Resumo Assistimos surgir no Brasil uma nova cultura de adoção que busca famílias para crianças e não crianças para famílias. Essa proposta comporta um novo projeto de família, de maternidade e paternidade, atribuindo novos sentidos ao ser pai e mãe, distinto do tradicional modelo associado à consangüinidade. A adoção tardia inserese nesse novo contexto. Para compreender os processos de construção de maternidade e paternidade nessas circunstâncias, é importante investigar as significações produzidas pelo casal ao tornar-se pai/mãe. Este artigo foca a produção discursiva de um casal durante entrevistas domiciliares, realizadas no decorrer do processo de adoção tardia de duas irmãs (4 e 5 anos). São apresentados os sentidos produzidos na conversação, em resposta à pergunta sobre como era ser pai ou ser mãe naquele momento. A análise aponta especificidades do tornar-se pai/mãe por adoção tardia, a difícil e frágil construção de vínculos e a necessidade de acompanhamentos pós-adotivos. Palavras-chaves: Adoção; maternidade; paternidade; rede de significações; práticas discursivas.
Resumo O artigo trata de estudo sobre interações de bebês com pares, que buscou apreender aspectos qualitativos desses processos relacionais, considerando particularidades dos bebês. No estudo, utilizaram-se videogravações e entrevistas, do projeto "Processos de Adaptação de Bebês a Creche", que acompanhou 21 bebês (4-13 meses) em creche. Os dados foram coletados e analisados pela perspectiva da Rede de Significações. Selecionaram-se, então, cinco episódios, a partir de três sujeitos-focais e seus pares. Análise indica ocorrência de interação, em que se destacam o papel do olhar, relações triádicas (mesmo em bebês menores de nove meses), a abreviação de recursos comunicativos e a empatia. Ainda, apesar da ausência de linguagem verbal, verificou-se ocorrência de significação. Algumas implicações teórico-práticas são apontadas.
O trabalho busca explicitar alguns dos pressupostos da perspectiva teórico-metodológica denominada Rede de Significações. Inicialmente utilizada para a investigação do desenvolvimento humano, ela tem sido incorporada em estudos sobre educação e saúde e em temáticas variadas. Especificamente, o texto procura explorar questões metodológicas assim como os referenciais com os quais essa perspectiva dialoga. Partindo de uma contextualização dos paradigmas que compreendem os fenômenos em sua complexidade, discutem-se os desafios encontrados pelo pesquisador na análise de um conjunto de elementos de ordem pessoal, relacional e contextual que interagem na realidade investigada. Postula-se a necessidade de uma dialética que contemple a descrição de uma microistória dos processos que seja interpretável de uma perspectiva semiótica e considere as condições mais amplas da cultura e da história. Discute-se ainda a relação sujeito-objeto de observação/investigação e o papel ativo do pesquisador, compreendido como um ferramenteiro, nos estudos empíricos.
Contínuas mudanças econômicas e culturais estão causando transformações no funcionamento das famílias e na educação das crianças pequenas em todas as camadas sociais. Essas transformações têm contribuído para o aumento da demanda e implementação de políticas de educação/cuidado infantil. Avanços políticos e legais têm ocorrido em vários países, nas últimas décadas. Esse processo configura-se sob formas diversas nos países desenvolvidos e nos em desenvolvimento. Naqueles e, em especial, nos países da Comunidade Européia, as justificativas para essas políticas fundamentam-se em um discurso pelos direitos da criança quanto ao acesso à educação e aos bens culturais, e pela igualdade de direitos e oportunidades de homens e mulheres. Já nos países em desenvolvimento, o discurso para ricos e pobres é bastante diferenciado, particularmente quando estabelece políticas para expansão do atendimento. Quando o alvo é a população pobre, negra e de zona rural, essas políticas se pautam por um discurso da necessidade de atender pobremente a pobreza, que transparece de maneira clara nos documentos do Banco Mundial. Neste artigo, propomo-nos a fazer uma reflexão crítica sobre as políticas para a infância nos países em desenvolvimento, tomando a América Latina como estudo de caso.
O artigo trata de eventos interativos de bebês com coetâneos. Inicialmente, abordamos concepções e métodos de estudo sobre interação de bebês na literatura, a partir da década de 1970. A seguir, apresentamos estudo empírico realizado através da análise de gravações em vídeo do projeto Processos de adaptação de bebês a creche, que acompanhou 21 bebês (4-14 meses) em creche universitária. A investigação deu-se em duas fases. A primeira, pela identificação de episódios interativos envolvendo os 21 bebês, considerando-se interação como fazer algo juntos. A segunda, pela análise microgenética dos episódios interativos de um bebê. Tal análise revelou freqüentes, fluidas e entrecortadas interações, que ultrapassam o fazer algo juntos, podendo o comportamento ser regulado mesmo à distância e mesmo que um dos parceiros não saiba que está regulando o comportamento do outro. Isso nos levou a tratar as interações como ocorrendo em um campo interativo, através da concepção de co-regulação do comportamento.
