V islumbrada desde pronto como singular em relação a outras, a sociedade brasileira é amplamente assumida como um objeto de investigação privilegiado, merecedor de esforços explicativos e interpretativos específicos; não raro, num movimento quase imediato, ela se vê alçada da condição de unidade de análise ao status de categoria analítica. Com efeito, a tese da singularidade brasileira revela-se a ideiaforça mais poderosa e penetrante de nosso pensamento social. Mesmo uma breve apreciação é facilmente capaz de revelar sua força percuciente e sua notável presença em diferentes momentos e seções desse universo intelectual: como nenhuma outra, ela tem logrado circunscrever e orientar a agenda de reflexão, pesquisa e elucubração acerca da experiência social brasileira. Conquanto se reconheça as irredutíveis http://dx
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15n34p196Tempo e espaço são duas categorias fundamentais no programa intelectual de Gilberto Freyre.Sem perder de vista sua produção mais conhecida e celebrada voltada à compreensão da formação brasileira, o presente artigo almeja identificar os sentidos e conotações que o autor confere a ambas as noções em suas reflexões a respeito do lugar e importância da América Latina no concerto da modernidade. Conforme pretendo mostrar, a seu ver, o tempo-espaço latino-americano não poderia de modo algum ser reduzido ao das chamadas sociedades modernas centrais, seja no plano conceitual, seja em sua dimensão de experiência prática, o que em boa medida ajudaria a explicar formas de sociabilidade marcadamente distintas num e noutro contextos. Por fim, pretendo investigar a existência de eventuais convergências entre essas preocupações de Freyre e algumas abordagens contemporâneas no seio da teoria sociológica.
Este artigo pretende abordar alguns aspectos que perfazem uma certa tese (ou ideia-força) que, a meu ver, atravessa parte expressiva de nosso pensamento social, entrecortando autores, perspectivas e, no limite, "famílias intelectuais" (Brandão, 2007) as mais diversas 1 : a tese da "singularidade brasileira". Visitarei essa ideia-força por meio da consideração crítica de uma questão que habita as reflexões de uma "linhagem" do pensamento social brasileiro -aquela que, no meu entendimento, tem Gilberto Freyre como uma de suas figuras-chave. São muitos os temas que têm atraído atenção 1 Gildo Marçal Brandão entende serem famílias intelectuais "'estilos' determinados, formas de pensar extraordinariamente persistentes no tempo, modos intelectuais de se relacionar com a realidade que subsumem até mesmo os mais lídimos produtos da ciência institucionalizada, estabelecendo problemáticas e continuidades" (Brandão, 2007, p. 29). Conforme salientei há pouco, entendo que a "tese da singularidade brasileira" entrecorta famílias intelectuais diversas no seio do pensamento social brasileiro, a despeito de suas irredutíveis especificidades. * Uma primeira versão deste artigo foi apresentada no 34º Encontro Anual da Anpocs (Caxambu-MG, 2010). Beneficiei-me sobremaneira de considerações crí-ticas que lhe foram dirigidas. Quero agradecer primeiramente Milton Lahuerta e Eurico Cursino dos Santos, por acolherem a proposta. Um agradecimento especial a Elide Rugai Bastos pelos valiosos comentários e críticas. Procurei contemplar muitas das sugestões e críticas a minha proposta interpretativa.
O presente artigo coloca-se como tarefa investigar os vínculos discursivos que se estabelecem em nossa sociologia da inautenticidade entre, de um lado, o lugar da natureza na sociabilidade brasileira contemporânea e, de outro, o problema do status da modernidade no Brasil. Interessa ao autor responder às seguintes questões: 1) de que maneira as relações entre modernidade no Brasil e mundo natural configuram-se, implícita e explicitamente, na abordagem do pensamento social brasileiro que tem em Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Faoro e DaMatta as suas figuras centrais?; e 2) quais as implicações teóricas desses vínculos para os diagnósticos traçados a respeito do status da modernidade no Brasil contemporâneo?
