Rolezinhos: Marcas, consumo e segregação no Brasil

Abstract

No início de 2014, o fenômeno conhecido como rolezinho ganhou ampla visibilidade nacional e internacional. Trata-se de adolescentes das periferias urbanas que se reúnem em grande número para passear nos shopping centers de suas cidades. O evento causou apreensão nos frequentadores e fez com que alguns proprietários dos estabelecimentos conseguissem o direito na justiça de proibir a realização dos rolezinhos, barrando o acesso dos jovens. Desde então, emergiu um amplo debate sobre segregação na sociedade brasileira. Com base em uma pesquisa etnográfica sobre consumo popular com jovens da periferia de Porto Alegre, o artigo analisa o fenômeno dos rolezinhos, abordando suas dimensões locais, nacionais e globais. Levando em consideração o atual momento brasileiro, que versa sobre políticas de ascensão social via consumo e sobre uma onda de protestos de inquietação social, argumentamos que os rolezinhos estão se modificando e encontrando diversas formas de discutir e realizar política cotidiana no âmago de uma sociedade segregada.

The value of dignity: Health insurance, ethics and court cases in Brazil

“…In Brazil, it is not uncommon to refer to the poor as criminals who have no right to visit shopping malls, airports, private hospitals. In Brazil, these places of consumption symbolically mark spatial and class boundaries that distinguish the ‘middle class’ from the poor (Pinheiro-Machado and Scalco, 2013, 2014). When people draw on these discourses, they self-identify as virtuous and hard-working ‘good people’.…”

Jovens Em Movimento: Mapas Plurais, Conexões E Tendências Na Configuração Das Práticas

“…Pautados nas redes sociais por jovens envolvidos com o "funk ostentação" (que buscam a inclusão social mediante o consumo de marcas de "grife"), aqueles encontros se deram em shopping centers situados em bairros periféricos de grandes cidades do país, lugares ocupados pelos "rolezeiros" em busca de lazer, de se darem a ver e circularem. Interpretados como insurgências, atos de protestos ou contestação política, os "rolês" deram visibilidade e reatualizaram o debate público sobre a "questão urbana", na medida em que os "fluxos" e atritos por eles provocados chamaram atenção para a negação do direito à cidade aos jovens moradores das periferias de grandes centros urbanos (PINHEIRO-MACHADO; SCALCO, 2014;CALDEIRA, 2014;PEREIRA, 2016).…”

Relações de poder entre o \"disciplina\" e os encarcerados no contexto da expansão das facções criminosas

“…Porém, esse acesso das classes mais pobres aos bens e lugares de consumo causou uma reação social que fez emergir toda a estrutura de segregação classista e racista do país (Pinheiro-Machado & Scalco, 2014). Um sentimento de ameaça surgiu nas classes dominantes que antes eram as únicas detentoras dos símbolos de prestígio e agora tinham que lidar com pessoas com características das classes mais pobres, ou seja, negras e negros de periferias, frequentando os mesmos lugares em que antes só transitavam pessoas abastadas.…”