Resumo: Movimentos sociais do final do século XX questionaram a distribuição de papéis nos múltiplos arranjos familiares e favoreceram maior participação paterna nos cuidados infantis. Adotar é uma possibilidade de tornar-se pai. O objetivo desta pesquisa foi investigar significações de paternidade no processo de adoção de um bebê. Usou-se a perspectiva da Rede de Significações em interlocução com estudos sobre adoção, gênero e família. Seis entrevistas realizadas com dois homens casados adotantes de bebês foram lidas exaustivamente, sendo estabelecidos eixos de significação organizadores do corpus. A análise mostra que esses pais significam o filho como sua "continuidade" no mundo e decorrência "natural" do casamento. Ambos supervalorizam sua função de provedor e se posicionam como "ajudantes" da mãe nos cuidados infantis. A adoção aparece como solução à infertilidade. A revelação é tida como necessária, porém difícil. Esses pais se dizem satisfeitos com o papel parental, mostrando paternidades multifacetadas e constantemente negociadas.Palavras-chave: paternidade; adoção; rede de significações; família. MEANINGS OF ADOPTIVE FATHERHOOD: A CASE STUDYAbstract: Late twentieth century social movements questioned the distribution of roles in the family, and favored a wider father participation in child care. To adopt is a possibility of becoming a father. This study aimed to investigate the meanings about fatherhood which emerge in the process of adopting a baby. The network of meanings theoretical-methodological perspective was used, together with studies on adoption, gender and family. Six interviews made with two married men who adopted babies were thoroughly read to establish some relevant meanings which emerged from the corpus. The analysis showed that those fathers meant the child as a "continuity" of themselves and as a "natural" consequence of marriage. Both emphasized their function as resources providers and positioned themselves as mother's "helpers" in the care for their child. The adoption appears as a solution for infertility. Revelation is considered necessary, but difficult. Those fathers are happy with their role.Key words: fatherhood; adoption; network of meanings; family.1 Recebido em 14/10/05 e aceito para publicação em 19/10/06. 2 Endereço para correspondência: Raylla Pereira de Andrade, Departamento de Psicologia e Educação. Centro de Investigações sobre Desenvolvimento Humano e Educação Infantil (CINDEDI). Avenida Bandeirantes, 3900, CEP: 14040-901, Ribeirão Preto-SP, E-mail: rayllandrade@yahoo.com.br Introdução Repensando a Paternidade: Velhos e Novos ConceitosPartindo da premissa de que uma paternidade (adotiva ou não) é construída em relação aos discursos e práticas sociais de sua época, propos-se uma reflexão sobre velhos e novos conceitos relativos às formas de organização familiar e vivências de paternidade.A partir das transformações sócio-econômicas do século XVIII (surgimento da sociedade industrial), tornou-se emergente o arranjo familiar composto por pai, mãe e filhos, a chamada fam...
ResumoA proteção integral à infância encontra-se em reordenamento. Baseadas nas experiências do GIAAA-CINDEDI (Grupo de Investigação sobre Abrigamento, Acolhimento Familiar e Adoção -Centro de Investigações sobre Desenvolvimento Humano e Educação Infantil), buscamos compreender a rede de significações que permeia as práticas de acolhimento familiar, institucional e adoção. Investigamos vários contextos e protagonistas: sistema judiciário, abrigos, mães e famílias de origem, de acolhimento e adotivas. Diversos procedimentos foram utilizados: investigações sócio-demográficas, estudos de caso, entrevistas, pesquisa documental nos abrigos e no Fórum, grupos de discussão. Ressaltamos achados comuns: "invisibilidade" da família de origem; freqüente (re)violação da criança; falhas na Rede de Proteção; significações sobre "família saudável" e papel das concepções sobre apego que permeiam o campo. Implicações para políticas públicas e práticas sociais na área são discutidas. Palavras chave: Medidas de proteção, acolhimento familiar, acolhimento institucional, adoção, rede de significações. AbstractChildhood protection is undergoing several changes. Our study aimed to outline the complex network of meanings which includes adoption as well as institutional and family foster care, by combining theory, research and practice. We investigated various contexts and protagonists: judicial system, foster institutions, birth parents, foster and adoptive parents, and families and their children. Diverse data collection procedures were used: socio-demographic investigations, case-studies, follow-ups, interviews, analysis of foster institutions and legal court documents. Results pointed to "invisibility" of birth family, frequent child (re)abuse, failures in the network of protection, meanings of "healthy family" and role of attachment concepts. Implications for social policies and social practices are discussed.
Na elaboração de instrumental para compreender e investigar processos desenvolvimentais humanos, relacionais e situados, aproximamo-nos da noção de dialogismo. Procurando explicitar esta noção, realizou-se revisão bibliográfica, além de leituras de Bakhtin, aqui apresentadas. A análise levanta implicações teórico-metodológicas que, tanto apontam ao lugar da alteridade no ser e desenvolver-se humano, como indicam questões do fazer do pesquisador. Finalmente, apresenta-se um episódio de interação mãe-bebê, utilizando-se a concepção de dialogismo. A análise do caso aponta a necessidade de considerar o lugar do corpo nos processos de investigação, remete também à busca por noção de linguagem além do verbal e (re)conceituação da cultura enquanto prática discursiva.
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