O artigo discute as representações sociais de mulheres em união heterossexual estável no que diz respeito à vulnerabilidade à infecção pelo HIV/AIDS. Os dados foram produzidos pela associação livre de palavras e constituem recorte de uma pesquisa fundamentada na Teoria das Representações Sociais desenvolvida com mulheres soronegativas para o HIV, da capital e interior da Bahia. A análise fatorial de correspondência revelou significância para as variáveis: procedência, escolaridade e tempo de união estável. A aceitação à traição emergiu como fator de vulnerabilidade para respondentes com 1-5 anos de união estável do interior. Mulheres da capital com 6-10 anos de união estável representam a monogamia como forma de prevenção. Mulheres com maior tempo de união e nível escolar básico representam-se como invulneráveis, contrárias as que têm 1-5 anos de união e escolaridade mediana. Os resultados indicam a necessidade de mais ações com o objetivo de desnaturalizar as coerções sócio-culturais que geram representações e aproximam mulheres em união estável da AIDS.
OBJETIVO: conhecer e descrever as vivências de familiares de crianças e adolescentes com fibrose cística. MÉTODO: estudo qualitativo que apresenta as vivências das famílias ao cuidar da criança e do adolescente com diagnóstico de fibrose cística. Foi realizado no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira, em Pernambuco, no período de janeiro a maio de 2006, sendo a coleta de dados feita através de questionário para caracterização do cuidador, entrevistas gravadas e aplicação do teste de associação livre de palavras. Foram entrevistados 13 familiares. As falas foram transcritas na íntegra e submetidas à análise de conteúdo, modalidade temática. RESULTADOS: dos dados emergiram quatro temas: o diagnóstico e o impacto da doença, alteração do cotidiano familiar, perseverança e esperança na divulgação da doença e cura apoiada pela crença e fé. As palavras obtidas no teste de associação estiveram de acordo com as vivências obtidas na análise dos temas (cura, esperança, tristeza, cansaço, medo...), Desta maneira, os familiares necessitam ser mais ouvidos e valorizados, facilitando assim o diagnóstico e evitando peregrinações aos serviços de saúde. São marcantes as alterações do cotidiano dessas famílias, bem como os casos de desestruturação dentro da família e no convívio social. A esperança de cura baseada em uma força maior ficou evidente em todo o estudo, assim como na ciência e divulgação da doença. A participação da família no cuidado desses pacientes é de fundamental importância, sendo necessária a sensibilização dos profissionais de saúde, o que poderá favorecer o diagnóstico e o tratamento interferindo positivamente no enfrentamento da doença por essas famílias.
O objetivo principal deste artigo é dar uma contribuição teórica psicossocial ao trabalho terapêutico em rede social, recomendado para os serviços comunitários, no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Considera-se que a porta de entrada desses serviços no SUS (Sistema Unificado de Saúde) seria o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em saúde mental e o PSF (Programa de Saúde da Família) em saúde geral. O trabalho terapêutico em rede social, nessa primeira micro-organização territorial, funcionaria no interior de uma rede articulada e solidária de unidades sanitárias e inserido em políticas públicas de não abandono ao usuário. Estuda-se principalmente o processo de desconstrução das redes de instituições totais em saúde mental, no circuito hospitalocêntrico, e a construção de um novo sistema de saúde mental que funcione numa dinâmica institucional autopoiética. Essa situação facilitaria então as mediações dialógicas nas relações terapêuticas e entre os diversos atendimentos, com conexões intra e inter institucionais, como também contribuiria para a inserção social do usuário. Em conseqüência, a psicoterapia praticada no CAPS incluiria tanto a possibilidade de variações no enquadre, quanto às intervenções na rede pessoal significativa do usuário, quando necessárias. Conclui-se que estaria havendo, em muitos casos, decalagem entre a teorização proposta e a prática instituída no SUS. Recomenda-se que nas práticas técnico-profissionais e nas políticas públicas sejam tomadas medidas concretas que possam superar esta situação no sentido de melhor qualificar os atendimentos em saúde mental.
Este estudo buscou analisar as representações de adolescentes grávidas sobre a gravidez na adolescência, com base na Teoria das Representações Sociais. A amostra foi constituída por 223 adolescentes grávidas do primeiro filho, com faixa etária de 15 a 20 anos. Como instrumentos, foram utilizados o Teste de Associação Livre de Palavras processados pelo software Tri-Deux-Mots para análise fatorial de correspondência e entrevista semiestruturada que foram submetidas à análise de conteúdo temática. Os resultados da Análise Fatorial de Correspondência evidenciaram oposições representacionais relativas à gravidez na adolescência, conforme a idade e o estado civil. Pode-se concluir que as representações sociais das adolescentes grávidas encontram-se edificadas sobre elementos ambivalentes, incluindo, por um lado, o desejo que as impulsiona à prática sexual e à gravidez e, por outro lado, a angústia decorrente do medo das perdas afetivas e psicossociais ocasionadas pela gravidez.
