Midiatização do crack e estigmatização: corpos habitados por histórias e cicatrizes

Abstract

Neste artigo propomos uma análise das experiências de usuários de crack em relação ao próprio corpo, sensações e histórias relacionadas ao uso da droga. Baseados nas pressuposições metodológicas da Hermenêutica de Profundidade, observação participante e grupos focais foram conduzidos em um Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas. A análise foi apoiada por autores da sociologia, psicologia social e psicanálise. Nos discursos dos profissionais da saúde, usuários de crack e da mídia de massa, foi confirmada a reprodução e manutenção das relações de dominação entre homens e mulheres. O corpo do usuário é alvo de categorizações sociais e acaba sendo colado à identidade de usuário de crack. Outro aspecto relevante observado foi que os usuários de crack apresentaram um pensamento crítico contra os discursos hegemônicos sobre drogas veiculados nos meios de comunicação.

Novas problemáticas sociais: o uso do crack em mulheres e a perspectiva de gênero

“…A situação da mulher usuária de crack retrata uma sequência de desigualdades: no ambiente familiar, na escola, nos locais de trabalho e no acesso aos serviços de saúde. O preconceito com a mulher usuária de crack repercute em todos os segmentos sociais, devido a discriminação de gênero presente na sociedade brasileira (Romanini & Roso, 2014). Muitas vezes, o preconceito aparece em mais de uma forma: no preconceito à mulher, negra, usuária de crack, prostituta e sem a convivência com os filhos.…”

“…Tais rótulos não condizem com os comportamentos culturalmente esperados, que são vistas como sexo dócil e frágil (Cruz, Oliveira, Coimbra, Kantorski, Pinho, & Oliveira, 2014). A discriminações de gênero no contexto brasileiro repercutem também nas representações sociais de homens usuários de crack, que percebem as mulheres usuárias de crack como um "corpo feio", que "não pegariam" e exibem as suas cicatrizes decorrentes do uso do crack como sinônimo de virilidade (Romanini & Roso, 2014).…”

Gênero como uma Categoria de Análise nos Estudos Brasileiros sobre Mulheres e Consumo de Crack

“…Considera-se, portanto, que envolver mulheres em pesquisas não determina o olhar do estudo. A relevância das questões de gênero foi citada em sete produções (23,3%) (e. g., Fertig, 2013;Malta, 2005;Malta et al, 2008;Romanini & Roso, 2014;Vernaglia, Vieira & Cruz, 2015;Cruz et al, 2014aCruz et al, , 2014b Malta et al, 2008;Cruz et al, 2014b). As demais (3), de alguma forma situaram como entendem gênero (e. g., Vernaglia, Vieira & Cruz, 2015;Cruz et al, 2014b;Fertig, 2013).…”

The use of crack and other drugs by children and adolescents and their repercussions in the family environment

“…Costs and social and clinical consequences associated with drug use are important, and users are socially marginalized and economically, with high risks of morbidity and mortality [1][2][3] . It should be noted that cocaine, in its different presentations, especially in the form of stone, known as crack, has shown a significant change in the forms and contexts of use, although it can not treat it as absolute evil 3,4 . Among the risk factors for substance use, point to the cultural aspects, interpersonal relationships and the psychological and biological issues.…”