A ciência [...] , longe de mecanizar o artista ou o profissional, arma a sua imaginação com os instrumentos e recursos necessários para os seus maiores vôos e audácias.Anísio Teixeira (apud Brandão & Mendonça, 1997, p. 203) A reflexão aqui apresentada resulta de "A Pesquisa em Educação Infantil no Brasil: trajetória recente e perspectivas de consolidação de uma pedagogia", que analisou o conjunto da produção sobre a educação da criança pequena. Essa análise revelou construções teó-ricas que, sustentando-se em bases empíricas e teorizações anteriores, vêm permitindo a identificação de um conjunto de "regularidades e peculiaridades" que suscitam novas frentes de investigações. Os construtos já identificados pelas pesquisas analisadas permitem afirmar a possibilidade e o nascimento de uma Pedagogia da Educação Infantil que passa a analisar criticamente o real, a partir de uma reflexão sistemática que ganha corpo, procedimentos e conceituações próprias.Sem pretender recuperar aqui toda uma extensa trajetória de discussão sobre o objeto e o estatuto científico da Pedagogia, minha tentativa será de estabelecer uma aproximação a respeito dos limites e perspectivas de uma Pedagogia da Educação Infantil como um campo de conhecimento em construção. 1 Desta maneira, parto do princípio de que uma Pedagogia da Educação Infantil caracteriza-se por sua especificidade no âmbito da Pedagogia (em seu sentido mais amplo), uma vez que a meu ver o objeto desta está essencialmente ligado a toda e qualquer situação educativa (como organização, estruturas implícitas, práticas etc.). De fato, em sua trajetória, o campo pedagógico não tem contemplado suficientemente a especificidade da educação da criança pequena em instituições não-escolares, tais como a creche e a pré-escola.Não é novo falar de uma "didática pré-escolar". O próprio aparecimento da pré-escola no Brasil se deu sob as bases da herança dos precursores europeus que inauguraram uma tradição na forma de pensar e apresentar 1 Não é minha intenção advogar a departamentalização da Pedagogia em campos específicos. O recorte de análise estabelecido não despreza, porém, a necessidade de destacar as singularidades presentes nos diferentes níveis de abrangência relacionados à educação e à infância.
Este trabalho pretende apresentar uma revisão da trajetória do GT07 -da Educação da Criança de 0 a 6 anos -no âmbito das reuniões anuais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação no Brasil (Anped) nos 30 anos de sua existência, como forma de recuperar também os caminhos da pesquisa sobre educação infantil no Brasil, que tem nesse espaço de associação científica uma significativa expressão da produção nacional.Em estudos anteriores (ROCHA, 1997(ROCHA, , 1999, as principais marcas da origem e consolidação desse grupo já foram sistematizadas e apresentadas, permitindo sustentar aqui uma análise do percurso mais recente das pesquisas: suas temáticas, teorias e, em especial, nos limites deste texto, as metodologias privilegiadas, as áreas científicas de base e os cruzamentos disciplinares.Tomou-se como base para esta síntese do repertório científico apresentado nas reuniões anuais um levantamento do conjunto dos trabalhos apresentados (organizados num banco de dados) por ano, autoria, título, palavras-chave e resumos a partir de 1990, ano em que os textos integrais passaram a ser exigido para a apresentação. 1 Paralelamente buscou-se recuperar a trajetória do GT a partir da leitura dos relatórios e programas da Anped, de estudos anteriores sobre o percurso da pesquisa em Educação Infantil no Brasil (CAMPOS; HADDAD, 1992; CAMPOS, 1997;FARIA;CAMPOS, 1989; KISHIMOTO, S/D;ROSA, 1986;MALUF, 1985; ROSEMBERG, 1989; KRAMER E LEITE, 1996), da análise de textos integrais publicados em 1 Todos os trabalhos entre 1990 e 1996 foram arquivados pela Professora Zilma Morais de Oliveira (USP-SP), uma das coordenadoras do Grupo nesse período, que os disponibilizou para este estudo. O acervo (em papel) encontra-se arquivado no NUPEIN-UFSC desde então. Na época não havia a sistemática de apresentação e arquivamento eletrônico em disquete dos textos pela própria Anped, que se iniciou no ano seguinte. Atualmente a apresentação eletrônica dos textos e resumos é feita em CD-ROMs, o que garante acesso e registro mais permanentes da produção científica apresentada nas reuniões.
