O debate em torno do assédio moral no trabalho intensificou-se ao final do século XX na Europa, a partir dos estudos de Heinz Leyman, na Suécia, e de Marie-France Hirigoyen, na França. Nesse debate, tem-se preocupado em conceituar o assédio moral, identificar suas causas, formas de manifestação e repercussões na saúde dos assalariados. Entretanto, as discussões em torno dos fatores que o determinam nem sempre são convergentes, deixando dúvidas quanto a suas verdadeiras causas, bem como às formas adequadas de se lidar com esse problema. No presente ensaio, apoiando-nos em pesquisas previamente realizadas junto à categoria dos vigilantes, discutimos de forma crítica as perspectivas tradicionais utilizadas para se estudar o assédio moral e as propostas mais comuns sugeridas para o enfrentamento desse problema, evidenciando suas limitações ao explicá-lo essencialmente como um fenômeno de natureza moral ou psicológica. Ao contrário, propomos analisá-lo por meio de outras abordagens fundadas no próprio trabalho que destacam a perversidade dos modelos contemporâneos de gestão.
A cidade de Santo Antônio do Monte é considerada o 2º maior polo mundial de produção de fogos de artifício, sendo a pirotecnia a principal atividade econômica da região. Entretanto, o trabalho na indústria pirotécnica tem suscitado sérias preocupações das entidades sindicais e dos pesquisadores, bem como dos trabalhadores e suas famílias. Os acidentes de trabalho nesse setor são, geralmente, fatais ou mutilantes, havendo, ainda, registros de doenças relacionadas ao trabalho. Por isso, neste estudo almejou-se analisar as repercussões do processo de produção de fogos de artifício sobre a saúde e segurança desses trabalhadores. Os estudos da Psicopatologia do Trabalho e da tradição francesa de análise ergonômica constituíram as principais referências deste estudo. Para a realização desta pesquisa, utilizou-se uma estratégia metodológica pluridimensional, que reuniu e articulou dados estatísticos, empíricos (fatos clínicos, relatos, observações) e documentais. Os resultados revelam que os trabalhadores estão sujeitos a acidentes decorrentes do exercício de funções para as quais não foram adequadamente treinados, bem como a uma atividade penosa e nociva, geradora de lesões por esforço repetitivo (LERs) e doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho. As mulheres que trabalham nesse setor também enfrentam o assédio sexual praticado por prepostos dos empregadores.Palavras-chave: Saúde mental e trabalho, Ergonomia da atividade, Clínica da atividade, Pirotecnia, Psicologia do trabalho.The backstage of fireworks production in Santo Antonio do Monte: notes on the degradation of the pyrotechnists work conditions and healthThe town of Santo Antonio do Monte is deemed to be the 2nd largest center of fireworks production in the world, and pyrotechnics is the region's main economic activity. However, the work in the pyrotechnic industry has raised serious concerns from labor unions and researchers, as well as the workers and their families. Labor accidents in this sector are usually fatal or mutilating, and there're also reports of labor-related diseases. Thus, this study aimed to analyze the repercussions of the fireworks production process on these workers' health and safety. Studies on the Psychopathology of Work and those based on the French tradition of ergonomic analysis provided the main references for this study. To carry out this research, we used a pluridimensional methodological strategy, which gathered and connected statistical, empirical (clinical facts, reports, observations), and documental data. The results show that workers are exposed to accidents resulting from the performance of jobs for which they haven't been properly trained, as well as to a painful and harmful activity, which causes repetitive strain injuries (RSIs) and workrelated musculoskeletal diseases. Women who work in this sector also face sexual harassment practiced by their employer's representatives.
O estabelecimento do nexo causal entre trabalho e distúrbio mental tem ocupado um lugar central nos debates teóricos e se configura como uma questão bastante polêmica, centro de controvérsias no campo de estudos da Saúde Mental e Trabalho. Neste artigo, analisamos o laudo emitido por uma perita judicial e o parecer dos peritos assistentes acerca das condições de saúde de um trabalhador da vigilância bancária no âmbito de uma ação indenizatória por danos morais movida por ele, que tramitou na Justiça do Trabalho de Minas Gerais. Os peritos concluíram não haver um nexo causal entre os distúrbios mentais apresentados pelo vigilante e a sua ex-atividade, fato que embasou a sentença proferida pelo magistrado, desfavorável ao trabalhador. Entretanto, apresentamos, em relação a este caso, evidências de que as experiências de trabalho deveriam ter sido consideradas como um fator determinante no surgimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) do qual o vigilante foi vítima. Ao final deste artigo, refletimos sobre a importância de se ampliar a análise diagnóstica no caso de trabalhadores acometidos por transtornos mentais.
O presente ensaio apresenta considerações críticas sobre o processo de Avaliação de Desempenho Individual (ADI) ao qual estão atualmente submetidos os servidores do setor de saúde do estado de Minas Gerais, chamando a atenção para o caráter de alta complexidade desse setor e recomendando a adoção de metodologias mais abrangentes, como a Análise Pluridisciplinar das Situações de Trabalho (APST), proposta pelo filósofo francês Yves Schwartz. Este texto resulta da experiência dos autores na formação de trabalhadores e na gestão de serviços de saúde na área pública, não constituindo relato de pesquisa stricto sensu, nem demonstração de dados conclusivos de pesquisa empírica, mas antes um ensaio/convite à reflexão e ao diálogo sobre os riscos de cristalização de uma visão excessivamente funcionalista dos processos de gestão de pessoas no setor público da saúde.
