Resumo: Este artigo tem o objetivo de discutir a construção da gravidez na adolescência enquanto um problema social. Visa também apresentar e analisar os dados da etapa qualitativa da pesquisa Gravidez naEste artigo é resultado das discussões coletivas dos dados qualitativos da pesquisa GRAVAD por todos os seus participantes. Por isto que, pouco usual na área da Antropologia, sua autoria é creditada a todos eles.
Aborda-se a gravidez na adolescência entre jovens de camadas médias, prisma pouco estudado no Brasil. Realizou-se um estudo qualitativo sócio-antropológico com 14 famílias do Rio de Janeiro, Brasil, cujos filhos permaneciam solteiros e residindo com os pais, após o nascimento da criança. Foram realizadas 25 entrevistas em profundidade com 6 rapazes e 7 moças entre 18 e 24 anos e seus pais (11 mães e 1 pai), para avaliação retrospectiva da gravidez e de seus impactos na trajetória juvenil e familiar. Três aspectos são analisados: as dificuldades de internalização da norma contraceptiva; a descoberta tardia da gravidez e a tomada de decisão aborto ou reprodução pelos jovens e seus pais. O estudo permitiu configurar a gravidez na adolescência como um evento contingente ao processo de construção da autonomia pessoal em curso nessa fase da vida, no qual a sexualidade tem grande relevância. Conclui-se que o fenômeno precisa ser compreendido em um contexto histórico e cultural específico, distinto de sua ocorrência décadas atrás, pois está marcado pelas regras que organizam o processo de individualização juvenil na contemporaneidade.
Vulnerabilidades no uso de métodos contraceptivos entre adolescentes e jovens: interseções entre políticas públicas e atenção à saúdeVulnerabilities in the use of contraceptive methods among youth: intersections between public policies and healthcare
Este artigo apresenta dados parciais de ampla pesquisa qualitativa, sócio-antropológica, realizada em cinco estados do Brasil, para captar a perspectiva de usuárias de áreas urbanas e rurais sobre suas experiências contraceptivas e reprodutivas, bem como sobre o atendimento em contracepção e planejamento reprodutivo no Sistema Único de Saúde. Enfocam-se resultados do Estado do Rio de Janeiro, mediante sessenta entrevistas individuais semi-estruturadas, com usuárias entre 18 e 49 anos, de duas unidades básicas de saúde da capital e de uma unidade do Programa Saúde da Família (PSF), no interior, em área rural. Constatou-se maior diversidade no uso de métodos na capital, em contraste com o interior, onde apenas a laqueadura se apresenta como alternativa à pílula. O trabalho educativo em grupo na capital amplia as possibilidades de escolha de métodos e aprendizado coletivo, embora o acesso ao DIU e à ligadura ainda seja considerado problemático, devido às dificuldades no atendimento. Os serviços de saúde privilegiam assistência às mulheres em trajetória reprodutiva; há necessidade de atenção às mulheres adultas não grávidas e adolescentes, além do fortalecimento do trabalho educativo no PSF.
Propôs-se conhecer e discutir ações voltadas para o enfrentamento da violência doméstica no âmbito do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher. Para tanto, buscou-se levantar e comparar as práticas profissionais em duas unidades de saúde do município do Rio de Janeiro, sendo uma delas referência para o atendimento às vítimas de violência. Foram realizadas oito entrevistas em profundidade, semiestruturadas, com profissionais das equipes do Programa de Saúde da Mulher. Embora ambas as unidades identifiquem frequentemente usuárias vítimas de violência doméstica, na unidade de referência os profissionais se mostraram mais preparados para identificar o problema quando este não se apresenta de forma explícita e para desenvolver ações de acolhimento dentro da própria unidade de saúde. O que diferencia as duas unidades é o encaminhamento dado ao problema, relacionado com a forma como cada serviço entende a violência como demanda inerente também à esfera da saúde.
O artigo discute a "suspensão" da queixa policial na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), procedimento usual até a Lei nº 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Criminais e o novo encaminhamento jurídico para as denúncias de atos violentos contra as mulheres. Trata-se de um estudo etnográfico, realizado entre 1995-1996, no qual se observou a dinâmica de atendimento policial em uma DEAM do estado do Rio de Janeiro, tendo sido também entrevistadas 32 mulheres que recorriam à DEAM em momento posterior à denúncia, para prestarem depoimentos ou solicitarem a "retirada" da queixa. Dentre os resultados, abordam-se as especificidades da demanda feminina à polícia, na qual os delitos denunciados estão subsumidos a um conjunto mais amplo de queixas referidas às "perturbações" masculinas à ordem familiar.
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