ResumoNo final do século XIX, intensificaram-se as ondas de colonização extrativistas e agropastoris no sul do antigo estado de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul. Para os Terena, esse processo resultou na expropriação de territórios de ocupação tradicional, no recrutamento compulsório de homens e mulheres como mão de obra nos empreendimentos particulares, e na perda gradativa da autonomia política das comunidades. No início do século XX, foram criadas as reservas, com áreas muito inferiores às terras de ocupação tradicional. Ainda assim, os Terena reorganizaram-se nesses espaços, e, no final do século XX, aproveitando o processo de redemocratização da sociedade brasileira, passaram a protagonizar novas formas de reivindicação da demarcação de seus territórios tradicionais. Nesse novo contexto, evidencia-se o despertar guerreiro, que passa a conviver lado a lado com a conduta diplomática, que até então caracterizou o modo de ser terena. O despertar guerreiro é marcado por uma participação crescente das mulheres, também guerreiras, ampliando a participação feminina nos espaços públicos e na esfera política.Palavras-chave: Terena. Território. Reservas indígenas.1 Doutora em História pela UFGD, docente da UCDB e pesquisadora do NEPPI/UCDB,
O presente artigo aborda aspectos do processo de expropriação dos territórios kaiowá e guarani, cujas comunidades foram obrigadas a se recolher em reservas a partir da segunda década do século XX. Tal recolhimento atingiu a maior parte da população e resultou em sérias dificuldades para a reprodução social de suas comunidades, com implicações que perduram até os dias atuais. O artigo aponta alguns dos problemas sociais decorrentes da vida em reserva e a maneira como as lideranças buscam superar essa condição adversa. A principal estratégia das lideranças tem sido a de buscar reaver seus territórios tradicionais, a partir da convicção de que em tais espaços _ denominados de tekoharã _ as famílias desenvolverão formas de convivência mais harmônicas e integradas ao modo correto de viver – teko katu.
O artigo reflete sobre os conhecimentos mobilizados na produção e reprodução dos coletivos kaiowá e guarani no MS, considerando o sistema de conhecimento por eles definido como tradicional – ava reko ymaguare. Tal sistema se articula a partir de princípios basilares na construção da pessoa e na conduta social. As frentes de expansão econômica impuseram o confinamento territorial e, nesse cenário adverso, os líderes elaboram estratégias de transformação em seu próprio sistema social, experimentando formas de agremiações coletivas, por eles denominadas de ava reko pyahy. Assim, os xamãs – Ñanderu – acionam referenciais do próprio sistema de conhecimentos para compreender, transformar e transgredir o confinamento territorial e a escassez de recursos ambientais. Os Ñanderu persistem no esforço de levantar parentelas e aldeias, em conexão com os teko jára, guardiões de modalidades de ser, efetivadas em planos de existência tangíveis e intangíveis, insistindo na conectividade entre os diversos planos do cosmos.
O artigo discute as construções sociais de gênero e as distinções geracionais nas relações entre os modelos e práticas de produção e reprodução da vida social de uma população falante de língua Tupi-Guarani, habitante da região de fronteira entre Brasil e Paraguai. O empenho é situar, a partir dos atributos alocados a cada um dos sexos e ao pertencimento geracional, o modo como as pessoas são integradas ao fogo doméstico kaiowa, módulo organizacional que, grosso modo, corresponde à família nuclear, tal qual a conhecemos na sociedade brasileira. A reflexão aqui proposta procura dar continuidade a estudos desenvolvidos na dissertação de mestrado e na tese de doutorado nos quais se realizou uma abordagem da morfologia social kaiowa, sensível não apenas ao modelo segundo o qual esta população tradicionalmente concebe as suas instituições, mas também as profundas modificações produzidas pelo contato, pelo recolhimento da população nas atuais reservas e pelos processos de degradação da paisagem natural, cada vez mais intensos.
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