RESUMOO presente ensaio se propõe a discutir algumas das interfaces entre a questão da violência e a fase da adolescência na sociedade brasileira contemporânea. O texto traz em destaque a complexidade das causas e manifestações da violência, com ênfase nos contextos da família e da escola. A partir de uma revisão de dados epidemiológicos, o autor pontua diferentes manifestações do fenômeno da exclusão e sinaliza possíveis estratégias de prevenção à violência cometida por, contra e entre adolescentes. Palavras-chave: adolescência, violência, prevenção.
ABSTRACTThis paper aims at discussing some interfaces of the issue of violence and teenagers´ place in Brazilian contemporary society. The complexity of causes and its violence is emphasized, particularly in family and school contexts. From a revision of epidemiological data, different analyses of the exclusion phenomenum are presented and possible strategies to prevent violence against and among adolescents are suggested. Key-words: adolescence, violence, prevention.
IntroduçãoO presente ensaio se propõe a discutir algumas das interfaces entre a questão da violência e a fase da adolescência na sociedade brasileira contemporânea. A violência, em suas inúmeras modalidades e expressões, vem se tornando, em anos recentes, um dos problemas que mais angustia esta sociedade, quer seja devido à divulgação de fatos do cotidiano ou dados estatísticos, ou a uma sensação difusa de insegurança e desconfiança que se propaga. Institui-se, assim, um círculo vicioso no qual "a violência gera o medo, mas este gera igualmente a violência", numa escala que pode chegar ao grau de "psicose coletiva" (CHESNAIS, 1999).Em várias partes do mundo, inclusive nas Américas e no Brasil, a violência alcança tamanha disseminação, magnitude e freqüência que passa a ser reconhecida como um grave problema de Saúde Pública, cujas conseqüências não se limitam às crescentes taxas de mortalidade, mas englobam seqüelas biopsicossociais e morais em nível pessoal, familiar e coletivo (YUNES; RAJS, 1994).O fenômeno da violência, em sua complexidade e multicausalidade, tem engolfado também a adolescência. Os adolescentes, ao se envolverem com a violência, quer na condição de vítimas ou na de perpetradores, terminam por sofrer alguma forma de exclusão. Quando vitimados, ocorre a exclusão da própria vida ou do "estado de completo bem-estar físico, mental e social". Quando agressor, o adolescente é excluído da possibilidade de viver em exercício da cidadania, por meio da qual pode reconhecer-se e ser reconhecido como sujeito de direitos e deveres.
Alguns dados epidemiológicosNo Brasil, em 1996, 35,1% das mortes de jovens foram provocadas por homicídios e outras violências, percentual este que atingiu 47,7% nas regiões metropolitanas do país -(praticamente a metade!). Ao comparar o número de 15.288 jovens assassinados com os 1.199 óbitos decorrentes da Aids (2,8% da mortalidade juvenil) -em 1996 -WAISELFISZ (1998) denuncia que, para "um mal 13 vezes maior que a Aids, são ainda escassas e bastante tímidas as açõe...