Breve introdução ao debate: formal e informalDa linha de produçãode uma mercadoria na China até o seu destino final em uma banca de camelô de uma cidade brasileira qualquer -universo empírico sobre o qual se debruça este artigo -, há um sistema econômico complexo e multifacetado, alternando níveis de formalidade e informalidade ao longo de uma extensa cadeia mercantil. Nesse circuito global de bugigangas made in China, a noção de "ilícito" também se torna de difícil apreensão, ao se metamorfosear durante um ciclo transnacional, cujas fronteiras com o mundo ideal RBCS Vol. 23 n. o 67 junho/2008Agradeço a Ruben George Oliven pelo incentivo e por seus comentários a respeito deste artigo, e a Ceres Karam Brum, Gentil Corazza e Lenin Pires pela valiosa leitura.* da regulamentação do Estado são extremamente tênues e confusas. O objetivo deste artigo é discutir a fragilidade dessas categorias à luz da observação de uma cadeia produtiva completa. Tratar dessa manifestação do mundo do trabalho contemporâneo requer abordar algumas questões que vêm sendo trabalhadas nas ciências sociais há bastante tempo: os limites entre informalidade e formalidade, a crítica à noção de setor formal ou informal, entre outras. Essa discussão tem despertado o interesse no Brasil desde, pelo menos, os anos de 1970, época em que começava a surgir o debate intelectual que colocava em xeque a marginalidade da economia informal, até então tratada como um produto residual da evolução capitalista terceiro-mundista ou uma forma pré-capitalista. As teorias que emergiram naquele período convergiam para um mesmo ponto: a relação dinâ-mica entre formal e informal e a importância deste último para o desenvolvimento do capitalismo. Artigo recebido em novembro/2007Aprovado em março /2008
This paper focuses on the voters of Brazil's President Jair Bolsonaro in Morro da Cruz, a lowincome community in Porto Alegre. The transition from Lulism (2002Lulism ( -2016 to Bolsonarism (2018-) was marked by the rise and fall of the economy and the collapse of the political system. Based on a 10-year longitudinal ethnography, we look at the effects of such major shifts at the national level on people's individual self and political subjectivity. More specifically, we investigate how and why the 'new consumers'-those who accessed the finance system during the Workers' Party (PT) Administration-came to support a far-right candidate. We argue that the inclusion of the poor into the market economy brought about individual empowerment and a sense of self-worth in the PT era -a process that was threatened by economic recession, unleashing an existential crisis, especially among men. Bolsonaro, as a male figure, and his campaign gave order to a changing world, resulting in a reconciliation of personhood and political belonging.
Procuramos analisar como a cultura material foi abordada na Antropologia, ao longo de alguns momentos de sua história. Discutimos igualmente propostas contemporâneas, surgidas, em sua maioria, nos estudos sobre consumo. Por último, sugerimos suas possíveis contribuições, discutindo em que medida a transformação na abordagem antropológica da cultura material traz inovações e provocações para que repensemos nossas práticas.
This article aims to analyze the Brazilian phenomenon of ‘brand clans’ or ‘brand communities’, which means a group of young people who spend all their money buying branded clothes. The research is based on an ethnography carried out about the youngsters, mostly male, from Morro da Cruz – the largest lower class community in Porto Alegre, Brazil. On the one hand, we discuss the tension between poverty and brand consumption and on the other hand, we aim to make an inventory of subjectivities, emotions, logic and meaning of these young people coming from lower class who make great sacrifices in order to become ‘fashionable’ and thus feel socially included. The article is divided into five sections. In the first three, we discuss more theoretical topics, such as consumption, class, youth, totems and rituals. In the last two, we enter more thoroughly in the empirical universe, showing the results obtained through an ethnographic study. We argue that brands play a vital role in the life of the informants. Brands are not only a source of prestige, but also of vitality, power, and citizenship.
No início de 2014, o fenômeno conhecido como rolezinho ganhou ampla visibilidade nacional e internacional. Trata-se de adolescentes das periferias urbanas que se reúnem em grande número para passear nos shopping centers de suas cidades. O evento causou apreensão nos frequentadores e fez com que alguns proprietários dos estabelecimentos conseguissem o direito na justiça de proibir a realização dos rolezinhos, barrando o acesso dos jovens. Desde então, emergiu um amplo debate sobre segregação na sociedade brasileira. Com base em uma pesquisa etnográfica sobre consumo popular com jovens da periferia de Porto Alegre, o artigo analisa o fenômeno dos rolezinhos, abordando suas dimensões locais, nacionais e globais. Levando em consideração o atual momento brasileiro, que versa sobre políticas de ascensão social via consumo e sobre uma onda de protestos de inquietação social, argumentamos que os rolezinhos estão se modificando e encontrando diversas formas de discutir e realizar política cotidiana no âmago de uma sociedade segregada.
IntroduçãoMesmo tendo se passado três décadas da abertura econômica 1 ), que pôs fim à era Mao, a discussão acerca do "espírito" do capitalismo chinês ainda suscita muitas polêmicas. Isto, contudo, não se deve exclusivamente à nebulosa interseção da ideologia estatal socialista com a economia de mercado, mas principalmente ao questionamento da persistência da prática do guanxi -laços e conexões pessoais -no sistema econômico.O debate contemporâneo sobre o tema tem abordado a importância do guanxi em face de um sistema econômico que caminha em direção a uma suposta racionalidade das ações burocráticas e mercantis. Nesta perspectiva, a "teoria da transição" entende que a passagem do sistema socialista redistributivo para o capitalismo irá extinguir naturalmente a micropolítica dos laços pessoais (Guthrie 2002;Nee 1989 Nee , 1992. Noutra posição, como a sustentada neste artigo, entende-se que não existe um mercado ideal, pois ele é sempre imperfeito e inacabado e, portanto, o guanxi surge como aparato moral que preenche suas lacunas (Wank 1996(Wank , 2002. Trata-se de um componente emocional que, concomitantemente, responde e se alia a um novo sistema econômico, o qual introduz valores ocidentais baseados na legalização e no individualismo, por exemplo. Assim, o guanxi é entendido aqui como parte estruturante do mercado moderno e não como um vestígio arcaico que tende a desaparecer.O objetivo deste artigo é discutir um processo social amplo -a renovada importância do guanxi na engrenagem da economia de mercado chinesaa partir de um enfoque microscópico, baseado em minha experiência etnográfica. Se é notório o fato de que laços pessoais desempenham suma importância na conformação do mercado, na realocação de empregos e na prosperidade dos negócios em diversas sociedades (ver Granovetter 1973(ver Granovetter , 1974, o que se discute aqui é a intensidade, a particularidade e a resistência dessas características na China. Existe um "capitalismo chinês" (ou
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.