RESUMO Este estudo problematiza as relações de saber-poder em que se inscrevem as políticas de hospitalidade direcionadas ao acesso de estudantes refugiados às universidades públicas brasileiras nos últimos anos. A análise dedica-se à abordagem da materialidade linguística de documentos institucionais que regulamentam esse ingresso, buscando compreender, pelo diálogo entre os estudos da psicanálise, da desconstrução e do discurso, os efeitos de sentido decorrentes do discurso institucional. Os recortes discutidos apontam para o caráter normativo e prescritivo desse discurso e permitem a reflexão sobre o papel exercido pela língua portuguesa como principal condicionante que, ao mesmo tempo, possibilita e impossibilita o acesso de pessoas em situação de refúgio à universidade brasileira.
Este artigo toma como objeto de estudo o discurso institucional sobre a Universidade e analisa dizeres em produção e circulação durante uma década que marca o desenrolar da proposta de uma expansão universitária no Brasil. Relaciona-se esse cenário ao mesmo período, na França, por meio de um olhar que incide sobre textos de leis de ambos os países. Apresenta-se, assim, uma noção de discurso institucional que, a partir dos textos oficiais, possibilite (re)pensar as instituições e seus discursos em funcionamento. Com base nos pressupostos teórico-metodológico-analíticos dos estudos discursivos, este paralelo visa a dialogar com as discussões sobre as políticas e práticas que permeiam o ensino superior e a pesquisa acadêmica em nossos dias.
RESUMO:Neste artigo, propomo-nos a indagar sobre o papel da escrita no aprendizado de línguas estrangeiras e na construção de uma imagem de si em uma língua outra. Para tanto, analisamos excertos da produção textual de aprendizes de português como língua estrangeira, realizada durante o ano letivo de 2013-2014. Inseridos no domínio da Linguística Aplicada, ancoramos esta discussão no cruzamento entre os estudos do discurso, da psicanálise e da desconstrução, entendendo que a escrita na língua do outro não só (d)enuncia o imaginário acerca do estrangeiro, mas também funciona como espelho para uma constituição identitária múltipla e em constante transformação. Os fragmentos analisados permitem-nos afirmar que é possível escrever(-se) para além da estaticidade que, muitas vezes, impera nas atividades de escrita escolares/acadêmicas, o que contribui para a (re)inscrição de si, afetada pela presença constante do outro, enquanto multiplicidade irredutível a uma única língua-cultura. PALAVRAS-CHAVE: encontros linguísticos; escrita; ensino de línguas.ABSTRACT: This paper aim to call into question the role of writing in the foreign language learning process and in the construction of 'self ' in another language. To achieve this goal, we analyzed texts written by Portuguese learners, which were produced during the school year of 2013-2014. Inserted in the Applied Linguistics field, this discussion is grounded on the theoretical intersection among discourse, psychoanalysis, and deconstruction studies, and understands that writing in another language not only (de)(an)nounces representations of the foreigner, but also works as a mirror for a multiple identity construction, which is in constant transformation. The data allowed us to state that it is possible to write oneself beyond the stativity that often prevails in school / academic writing activities, which contributes to the (re)inscription of 'self ', affected by the constant presence of the other, as an irreducible multiplicity to a single language-culture.
Instigado pelo discurso jornalístico, este artigo ampara-se nos pressupostos teóricos da Análise do Discurso e estuda o discurso da divulgação científica nas manchetes de duas reportagens televisivas sobre a Fosfoetanolamina Sintética, exibidas no Brasil, em 2015. A análise reflete sobre o processo de popularização da ciência e identifica como a heterogeneidade discursiva se manifesta nos enunciados, produzindo efeitos de sentido. Os resultados fornecem elementos para discutir a inter-relação: comunicação, cientificidade e apelo social.
Este ensaio discute, pelo viés dos estudos do discurso brasileiros, atravessados pelos olhares da psicanálise e da filosofia, o funcionamento da hipervisibilidade no campo midiático, compreendendo que esta escamoteia o processo de invisibilização social do qual fazem parte os sujeitos migrantes. São analisadas três regularidades visuais/discursivas que emergem quando as palavras-chave “migrações/migraciones”, “migrantes” e “refugiado(a)s” são procuradas, em línguas portuguesa e espanhola, nas ferramentas de busca on-line. Essas regularidades são agrupadas e discutidas com base na articulação entre as noções de campo escópico e memória visual. Pela dimensão escópica, a qual convoca o/a olhar, problematiza-se a distribuição simbólica dos lugares e a construção de certa estética do nomadismo. A leitura das imagens enquanto traços da memória discursiva/coletiva permite questionar a construção midiatizada dessa memória, atrelada a um efeito de homogeneização das migrações.
