Linguagem oral e escrita em adolescentes infratores institucionalizados

Abstract

OBJETIVO: mapear e caracterizar a ocorrência de distúrbios de comunicação oral e/ou escrita em um grupo de jovens infratores institucionalizados, verificando possíveis impactos das dificuldades de linguagem e comunicação na vida social desses sujeitos. MÉTODO: estudo exploratório e descritivo, com 40 internos da Fundação Casa, entre 15 e 18 anos, da unidade UI 25 - Rio Negro, do complexo da cidade de Franco da Rocha - SP. Para a coleta de dados, foram aplicados o Teste do Mini-Exame do estado mental, com o objetivo de detectar eventuais alterações cognitivas; o Teste Montreal, que analisou habilidades simples de linguagem oral e escrita; e uma entrevista semi-estruturada, cujo roteiro versou sobre Saúde Geral, Trajetória Escolar, Trajetória Profissional e percepções sobre o comportamento infracional. RESULTADOS: verificou-se que a maior parte da população era alfabetizada e que não houve ocorrência de déficits cognitivos. Houve índice alto de abandono escolar, oriundo de dificuldades em acompanhar conteúdos escolares e se adaptar às regras e dinâmica escolar, o que indica impactos das dificuldades de linguagem, especialmente da linguagem escrita, em condição que, associadas a outros fatores, favoreceram os comportamentos infracionais. CONCLUSÃO: os jovens infratores apresentaram problemas para se desenvolver e se engajar a valores e normas sócio-culturais, como também escolares, o que impõe limites ao acesso e circulação discursiva desses sujeitos, restringindo os usos da linguagem, na condição de prática social ao desenvolvimento pessoal e da cidadania. Tais achados dão indícios, entre outros fatores, do impacto social que a precária escolarização e socialização dos jovens pode ajudar a acarretar. O estudo demonstra que a linguagem deve ser concebida como prática social, sobretudo, nas formas de expressão e de comunicação desses sujeitos.

School Experience During Adolescence: A Comparative Study Between Adolescent Offenders and Not Offenders

“…Although "school performance" is considered to occur in the context of a teaching-learning process, that means, in the interactions between teachers and students, as well as, in the conditions surrounding such interactions, according to the theoretical model adopted (LeBlanc, 1997), and other researchers (Destro & Souza, 2012), it happens in terms of subjective experience as a matter of personal competence. Throughout the schooling process, the feeling of school (in) competence built up, becomes decisive regarding (non) perseveration of the studies.…”

“…The evidence, derived from research carried out through different methods and in different sociocultural contexts, is in line with the propositions inherent in the Theory of Control of Conduct "in and by the school." They indicate that school experience characterized by low performance (Calejon, 2017) and delay (associated with a sense of incompetence and lack of motivation) (Bazon et al, 2013), low investment in school activities, absenteeism and dropout educational aspirations) (Destro & Souza, 2012;Silva et al, 2016), denote school dissociation. Similarly, they indicate that students' difficulties in interacting with peers and teachers (Bazon et al, 2013) and the fact that they are often punished by the school (Cornell, 2013;Esterle-Hedibel, 2006), are associated risk factors conduct.…”

Adolescentes em Medida Socioeducativa: Violência ou Violação de Direitos? Revisão de Literatura

“…Num outro foco de abordagem, há artigos que estudam a construção feita pelas mídias sociais, da "representação social" dos adolescentes que cometeram ato infracional (Soares;Destro;Souza, 2012;Njaine, 2006;Njaine;Minayo, 2002;Espíndula et al,2006).…”

Linguagem de adolescentes sob medidas socioeducativas em meio aberto

“…Estudos 9,10 que correlacionam atos infracionais com dificuldades escolares, cognitivas e de linguagem em crianças e adolescentes, sinalizam que é possível associar o comportamento do delinquente com alguma dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem. No caso, a dificuldade de ler e escrever poderia isolar ou estigmatizar alunos que, às vezes, procuram superar suas limitações linguísticas com comportamentos agressivos, rebeldes ou violentos 8 . Do nosso ponto de vista, a observação de situações como as mencionadas acima não é incomum, o problema parece estar em sua mera individualização e patologização, como se fossem causas suficientes das condições em que se encontram os adolescentes em conflito com a lei.…”