This article intends to unveil some of the main theoretical backgrounds and current tendencies of environmental sociology in Brazil. But we are mainly interested in providing a historical reconstruction of the societal internalization of environmental concerns in Brazil, on both state and civic levels, with an emphasis on the transformations that took place over the 1970-1990s period. We argue that environmental civil associations do not find either a legal idiom or public forums by means of which they could turn their demands and moral concerns into a binding juridical code. This is so because, on the one hand, their moral concerns, even when based on de-traditionalized and abstract principles, are not paralleled with an autonomous legal framework, strong enough to set limits to the functioning of both the political-administrative apparatus as well as to economic actors. As we contend, this helps to explain why the environmental legislation in Brazil is rhetorically manipulated on a regular basis-and, hence, set aside whenever it contradicts other priorities. On the other hand, environmental concerns have always met with difficulties to become a priority in the Brazilian polity. Ultimately, our main goal is to carry out a critical consideration of the theoretical links that are widely set in the field of sociological theory between environmental concerns and modernity. Key words Environmentalism in Brazil . Modernity in Brazil . Brazilian politicsBrazil is not only known worldwide for its unique biodiversity. It is also notorious for the destruction of what many see as a global patrimony, namely the rain forest in the Amazon Int
Resumo: O presente artigo almeja apurar no seio do pensamento social brasileiro a existência de elementos que indiquem alternativas a noções sociológicas consolidadas acerca da modernidade. Indaga-se sobre as premissas que subjazem imagens do Brasil talhadas em algumas obras ditas "clássicas" de interpretação de nossa formação social. Em seguida, busca-se identificar peças-chave do quadro de referência que, desde longa data, circunscreve os horizontes de ideação sociológica acerca da experiência moderna. Logo após, são contempladas as reflexões de analistas contemporâneos a respeito do valor heurístico de retratos do país delineados no seio do pensamento brasileiro. Por fim, à luz de programas e abordagens da teoria social contemporânea, lança-se mão de insights e sugestões ensaiadas em tais interpretações "clássicas" com o propósito de indicar saídas a alguns dos impasses e limites da sociologia da modernidade sublinhados na atualidade. Palavras-chave:Modernidade. Pensamento social brasileiro. Teoria sociológica.Abstract: While interested in non-standard experiences of modernity this article delves into "classic" oeuvres of the so-called Brazilian social thought as it searches for alternative concepts, categories and perspectives on modern sociability. It starts with the investigation of the premises that underlie and circumscribe the works of some of the most prestigious interpreters of Brazil. It then sheds lights on key components of the hegemonic frame of reference that informs sociological accounts on modernity up to these days. Finally, in light of contemporary social theory, the article lays out some elements for a counter-hegemonic discourse of modernity.
While dealing with both interdisciplinarity and environment and society area as fields that harbor scientific contentions regarding ideas, practices, institutions and habitus (Bourdieu), this paper aims at providing an account of the multifaceted processes implied in the institutionalization of environmental concerns in Latin-American academia and research centers. The paper discusses the extent to which one can legitimately talk about "a Latin- American scientific specificity", supposedly resulting from peculiar theoretical approaches or even from particular socio-environmental features (such as widespread poverty and high rates of social inequality, along with unparalleled levels of biodiversity). Last but not least, the paper seeks to draw a sort of thematic map (via bibliographical review) as well as a consideration of the levels of scientific institutionalization of environmental issues in six different research centers located in Argentina, Chile, Mexico, Uruguay and Brazil.
ResumoAs questões que orientam o presente artigo são duas: em que medida Freyre coloca-se a tarefa de desconstruir um quadro de referência conceitual percebido como responsável pela perpetuação da imagem de incomensurabilidade entre a experiência societal brasileira e aquela das "sociedades modernas civilizadas"? Qual lugar o ambiente físico tropical ocupa nesse projeto? Examino três hipóteses de trabalho: 1) Há em Freyre uma consciente tentativa de relativizar o protagonismo (epistemológico, normativo e estético-expressivo) exclusivo reivindicado por sociedades tradicionalmente tidas como modelares da modernidade; 2) O trópico foi, desde o princípio de sua obra, uma peça-chave nesse ambicioso projeto intelectual, graças a predicados tomados por singulares, catalisadores de uma experiência social tida por inovadora e irreprodutível pelas sociedades europeias hegemônicas; 3) A ambiciosa intenção freyreana de desestabilizar a centralidade epistemológica da "modernidade europeia" vê-se inadvertidamente frustrada na medida em que essa mesma experiência (e o tipo de sociabilidade imaginado como exclusivamente seu) é retomada como padrão de medida para se aferir a singularidade da modernidade no Brasil.Palavras-chave: Modernidade no Brasil; Gilberto Freyre; Sociologia brasileira
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