursos mobilizados pelas mídias para responder à necessidade de atingir um público leitor cuja formação já não se pauta por um trabalho mais rigoroso de estudo da linguagem. Um modo de escrever fundado prioritariamente na mediação pela imagem prevaleceu. Mostramos, então, três representações de escrever: 1) pintar uma cena; 2) beneficiar-se dos recursos tecnológicos para aproximar os protagonistas do leitor; e 3) substituir o que não pode ou não deve ser dito por imagens de ressonância positiva ou negativa.
Frente à mercantilização da educação, experimentamos uma epidemia cujo sintoma é a perda de coragem dos professores. Essa se origina na dificuldade de suportar a angústia gerada pela distância entre o aluno empírico e o do passado mítico, que se interessava espontaneamente pelo conhecimento articulado. Seu resultado é a impossibilidade, por parte das novas gerações, de criar com ele uma relação que transcenda o mero uso pragmático. Ao privilegiar o real, a segunda clínica de Lacan permite fundar saídas não moralistas para este impasse e compreender que, além das que já estão prontas na cultura, soluções singulares e criativas são necessárias.
A partir de um levantamento de dificuldades que concluintes da licenciatura em Letras mostram ao escrever, buscamos parâmetros para que, em relatos de prática, os autores descrevam uma aula, fazendo com que essa descrição funcione como dado de sua pesquisa. Por meio da análise de 1600 relatos de prática, produzidos entre 2003 e 2013, buscamos responder à pergunta: que desafios precisam ser ultrapassados pelos estudantes de letras de modo que seu texto expresse a constituição, ao longo do curso, de um olhar profissional frente: a) à aula de Língua Portuguesa, enquanto evento de linguagem; e b) à sua própria escrita? A análise dos dados incidiu sobre três grandes temáticas: 1) como o estagiário percebe a própria tarefa de escrever diários; 2) como o estagiário registra as falas de outras pessoas; e 3) como o estagiário constrói referências temporais. Para funcionar como dado de sua pesquisa, o texto deve permitir que se leia as especificidades do observado. O curso de licenciatura precisa levar o aluno a construir a capacidade de escrever bem sem perder sua condição de falante, a partir da qual ele pode se reler e se perguntar se, enquanto falante da língua materna, aceitaria seu próprio texto.
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