Embora o estudo da variação linguística em traduções literárias tenha estimulado um debate notável nos Estudos da Tradução nas últimas décadas, pouca reflexão tem sido desenvolvida em torno da (in)existência de uma relação entre o emprego de “marcas de oralidade” e traduções de obras da chamada “alta literatura” e de best-sellers de ficção. Seria possível observar algum contraste relevante, quanto às “marcas de oralidade”, entre obras de ficção às quais se atribuem, em princípio, objetivos mercadológicos distintos? Para responder a essa questão, realizou-se uma pesquisa comparativa com o objetivo de quantificar as ocorrências de marcas de oralidade, tais como as delineadas por Britto (2012), em uma tradução associada à “alta literatura” (Indignação, de Philip Roth), e em outra caracterizada como um típico best-seller de entretenimento (O Manipulador, de John Grisham).
Este artigo tem como objetivo oferecer uma análise quantitativa de marcas de oralidade em diálogos ficcionais em duas categorias de obras literárias: as associadas à chamada alta literatura e aquelas consideradas como best-sellers de ficção popular. Valendo-se do software AntConc, este estudo investigou a ocorrência de 45 tipos de marcas de oralidade envolvendo a variação linguística diafásica em dois grupos de obras literárias traduzidas para o português brasileiro: quatro obras traduzidas de Ernest Hemingway e outras quatro de Agatha Christie. A pesquisa visa a observar: a) a variedade de marcas de oralidade presentes nessas traduções; b) quais marcas de oralidade não foram empregadas, e c) se houve alguma marca geralmente não recomendada pela tradição gramatical conservadora. Os resultados sugerem certas regularidades e diferenças significativas entre os dois grupos de traduções sob análise, o que possibilitou a proposição de algumas hipóteses explicativas de natureza preliminar.
RESUMO Este artigo propõe-se a discutir as fronteiras entre tradução e adaptação literária, utilizando-se, para isso, das observações feitas a partir da comparação entre uma tradução e duas adaptações da obra A Cabana do Pai Tomás (Uncle Tom's Cabin), de Harriet Beecher Stowe. Levando-se em consideração critérios como a época de publicação de cada reescrita e a ideologia declarada pelas editoras, levantamos trechos problemáticos que exigiam que tradutor ou adaptador apresentassem algum tipo de solução, e com isso demonstramos que os limites entre as duas práticas, apesar do que se poderia esperar, não são tão claros e absolutos. Foram destacados também fragmentos que expunham a imagem construída, em cada reescrita, dos personagens negros e, por extensão, da identidade negra, teorizando se por trás dessas imagens haveria uma relação com o rótulo de tradução ou adaptação, ou se esse constructo estaria mais ligado a outros fatores. O que se observou foi uma relação mais sólida entre identidade e contexto histórico e ideologia do que entre identidade e rótulos, confirmando assim a importância de fatores extratextuais nas reescritas analisadas e a fragilidade da oposição que tradicionalmente separa tradução de adaptação.
A valorização de uma obra literária geralmente se dá com base no reconhecimento de qualidades atribuídas a sua escrita autoral, em um processo gradual de consagração. Os estudos propostos pelas diferentes estéticas literárias oferecem contribuições importantes para compreender como se constroem narrativas e poéticas particulares, em consonância com determinados olhares que a subjetividade autoral lança sobre a formulação de um universo ficcional ou lírico que dialoga com as diferentes facetas da realidade e da imaginação.
RESUMO Este artigo apresenta uma pesquisa sobre marcas de oralidade em um romance de ficção de gênero, A assombração da casa da colina, de Shirley Jackson (traduzido por Débora Landsberg), e em um romance de ficção literária, Não me abandone jamais, de Kazuo Ishiguro (traduzido por Beth Vieira), ambos publicados pelo Grupo Editorial Companhia das Letras. Em consonância com Amorim (2018a, 2018b e 2021a), este trabalho pretendeu avaliar se obras traduzidas, associadas aos best-sellers, como as de ficção de gênero, seriam permeáveis às marcas de oralidade, comparativamente às obras de ficção literária. Realizaram-se um levantamento quantitativo e uma análise qualitativa das marcas de oralidade. Coletaram-se informações sobre a popularidade das obras e sobre o nível de ressonância de seus autores junto ao campo acadêmico. Como o livro de Jackson é publicado por um selo voltado ao público geek, recorremos às informações de uma pesquisa sociológica acerca de seu perfil no Brasil. Os resultados apontaram que: a) ambas as obras detêm um grau elevado de marcas de oralidade; e b) apesar das diferenças, os dois autores desfrutam de elevado capital simbólico, traduzido em prêmios literários e em recepção crítica junto ao campo acadêmico-universitário. As análises sugerem a existência de hierarquias governando os graus de consagração/reverberação acadêmica quanto à diferenciação de obras e autores, mesmo no subcampo da ficção de gênero, e que leitores com diferentes níveis de capital cultural/escolar poderiam, talvez, exercer alguma influência no modo como que tradutores/editores projetam a representação da variação linguística nas traduções a serem publicadas.
Este artigo traz resultados de uma pesquisa envolvendo um estudo sobre normas linguísticas híbridas em artigos jornalísticos do New York Times, traduzidos, para o português, e veiculados no site UOL. Segundo Faraco (2008) e Bagno (2012), há uma diferença entre a norma padrão e a norma culta, sendo a primeira aquela que reúne regras que prescrevem formas linguísticas a serem seguidas de acordo com um modelo idealizado de língua, mas difícil de ser seguido pela maioria dos usuários; e a segunda, aquela que reúne o conjunto de formas linguísticas que são, de fato, empregadas por muitos escreventes, sendo, portanto, mais acessíveis intuitivamente, embora não aceitas pela tradição gramatical conservadora representada pela norma padrão, comumente divulgada em compêndios gramaticais e manuais de estilo. Pretende-se avaliar se seria possível afirmar que textos jornalísticos traduzidos do inglês, semelhante ao que já comprovadamente ocorre com textos jornalísticos originalmente escritos em português, são igualmente permeáveis a formas linguísticas não abonadas pela norma padrão.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.