A pesquisa que originou a esta reflexão encontrou elementos teóricos que, fundamentados nas bases empíricas e teorizações prévias, permitem à autora propor a possibilidade de desenvolver uma autêntica Pedagogia da Educação Infantil, à que ela prefere denominar Pedagogia da Infância, que terá, então, como objeto de preocupação as próprias crianças; os seus processos de constituição como seres humanos em diferentes contextos sociais, a sua cultura, as suas capacidades intelectuais, criativas, estéticas, expressivas e emocionais. Esta pedagogia trascenderia os conhecimentos didáticos resultantes de uma ação pedagógica escolar geral e dos processos de ensino-aprendizagem que não resultam adequados para analisar aqueles espaços pedagógicos não-escolares, tão freqüentes na atenção dos meninos e meninas de 0 a 6 anos.
* Uma versão preliminar deste texto foi apresentada como comunicação oral na 37ª Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) de 2015. Agradecemos a possibilidade de discussão na referida reunião, o que possibilitou aprofundar alguns pontos do texto.
RESUMO Este artigo apresenta uma pesquisa sobre o brincar e a constituição social das crianças no campo de educação infantil em relação com contextos familiares. Procurou-se desvendar as relações intersubjetivas e societárias, bem como os repertórios culturais apropriados pelas crianças. O trabalho fundamentou-se nos construtos teóricos dos estudos sociais da infância, predominantemente na sociologia da infância, e sob uma perspectiva etnográfica e participativa as crianças foram consideradas as principais informantes. A pesquisa reafirma o brincar como uma atividade de confronto intercultural, em que as crianças constroem enredos complexos, misturam e combinam elementos diversos, provenientes das relações que estabelecem no contexto familiar e de educação infantil, no âmbito do contexto local e da cultura mais ampla.
Resulta de um levantamento dos trabalhos apresentados no GT07: Educação de crianças de 0 a 6 anos, nas reuniões anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), entre os anos de 2003 e 2013, com o objetivo de mapear a produção científica sobre as crianças de zero a três anos de idade. Para a busca dos trabalhos, foram definidas algumas palavras-chave: educação infantil; creche; berçário; crianças pequenas; bebês; zero (0) a três (3). A primeira busca foi realizada nos resumos e nas palavras-chave propostas no próprio artigo, e, quando necessário, recorreu-se ao trabalho completo. A partir dessa busca, foram localizados 23 trabalhos que abordavam a temática, e estes foram lidos na íntegra para categorização e análise. Com base na leitura dos trabalhos, utilizando a estratégia metodológica de análise de conteúdo, foi possível, por meio de método indutivo, agrupá-los em temáticas: "dimensão pedagógica", "perspectivas sociológicas", "políticas para educação infantil" e "história". Destaca-se que no período entre os anos de 2003 a 2013 um total de 175 trabalhos foi apresentado no GT07, dos quais somente 23 trabalhos tiveram como preocupação as crianças de zero a três anos. Embora esse número seja muito inferior ao total, revela-se uma crescente preocupação e prioridade da área em relação à situação da creche e das crianças pequenas.
O trabalho que aqui apresentamos sintetiza parte do processo de reflexão que temos desenvolvido junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância NUPEIN – no Centro de Ciências da Educação da UFSC. Os resultados apontam para a importância do processo de valorização do profissional responsável pela organização e pela ação educativa, implicando necessariamente no esforço de engajamento dos mesmos no processo de reflexão sobre sua própria prática e formação. Nessa perspectiva, temos clareza que as pesquisas realizadas nas instituições só fazem sentido na medida em que de fato possam contribuir para a melhoria do trabalho realizado junto às meninas e meninos que freqüentam creches e pré-escolas. O estabelecimento de indicadores para avaliação dos contextos educativos exige de um lado, maior articulação entre os processos de investigação e os de formação e, de outro lado, uma compreensão do que se entende por avaliação.
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