Resumo: O objetivo deste trabalho é contribuir para uma expansão do corpus das primeiras teorizações sobre tradução por meio da apresentação e análise do texto "Da maneira pera bem tornar algũa leitura em nossa linguagem", de autoria de D. Duarte, rei de Portugal (1433-1438). Nos parágrafos iniciais do texto, que integra sua obra Leal conselheiro, escrita entre 1435 e 1438, D. Duarte formula cinco regras para se fazer uma boa tradução para o português e em seguida elabora comentários sobre dois exemplos de traduções realizadas por ele: uma oração em latim do século X e um fragmento de capítulo de livro. Pretende-se, assim, chamar a atenção dos historiadores da tradução para as reflexões produzidas em línguas e culturas não hegemônicas, mesmo que europeias, como é o caso de Portugal, que não costumam ser incluídas nas antologias que contemplam essas primeiras teorizações. Palavras-chave: teorias de tradução, D. Duarte I de Portugal, língua portuguesa, Renascimento.
A proposta deste artigo é analisar alguns paratextos de tradutores shakespearianos para conhecer ou depreender os critérios e estratégias que nortearam suas escolhas, assim como as crenças explícitas ou implícitas sobre a tradução que subjazem a sua prática. Após algumas considerações sobre o conceito de paratexto, será examinado um corpus de 14 textos no qual tradutores de obras shakespearianas elaboram reflexões sobre a práxis tradutória.
Este artigo esboça uma metodologia para avaliar a produção de aprendizes de tradução baseada na teoria das inteligências múltiplas proposta por Howard Gardner em 1983 e posteriomente expandida. Essa metodologia se fundamenta em dois princípios básicos: (i) diversidade de formas de avaliação, ao oferecer aos aprendizes a oportunidade de receber uma avaliação do seu desempenho que considere os tipos de inteligência que mais se sobressaem individualmente, e (ii) interação e negociação não só entre professores e aprendizes mas também entre estes, de modo a permitir o debate em torno de diferentes construções de sentido e soluções tradutórias. A presente proposta está sendo testada em turmas do Bacharelado em Letras - Tradução da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil - e os primeiros resultados parecem confirmar sua capacidade de ajudar a explorar e avaliar as diferentes potencialidades intelectuais dos aprendizes.
<span>Segundo especialistas da área da educação, a avaliação constitui tema ao mesmo tempo polêmico e relevante, consideradas suas implicações pedagógicas, psicológicas e sócioeconômicas. Observa-se, entre professores, a tendência a realizarem, sem maior reflexão, práticas avaliatórias de natureza objetivizante na busca de uma avaliação exata e justa. Neste trabalho, faremos a crítica a esse paradigma, ao lado da qual apresentaremos algumas alternativas envolvendo interaçãoe negociação, processos que levam em conta os sujeitos e as circunstâncias implicadas na produção dos trabalhos avaliados.</span>
O objetivo deste artigo e, em um primeiro momento, fazer uma breve revisão das principais contribuições do modelo teórico dos Descriptive Translation Studies (DTS), desenvolvido em meados dos anos 70 por um grupo de estudiosos de Israel e dos Países Baixos preocupados com a estudo da literatura traduzida, para em seguida apontar alguns problemas e lacunas teóricas que não parecem ter sido satisfatoriamente resolvidos em posteriores refinamentos da teoria. A abordagem descritivista fundamenta-se nos seguintes pressupostos: (i) uma visão da literatura como um sistema dinâmico e complexo; (ii) a convicção de que deve haver uma interação permanente entre modelos teóricos e estudos de caso; (iii) uma abordagem da tradução literária de caráter descritivo (portanto, não normativa) e voltada para a texto-alvo, além de funcional e sistêmica; e (iv) um interesse pelas normas e coerções que governam a produção e a recepção de traduções, pela relação entre a tradução e outros tipos de reescritura e pelo lugar e função da literatura traduzida tanto num determinado sistema literário quanto na interação entre literaturas. Nos últimos vinte e cinco anos, a abordagem descritivista vem informando inúmeros estudos sabre o sistema de literatura traduzida de inúmeras culturas, principalmente europeias, mas ainda apresenta alguns problemas que precisam ser melhor trabalhados no âmbito da teoria. Entre estes, destacamos a risco de incorrer num “descritivismo” puro e simples, desprovido de uma elaboração crítica, e a relativa despreocupação em explicitar os fundamentos epistemológicos da teoria e em (re)definir conceitos importantes.
O foco deste trabalho é uma produção de 2014 do Rei Lear de Shakespeare, traduzida e adaptada por Geraldo Carneiro, dirigida por Elias Andreato e protagonizada por Juca de Oliveira, que sozinho no palco dá vida a seis personagens. O ator assume a voz de um narrador e também incorpora os diferentes personagens, enunciando suas falas e, muitas vezes, estabelecendo um diálogo entre eles. Serão objeto de análise as principais características do texto dessa montagem, a saber: (i) o enxugamento da ação, com o corte da subtrama envolvendo o duque de Gloucester e seus dois filhos, Edmund e Edgar, e um final antecipado, que encerra a peça com o reencontro entre Lear e Cordelia, sem chegar ao desfecho trágico da morte de ambos; (ii) o emprego do recurso da narração, situando Lear, narrador-protagonista, em um momento cronológico à frente dos fatos que ocorreram; (iii) o emprego do recurso do diálogo entre Lear e os outros cinco personagens da trama, em que o ator vive os diferentes papéis e “encena” as interações; (iv) o emprego de uma combinação de prosa, versos brancos e versos rimados nas falas, seguindo o padrão da poesia dramática shakespeariana; e (v) a presença de interpolações de fragmentos de outras obras de Shakespeare. Aspectos ligados diretamente à montagem, tais como cenário e figurino, também serão examinados.
The Vegetable, or From President to Postman e Scandalabra: a Farse Fantasy in a Prologue and Three Acts ainda hoje habitam o cânone dos Fitzgerald como obras de qualidade duvidosa devido ao fracasso de suas primeiras encenações – opinião esta que reflete a tendência de muitos pesquisadores em analisarem as duas peças de acordo com a tradição do teatro realista. Essa visão, no entanto, ignora por completo as expectativas do público da época, as tendências em voga no teatro que era produzido e encenado e, talvez ainda mais importante, o movimento de escrita modernista que mesclava convenções dramáticas e escrita em prosa para formular peças de natureza híbrida, os closet dramas. Este estudo analisa os dois textos dramáticos de acordo com a proposição do closet drama modernista para avaliar as rubricas criadas pelos autores enquanto um espaço de experimentação da escrita em prosa, buscando para isso paralelos com outras obras dramáticas que, escritas entre os anos 1920 e 1930, também flexibilizaram o espaço das rubricas.
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