Com o objetivo de analisar as experiências afetivas relativas ao amor e ao sofrimento psíquico entre jovens de 18 a 30 anos e adultos entre 31 e 70 anos, com e sem experiência de vida conjugal compartilhada, realizamos a presente pesquisa com uma população de cem sujeitos residentes na cidade do Recife, PE. Utilizamos o multimétodo (qualitativo e quantitativo) e através da Análise Fatorial de Correspondência interpretamos os dados; com relação aos dados qualitativos, foram realizadas análises de acordo com as categorias constituídas. Os resultados, confirmando as hipóteses, revelaram uma diferenciação quanto ao conteúdo representacional conforme as variáveis: grupo etário, inserção social e compartilhamento ou não de vida em comum. A estrutura da representação é similar em todos os grupos. Concluímos que existe uma representação conservadora e metafísica do amor para todos os grupos, destituída de significações ou conotações associadas ao romantismo, sendo que o sofrimento, embora representado por todos os sujeitos como uma experiência de dor e de perda, revela-se diferenciado e determinado pelas variáveis (idade, vida conjugal etc.) dos sujeitos.
Objetiva-se relatar a experiência da utilização do Manuseio com Massa de Modelar, enquanto técnica projetiva, como estratégia de coleta de dados na pesquisa qualitativa em saúde e enfermagem. Para tal, traz-se a vivência de uma pesquisa, fundamentada na Teoria das Representações Sociais, realizada em Salvador, Bahia, Brasil, com 30 mulheres. A técnica consistiu em oferecer massa de modelar às mulheres que, no seu manuseio, trouxe o significado do contágio do leite materno por vírus, relatando-o verbalmente. Os resultados mostraram que as mulheres expressaram sensações não só tácteis, mas, também, visuais e emocionais, materializadas nas modelagens, apresentando o significado imerso em seu imaginário. A técnica possibilitou expressão da criatividade e sensibilidade, pois através da arte de modelar, as mulheres evidenciaram conteúdos afetivos latentes, tendo se mostrado, enquanto técnica projetiva, como uma estratégia sensível, afetiva e efetiva, de coleta de dados para a pesquisa qualitativa na área da saúde e da enfermagem.
Esta pesquisa visa analisar as representações que os "meninos de rua" elaboram sobre si mesmos confrontadas às representações que estudantes universitários em formação profissional em ciências sociais, constroem sobre os "meninos de rua". Utilizamos o multimétodo, qualitativo e quantitativo, para coleta e análise de dados. Aplicamos o teste de associação livre a uma amostra de 178 sujeitos, organizados em dois grupos ("meninos de rua" e estudantes universitários) distintos por sexo e idade. Os dados coletados foram processados através do soft Tri-Deux Mots, e foi realizada a análise fatorial de correspondência entre os dois grupos sobre um total de 2.535 palavras. A metodologia consta também de entrevistas em profundidade e semi-estruturadas realizadas com sujeitos de ambos os grupos. Os resultados revelam uma oposição representacional quanto ao conteúdo e à estrutura entre os "meninos de rua" e os estudantes universitários. No que concerne à estrutura da representação, graficamente fica revelado que ambos os grupos se colocam em posições de distanciamento com relação ao "menino de rua". Quanto ao conteúdo, os estudantes universitários constroem uma representação política e psicossocial a respeito do "menino de rua". No que concerne aos "meninos de rua" que entrevistamos, existe uma nítida diferenciação entre a identidade que eles constroem de si mesmos e a representação que elaboram a respeito dos "meninos de rua". É atribuída a esses últimos uma ação de criminalidade e marginalidade. Os resultados evidenciam a tese de que "a necessidade de se diferenciar da minoria, para não ser assimilado a ela, é tanto mais necessária quanto mais se sente próximo a ela". Assim são representados os "meninos de rua" por eles próprios, com fortes tonalidades de violência e criminalidade vivenciadas no cotidiano, seja pela negligência governamental no incremento de políticas sociais, como representam os estudantes universitários, seja pela tênue separação entre a vida e a morte vivenciada pelo "menino de rua" que tenta driblar a possibilidade letal, deslizando como equilibrista sobre o fio da navalha cortante do seu cotidiano.
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