RESUMO: O presente ensaio tem como desafio perspectivar teoricamente a díade didática-criação, por meio da proposição da docência como um trabalho eminentemente poético. Uma série de pensadores -Gaston Bachelard, Paul Valéry e Jacques Derrida, entre outros -é estrategicamente mobilizada a fim de sustentar a hipótese de uma imanência poética a atravessar a prática docente, desde que esta seja concebida e efetivada por escritas e leituras na esteira de traduções transcriadoras. O lastro conceitual que sustenta a argumentação consiste na acepção de tradução, legada por Haroldo de Campos, e de escrileitura, proposta por Sandra Mara Corazza. As discussões encaminham-se para a defesa de um modo de conceber o trabalho didático como um arranjo incessante de gestos que amalgamam leitura, escrita e tradução, redundando em uma espécie de canto tradutório cruzado entre alunos e professores.
Resumo: Este ensaio propõe atuar com as forças artísticas de um currículo a partir dos trabalhos de Sophie Calle e Georges Perec. De modo a embaralhar arte e vida, ambos os autores se prestam a um movimento de reduções, de subtrações tendo por base um minimalismo brutal e uma simplicidade crua. Nessa medida, tomada por ideias oulipianas e, em meio ao pensamento de Bachelard, busca-se um currículo poeticamente inventariado, suspendendo as definições, as verdades, os julgamentos, os quadros de referência, as atitudes preformatadas. Trata-se de um exercício que deseja portar um falar de coisas comuns do cotidiano, do trivial e por vezes evidentes, mas que, no entanto, raramente recebem nossa atenção. Assim, mais do que qualquer outra coisa, pretende-se pensar em um currículo que se efetuaria no encontro com diferenças tornadas visíveis, produzidas por impressões sensíveis que se repetem singularmente a cada experiência.
Palavras
Partimos da ideia de que o pensamento diferencial, em educação, é caracterizado por um maquinismo que compreende duas dimensões principais: a da construção (ou produção) e da escala (ou perspectiva). Dentre todas as formas de construção, privilegiamos a que é engendrada pelo que chamamos – reverberando algumas proposições de Deleuze e Guattari – de máquina literária ou ficcional e que opera através de uma perspectiva de leitura, produzindo um discurso que não poderia ser considerado nem verdadeiro nem falso, pois é destinado àquilo que ainda não existe ou que existe somente em potência. Argumentamos, ainda, que a realidade é produto de uma espécie de intertextualidade conformadora das existências, ou pelo menos no que diz respeito a seu sentido e valor. Na articulação de tais mecanismos são maquinadas as existências. Contudo algumas delas, apesar de existirem, possuem uma realidade bastante precária. Por isso, acompanhando as leituras de Étienne Souriau feitas por David Lapoujade, afirmamos que povoar o mundo – e consequentemente a educação – de ficções (que são uma radicalização dos seres identificados como virtuais pelos autores) consiste em um procedimento inseparável da defesa dessas existências frágeis.
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