RESUMO Este estudo problematiza as relações de saber-poder em que se inscrevem as políticas de hospitalidade direcionadas ao acesso de estudantes refugiados às universidades públicas brasileiras nos últimos anos. A análise dedica-se à abordagem da materialidade linguística de documentos institucionais que regulamentam esse ingresso, buscando compreender, pelo diálogo entre os estudos da psicanálise, da desconstrução e do discurso, os efeitos de sentido decorrentes do discurso institucional. Os recortes discutidos apontam para o caráter normativo e prescritivo desse discurso e permitem a reflexão sobre o papel exercido pela língua portuguesa como principal condicionante que, ao mesmo tempo, possibilita e impossibilita o acesso de pessoas em situação de refúgio à universidade brasileira.
Resumo Este artigo discute a construção da imagem das vítimas de feminicídio em dois dos principais portais de notícias do/sobre o Rio Grande do Sul, partindo do pressuposto de que o jornalismo, em sua função social como formador de opinião, produz cenas de visibilidade que tanto incluem quanto excluem sujeitos. A pesquisa toma como base o viés teórico-metodológico da Análise do Discurso em diálogo com as ciências sociais, a fim de problematizar a (in)visibilidade das vítimas em quatro manchetes, publicadas em 2015, ano de sancionamento da Lei 13.104. Este estudo se justifica por impulsionar o debate sobre os modos de produção jornalística concernente às notícias de feminicídio. Pelo olhar discursivo sobre as manchetes selecionadas, entende-se que o corpo é construído como lugar em que, ao mesmo tempo, a vítima é exposta e silenciada.
Este artigo toma como objeto de estudo o discurso institucional sobre a Universidade e analisa dizeres em produção e circulação durante uma década que marca o desenrolar da proposta de uma expansão universitária no Brasil. Relaciona-se esse cenário ao mesmo período, na França, por meio de um olhar que incide sobre textos de leis de ambos os países. Apresenta-se, assim, uma noção de discurso institucional que, a partir dos textos oficiais, possibilite (re)pensar as instituições e seus discursos em funcionamento. Com base nos pressupostos teórico-metodológico-analíticos dos estudos discursivos, este paralelo visa a dialogar com as discussões sobre as políticas e práticas que permeiam o ensino superior e a pesquisa acadêmica em nossos dias.
Apresentação do dossiê "Migrações e refúgio: abordagens discursivas"
Este ensaio discute, pelo viés dos estudos do discurso brasileiros, atravessados pelos olhares da psicanálise e da filosofia, o funcionamento da hipervisibilidade no campo midiático, compreendendo que esta escamoteia o processo de invisibilização social do qual fazem parte os sujeitos migrantes. São analisadas três regularidades visuais/discursivas que emergem quando as palavras-chave “migrações/migraciones”, “migrantes” e “refugiado(a)s” são procuradas, em línguas portuguesa e espanhola, nas ferramentas de busca on-line. Essas regularidades são agrupadas e discutidas com base na articulação entre as noções de campo escópico e memória visual. Pela dimensão escópica, a qual convoca o/a olhar, problematiza-se a distribuição simbólica dos lugares e a construção de certa estética do nomadismo. A leitura das imagens enquanto traços da memória discursiva/coletiva permite questionar a construção midiatizada dessa memória, atrelada a um efeito de homogeneização das migrações.
Este trabalho surge do encontro com um fio de tweets (funcionamento na rede social digital Twitter) que expõe a formação de um imaginário sobre o sujeito podcaster pelos seus ouvintes. Pela análise do corpus, composto pelos tweets que compõem o fio, interessa-nos indagar como a formulação do fio e os comentários dos ouvintes se relacionam com pré-construídos a respeito de mulheres negras. Na busca de possíveis respostas para uma pergunta feita pela podcaster no fio, indagando por que é tão difícil associar a sua imagem (a de uma mulher negra) com a de uma contadora de histórias, mobilizaremos as noções de formações ideológicas e imaginárias, conforme Pêcheux (2009, 2014), a noção de ideologia, conforme pensada por Orlandi (2017), e de imagens de controle, conforme Collins (2019) e Gonzalez (2018). Observamos que antecipações feitas com base na voz e na fala da podcaster resultam em formações imaginárias que podem estar relacionadas com imagens de controle a respeito das mulheres negras.
