O presente trabalho discute a formação dos aparatos institucionais à pobreza na América portuguesa, especialmente no Rio de Janeiro e Vila Rica, entre 1700 e 1822. Eleitas como os dois pilares de continuidade do império português durante a época moderna, as Câmaras e as irmandades da Misericórdia eram também as duas principais bases de sustentação sobre as quais se ergueu o sistema de caridade voltado de forma mais ampla para a população. No entanto, a América portuguesa presenciou uma parca e fragmentária rede de Misericórdias durante o período colonial. Partido de discursos que pregavam o amor ao próximo, essas instituições selecionaram seu público beneficiário, hierarquizando e, por vezes, interditando serviços a determinados grupos, marcadamente os mestiços e os escravos. Diante de uma rede assistencial absolutamente frágil e da considerável redução do escopo de atendíveis pelas Misericórdias, os pobres do Brasil se valeram antes das redes de auxílio informal, do que dos estabelecimentos que se apropriavam das noções cristãs de caridade. ResuméCe travail porte sur la formation des appareils institutionnels dédiés à la pauvreté dans l"Amérique portugaise, en particulier à Rio de Janeiro et Vila Rica, entre 1700 et 1822.Désignés comme les deux piliers de continuité de l"empire portugais durant l"époque moderne, lês Conseils (municipalités) et les confréries de la Miséricorde (Santa Casa de Misericórdia) ont aussi été les deux principales bases soutenant le système de bienfaisance dédié de manière plus large à la population. Toutefois, dans l"Amérique portugaise le réseau de Misericórdias était, pendant la période coloniale, faible et fragmentaire. Se fondant sur des discours prêchant l"amour du prochain, ces institutions choisirent leur public bénéficiaire, en hiérarchisant, et parfois, en fermant leurs services à certains groupes; notamment, et de manière très nette, les métis et les esclaves.Confrontés à un réseau d"assistance foncièrement fragile et à la reduction considerable de l"étendue de ceux pouvant bénéficier dês Misericórdias, les pauvres du Brésil se sont tournés vers des réseaux de soutien informel, plutôt que vers les établissements qui s"appropriaient les notions chrétiennes de charité.
Ao longo da época moderna, as Santas Casas de Misericórdia foram as principais instituições de auxílio à pobreza do império português. A partir do modelo de Lisboa, organizavam-se estabelecimentos semelhantes do ponto de vista organizacional, que pretendiam exercer a caridade a partir das 14 obras de misericórdia. No entanto, apesar de um ideal universalizante, as Misericórdias eram muito diferentes entre si. Este artigo discute a dinâmica institucional do império, centrando-se no exemplo da América portuguesa entre o século XVI e o início do século XIX.
Resumo O financiamento da criação de recém-nascidos abandonados pelos pais nas ruas das localidades portuguesas foi regulamentado pelas Ordenações Manuelinas (1512) e frequentemente constituía um tema controverso porque era uma iniciativa onerosa, que recaía sobre os cofres municipais e, no limite, sobre a população local, por meio de impostos (fintas) lançados pelo termo. Quando passou a ser obrigação legal, uma vez posta em prática, os concelhos encarregavam-se de cuidar de todos os expostos da localidade. Este artigo analisa os casos de Mariana e Vila Rica, em Minas Gerais, e Recife, em Pernambuco, onde foi regulamentado o financiamento da criação dos enjeitados. Contudo, essa forma de caridade, típica das regiões católicas no Ocidente, passaria por inovações frente à presença de populações miscigenadas na América portuguesa. Nos três exemplos estudados, as autoridades propuseram restringir o público de auxiliados a partir de critérios étnicos, estabelecendo, assim, novas fronteiras das noções de caridade, pobreza e assistência.
Este artigo discute a produção de material didático de história. Reflete sobre alguns debates recentes, focalizando a pertinência da escolha de conteúdos, e faz uma breve análise do mercado editorial e seu posicionamento na venda de obras para o PNLD e o mercado privado. O texto levanta algumas questões ligadas ao processo de formação de professores e aos cursos superiores de história, que em geral privilegiam a pesquisa em detrimento do ensino, o que dificulta a definição de um formato coerente para as licenciaturas.