Este trabalho surge do encontro com um fio de tweets (funcionamento na rede social digital Twitter) que expõe a formação de um imaginário sobre o sujeito podcaster pelos seus ouvintes. Pela análise do corpus, composto pelos tweets que compõem o fio, interessa-nos indagar como a formulação do fio e os comentários dos ouvintes se relacionam com pré-construídos a respeito de mulheres negras. Na busca de possíveis respostas para uma pergunta feita pela podcaster no fio, indagando por que é tão difícil associar a sua imagem (a de uma mulher negra) com a de uma contadora de histórias, mobilizaremos as noções de formações ideológicas e imaginárias, conforme Pêcheux (2009, 2014), a noção de ideologia, conforme pensada por Orlandi (2017), e de imagens de controle, conforme Collins (2019) e Gonzalez (2018). Observamos que antecipações feitas com base na voz e na fala da podcaster resultam em formações imaginárias que podem estar relacionadas com imagens de controle a respeito das mulheres negras.
Fragmentum: Gostaríamos que você começasse falando sobre a história de sua formação linguística. Essa história com a(s) língua(s), na(s) língua(s), que envolve uma espécie de "dupla inscrição" na Língua Portuguesa: a língua portuguesa do nascimento (nós sabemos que você é nascida na Ilha da Madeira, em Portugal) e a língua portuguesa da travessia (crescida no Brasil a partir dos quatro anos de idade).Coracini: É difícil falar sobre isso porque eu vim pequena, aos quatro anos de idade, mas, evidentemente, a minha família é toda portuguesa. Todos vieram da Ilha da Madeira e isso fez com que eu tivesse uma dupla inscrição naquela que se pode chamar de língua portuguesa. Primeiro, a língua portuguesa de Portugal que para mim não é só língua, é língua-cultura. Então, muitas coisas eu partilho e partilhava com a minha família, mas também, como toda a minha escolaridade foi feita no Brasil, toda a minha educação escolar e tal, a minha inscrição no Brasil é também muito grande. Na língua portuguesa e na cultura brasileira. Agora, há momentos em que realmente uma se superpõe à outra, depende do momento. Então, por exemplo, de determinadas maneiras de ser aqui no Brasil eu me distancio, eu digo "os brasileiros" e não me incluo... em vários momentos isso ocorre. Em outros momentos, sobretudo quando a gente está fora do país, aí a gente é mais brasileiro, mesmo que não seja. Mas eu vejo assim, por exemplo, acho que isso minha mãe deve ter reforçado esse hábito, minha mãe dizia: brasileiro gasta tudo o que tem. E a gente sempre tem uma preocupação maior em poupar, economizar. Então, quando a gente vai falar de quem gasta, é o brasileiro, não somos nós. Eu não gasto nada (risos). No sentido de hábitos culturais. Entretanto, há momentos em que eu uso termos que têm tudo a ver com Portugal e meu marido, que é brasileiro, não entende. Eu lembro que eu tinha casado não fazia muito tempo e, aos sábados, eu costumava lavar as coisas, arrumá-las e eu pedi para ele me jogar os atacadores do sapato dele. E ele não entendia de jeito nenhum: o quê? do que você está falando, que língua é essa? E eu não conseguia, não vinha outra palavra, não adiantava, não vinha. Até que eu disse: aquilo que você amarra os sapatos, o barbante, mas não é barbante. E barbante também não é barbante: em Portugal, é atilho e, às vezes, eu falava para ele me passar o atilho, mas eu nem pensava que ele podia não entender. É como se fosse uma outra língua que me constitui. Eu acho que é uma outra língua, outra línguacultura, pelo menos é assim que eu vejo. E, quando a gente fala de vocabulário, fragmentum, N. 22. Laboratório Corpus: UFSM, Jul./Set. 2009. 16 não está falando apenas de vocabulário, há toda uma relação com a maneira de ver as coisas. Houve outros momentos em que eu não me senti nem lá nem cá. Quando vou a Portugal, ninguém me reconhece como portuguesa, mesmo que eu diga que eu nasci em Portugal, que eu nasci na Ilha da Madeira, que meus pais eram portugueses, que minha família toda é portuguesa, não adianta, um minuto depois as pessoas estão fa...
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