Fragmentum: Gostaríamos que você começasse falando sobre a história de sua formação linguística. Essa história com a(s) língua(s), na(s) língua(s), que envolve uma espécie de "dupla inscrição" na Língua Portuguesa: a língua portuguesa do nascimento (nós sabemos que você é nascida na Ilha da Madeira, em Portugal) e a língua portuguesa da travessia (crescida no Brasil a partir dos quatro anos de idade).Coracini: É difícil falar sobre isso porque eu vim pequena, aos quatro anos de idade, mas, evidentemente, a minha família é toda portuguesa. Todos vieram da Ilha da Madeira e isso fez com que eu tivesse uma dupla inscrição naquela que se pode chamar de língua portuguesa. Primeiro, a língua portuguesa de Portugal que para mim não é só língua, é língua-cultura. Então, muitas coisas eu partilho e partilhava com a minha família, mas também, como toda a minha escolaridade foi feita no Brasil, toda a minha educação escolar e tal, a minha inscrição no Brasil é também muito grande. Na língua portuguesa e na cultura brasileira. Agora, há momentos em que realmente uma se superpõe à outra, depende do momento. Então, por exemplo, de determinadas maneiras de ser aqui no Brasil eu me distancio, eu digo "os brasileiros" e não me incluo... em vários momentos isso ocorre. Em outros momentos, sobretudo quando a gente está fora do país, aí a gente é mais brasileiro, mesmo que não seja. Mas eu vejo assim, por exemplo, acho que isso minha mãe deve ter reforçado esse hábito, minha mãe dizia: brasileiro gasta tudo o que tem. E a gente sempre tem uma preocupação maior em poupar, economizar. Então, quando a gente vai falar de quem gasta, é o brasileiro, não somos nós. Eu não gasto nada (risos). No sentido de hábitos culturais. Entretanto, há momentos em que eu uso termos que têm tudo a ver com Portugal e meu marido, que é brasileiro, não entende. Eu lembro que eu tinha casado não fazia muito tempo e, aos sábados, eu costumava lavar as coisas, arrumá-las e eu pedi para ele me jogar os atacadores do sapato dele. E ele não entendia de jeito nenhum: o quê? do que você está falando, que língua é essa? E eu não conseguia, não vinha outra palavra, não adiantava, não vinha. Até que eu disse: aquilo que você amarra os sapatos, o barbante, mas não é barbante. E barbante também não é barbante: em Portugal, é atilho e, às vezes, eu falava para ele me passar o atilho, mas eu nem pensava que ele podia não entender. É como se fosse uma outra língua que me constitui. Eu acho que é uma outra língua, outra línguacultura, pelo menos é assim que eu vejo. E, quando a gente fala de vocabulário, fragmentum, N. 22. Laboratório Corpus: UFSM, Jul./Set. 2009. 16 não está falando apenas de vocabulário, há toda uma relação com a maneira de ver as coisas. Houve outros momentos em que eu não me senti nem lá nem cá. Quando vou a Portugal, ninguém me reconhece como portuguesa, mesmo que eu diga que eu nasci em Portugal, que eu nasci na Ilha da Madeira, que meus pais eram portugueses, que minha família toda é portuguesa, não adianta, um minuto depois as pessoas estão fa...
Sob a ótica das Relações Públicas, esta pesquisa se desenvolve a partir dos fundamentos teóricos de Pêcheux (1990), Orlandi (2007) e Fernandes (2008) sobre a teoria do discurso, com o objetivo de identificar quais efeitos de sentido se produzem a partir do discurso materializado no cartaz de uma empresa, localizada em Santa Cruz do Sul (RS), em combate ao vírus HIV.
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