EDITORIALÉ possível pensar em uma nova política editorial para as Revistas na área de História?Is it Possible to Think of a New Editorial Policy for Journals in the Field of History?Diante do resultado da tão esperada avaliação da Capes do nosso sistema de Pós-Graduação (que certamente terá saído por completo quando este texto vier a ser publicado), o momento é mais que oportuno para refletirmos sobre o conjunto de nossas revistas na área de História. Em meio às reações que ocorrerão no campo, negativas e positivas, duas são as razões que nos movem a isso. Em primeiro lugar, porque acreditamos que, como área, deveríamos discutir uma política de produção de nossas revistas, do que queremos e podemos fazer com elas, contribuindo para questionar as formas de avaliação vigentes. Segundo, porque valorizar um perfil de periódicos que funcione como veículo de divulgação de pesquisas de ponta não deve desconsiderar a diversidade existente entre eles no nosso campo, que, propositadamente, pode ser pensado como um verdadeiro ecossistema.Em primeiro lugar, é fundamental apontarmos que, atualmente, o trabalho de produção de nossas revistas tem sido hercúleo, beirando o impossível em alguns casos. Mesmo para as revistas de altos estratos, ou aquelas financiadas por associações e programas de pós-graduação com mais recursos, em que se costuma contar com assistentes e revisores ao menos, a carga de trabalho e responsabilidade das equipes editoriais costuma ser altíssima. E nem precisamos elencar apenas as revistas menores ou mais recentes, para as quais temos relatos de colegas que, como editoras e editores, praticamente realizam todas as tarefas envolvidas na sua produção, ou a dividem com poucos membros dos conselhos. Sem dúvida, essa situação foi agravada pela falta de financiamento pela qual passamos; mas, igualmente, porque fazer uma revista hoje converteu--se em um trabalho especializado, que termina exigindo o conhecimento de
Em 1693, uma memória enviada ao rei de Portugal continha denúncias sobre a completa indiferença dos senhores em relação à doutrina, à vida sacramental e às exéquias dos escravos no Rio de Janeiro e em Salvador. Naquele mesmo ano, debates envolveram instâncias civis e religiosas no intuito de colocar noutros termos a desconsideração ritual em relação aos escravos. Nesse processo de reordenamento das atribuições que cabiam às esferas civis e eclesiásticas em relação ao governo doméstico dos escravos, foram particularmente importantes as obras de dois jesuítas – Jorge Benci e André João Antonil – e a normativa estabelecida pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, em 1707. Neste artigo, pretende-se analisar como as controvérsias estabelecidas em fins do século XVII abriram uma nova perspectiva para a defesa ética do tratamento cristão dos cativos, tendo por base o princípio de autoridade, reivindicado pela Igreja, de governar espiritualmente os miseráveis.
What new developments related to assistance are on the historiographical horizon?Since the late eighteenth century, assistance institutions have been an important source of support for government policies, and organized themselves from more general discussions on philanthropy, a concept which brought together seemingly disparate issues such as the abolition of slavery, the medicalization of hospitals, work regimes, the evils of poverty, civility, and hygienism, among many others. Philanthropists proposed the reform of "society" and advocated solutions for abandoned children, hospitals for the poor, freedom for slaves, education for workers, dignity for prisoners, extension of health policies etc.It was from this broad repertoire that policies for organizing assistance were formulated, granting a global relevance to the local solutions which were proposed at different points in Brazil. These multiple meanings permitted prescriptions broad enough to establish a type of common heritage of civility and progress, but which also at the same time needed to be organized according to "national" issues (such as slavery and its consequences, for example) to formulate policies related to care for poor workers. The network of hospitals that arose in the interior of Brazil did not have a minimum standard of services, but pragmatically took advantage of a general sense of philanthropy understood in very generic terms as "love for humanity."While the states were effectively key actors which replaced charity with notions of civility and citizenship, the model based on elite participation in line with new meanings for this activity (without removing the old religious implications) remained personalistic and localist, decrying the intimate relationship between the state and grassroots-level entities that gave rise to assistance activities. The formulation of "public" policies carried out by individuals and/or private institutions was key in understanding the origin and structuring of political powers nationally as well as locally. In this sense, any mechanical separation between delay and progress labels assistance as an intransigent archaism and proves damaging.The challenge is to understand the success of traditional institutions which were also the main vectors of scientific thought and the reinvention of modern assistance. But this does not entail creating an "origin myth" for assistance establishments, which would inexorably bring welfare back to the government, as an idea devoid of all the personalism of the old models. It is important to understand how the values and actions that drove social groups were historically targeted within the logic that affected them. Despite the apparent "modernity" of philanthropy, assistance institutions for the most part remained GUEST EdiTorS' NoTE
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.