Han, B.-C. (2017). Sociedade do cansaço (E. P. Giachini, Trad.; 2a ed.). Vozes.N o livro Sociedade do cansaço, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais na Universidade de Berlim, oferece ao leitor a oportunidade de mergulhar no século XXI e reconhecer traços característicos da sociedade ocidental contemporânea que nos permitiriam caracterizá-la como "sociedade do desempenho", produtora do esgotamento, da exaustão e da depressão. O livro, publicado originalmente em alemão em 2010, e, em língua portuguesa, em 2015, com edição ampliada na sequência, traz um título instigante, que permite ao leitor apropriar-se de uma metáfora que espelha os tempos atuais e que pode conduzi-lo, dentro de certos limites, a nosso ver, a uma compreensão mais profunda da estrutura social.A temática da obra é, sem dúvida, atual. No início do século XXI, em um relatório que antecede a publicação em tela, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2001) destacava que os problemas de saúde mental respondiam por 12% do peso mundial de doenças. Em torno de 450 milhões de pessoas sofriam, àquela época, de perturbações mentais e do comportamento. Os transtornos mentais, desde então, têm feito uma escalada. A prevenção ao adoecimento psíquico e a promoção da saúde têm sido indicadas pela OMS (2020) como objetivos fundamentais a serem perseguidos pelos países-membros, quando da elaboração e estabelecimento de políticas públicas e programas de saúde.Segundo Han (2017), vivemos uma época na qual as enfermidades não podem mais ser compreendidas sob um paradigma imunológico. As patologias do século XXI não são mais bacteriológicas ou virais, mas neuronais, o que exigiria um novo paradigma habilitado a compreendê-las. A escalada das enfermidades psíquicas de nosso tempo, segundo o autor, está associada ao "excesso de positividade", à "violência da positividade" ou, em outros termos, à "violência neuronal", que resulta da lógica da superprodução, do superdesempenho e da supercomunicação. Na visão do filósofo sul-coreano, o paradigma imunológico se mostra insuficiente para a compreensão da violência neuronal, pois subentende um antagonismo entre "dentro e fora", "amigo e inimigo", "próprio e estranho" (Han, 2017, p. 16). Em outro paradigma, o da "sociedade do desempenho", o excesso de positividade é concebido como "igual" para o sujeito, e não produz neste uma reação de defesa, à semelhança do que ocorre em uma infecção viral, que com frequência resulta em uma reação defensiva do indivíduo em face da identificação de um agente invasor, estranho ao corpo. A violência neuronal opera de outro modo. A violência neuronal se baseia na pressuposição de que o sujeito tudo pode (e deve) -evidente manifestação do "excesso de positividade" -e se expressa pela contínua provocação do agir, em um ciclo frenético e interminável. O sujeito não reconhece o excesso de positividade como agente externo que deva ser enfrentado e combatido, mas como possibilidade de ação e, finalmente, como liberdade. Tal liberdade, no entanto, destaca Byung...
Neste artigo, baseado em pesquisa bibliográfica, analisa-se a pertinência de premissas marxianas para a Saúde Mental Relacionada ao Trabalho e sua incorporação pela psicopatologia do trabalho de Le Guillant. Nas conclusões, afirma-se a relevância dos fundamentos marxistas para a práxis da Saúde Mental Relacionada ao Trabalho, e a sua importância para a construção de uma perspectiva psicológica crítica, fundada na compreensão de que os efeitos do trabalho sobre a saúde mental dos trabalhadores são singulares, mas não estão desvencilhados das relações de produção da vida material. Evidencia-se que a vertente construída por Le Guillant se aproxima da perspectiva marxista e reflete pressupostos fundamentais.
Este artigo discute a relação entre o trabalho dos psicólogos e psicólogas e a tecnologia, no contexto marcado pela pandemia da covid-19. Com base na análise da dupla condição da Psicologia, como ciência e profissão, historicamente construída e reproduzida, o texto propõe uma análise crítica da intensificação do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), com ênfase na atividade de atendimentos clínicos individuais, por se tratar de uma modalidade de serviço em flagrante expansão no atual contexto, em razão das contingências impostas pela pandemia. Como resultados preliminares, evidencia-se o crescimento, sem precedentes, do número de cadastros de psicólogos e psicólogas interessados em realizar atendimento on-line e observam-se ações dos órgãos reguladores da profissão que objetivam fiscalizar tais práticas e impedir o uso indevido da tecnologia. Ressaltam-se, neste cenário, os riscos da “uberização” do trabalho do psicólogo e psicóloga e de uma retração do campo da Psicologia como profissão.
O presente artigo visa discutir os resultados preliminares de uma pesquisa-intervenção em desenvolvimento, relativa ao trabalho de operadores de escavadeira elétrica a cabo que atuam em uma unidade de extração de minério de ferro, na região Norte do Brasil, sítio de uma das principais reservas minerais do país. A cooperação e a dimensão coletiva da atividade, em um sistema de exploração ...
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