IntroduçãoAo comentar o livro de Alberto Rangel, Inferno verde, Raimundo Moraes salientou em seu ensaio Na planície amazônica, de 1926, o talento e os acertos do autor ao "pintar" a região em todas as suas imagens, nuanças e colorido. No entanto, não se constrangeu em acusar o contista de sofrer de certo "daltonismo" ao atribuir à Amazônia o epíteto de "inferno verde". Segundo Raimundo Moraes, o alegado "inferno" existente na Amazônia era fruto mais da imaginação literária de Alberto Rangel, de uma leitura da Divina comédia, do que uma constatação da realidade regional (R. Moraes, 1987, p. 151). O autor paraense insurgiu-se contra uma visão tradicional, então predominante, e que tomava a Amazônia como "terra de ninguém" ou como um meio natural avesso aos avanços de uma civilização; uma visão disseminada principalmente a partir dos escritos de Euclides da Cunha (1999).Mas a separação entre realidade e imaginação literária reclamada por Raimundo Moraes, a despeito dos esforços em conferir aos seus variados ensaios um caráter científico para uma abordagem dos problemas amazônicos, efetivamente não se consumou na sua própria obra. Os termos da crítica dirigida a Alberto Rangel, de alguma forma, já indicam o papel de paisagista desempenhado por Raimundo Moraes quando, em suas análises, mesclou uma abordagem pretensamente científica com uma estilização literária rebuscada (Tocantins, 1987, p. 21). Raimundo Moraes escreveu a sua copiosa obra tomando como referência uma visada científica em prol de um