A importância do acesso aos serviços de saúde para a superação dos impasses no âmbito da gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) motivou a sistematização dos seus avanços, limites e desafios por meio de uma revisão da produção científica. Este estudo apresenta os principais resultados das pesquisas sobre acesso, tendo como universo de análise 5 revistas científicas brasileiras de Saúde Coletiva, indexadas internacionalmente e disponibilizadas na Scientific Electronic Library Online (SciELO). Contemplaram os critérios de inclusão 25 artigos envolvendo pesquisas qualitativas e relatos de experiências, escritos em português, espanhol e inglês, publicados de 2002 a 2011. Na análise do campo objetal, os resultados evidenciam a noção de acesso relacionada às seguintes categorias: processos de trabalho; organização da rede de atendimento; sistema e modelo de atenção. Centrados na avaliação das condições de acesso, os estudos direcionam as críti-cas aos aspectos de esgotamento do sistema, sendo a organização da rede de atendimento o principal alvo das discussões, à luz das representações sociais dos sujeitos envolvidos, em especial dos usuários dos serviços. Limites, avanços e desafios são identificados com ênfase nos níveis da micro e mesogestão, isto é, no âmbito dos processos de trabalho e na organização da rede, ficando em segundo plano a análise da lógica do sistema, definidora do modelo de atenção, que organiza o acesso aos serviços, bem como as respostas às necessidades advindas dos determinantes sociais da saúde, das transições demográficas e epidemiológicas e do papel do controle social na efetivação do direito à saúde. Palavras-chave: Acesso aos Serviços de Saúde; Sistemas de Saúde; Atenção à Saúde.
In this article, a new history of medical knowledge on Carrion's disease is presented. In a preliminary review of historiography (since 1885), we have found the following narrative nucleus (still repeated today): 1) until 'Oroya fever' appeared (1871), only an eruptive disease, the Peruvian wart, was known; 2) in 1875, Peruvian physicians proposed that Peruvian wart and Oroya fever should be the same disease; 3) in 1885, Daniel Carrión succeeded in experimentally unifying the clinical conditions when he inoculated blood from a patient of Peruvian wart in himself and died of Oroya fever; and 4) the disease was then renamed as 'Carrion's disease'. Herein, we question some of the foundations of this traditional version. The medical literature published in English, German, and French show that a global clinical description of the disease was already known in the period 1842-1871. Only the medical literature published in Spanish described the illness as an afebrile dermatosis. Obstacles to the knowledge of the disease were also found, which explain such divergence. Diversity and inconstancy of general and local symptoms (such as fever and eruptions, respectively): 1) made it difficult a comprehensive understanding of manifestations; 2) suggesting a constant complication of malaria; 3) and precluding analogy with eruptive fevers. Differently from what the traditional version suggests, these obstacles were overcome previously and independently from the appearance of the spurious notion of 'Oroya fever'. Overcoming of such obstacles was not achieved by unification of both diseases, but by perception of a coordination of manifestation of heterogeneous symptoms. Such rationalism allowed integration of symptoms that a shallow empiricism kept separated as isolated pathological phenomena, favoring clinical differential diagnosis between Peruvian wart and malaria. This epistemological study contributed to a greater understanding of mechanisms of building of nosologic unity in the Clinical Age of medicine.RESUMENNeste artigo, uma nova história do conhecimento médico sobre a doença de Carrión é construída. Em uma preliminar revisão da historiografia (existente desde 1885), encontramos o seguinte núcleo narrativo (ainda reiterado, atualmente): 1) até o surgimento da ‘febre de Oroya’, em 1871, conhecia-se apenas uma doença eruptiva, a verruga peruana; 2) em 1875, a medicina peruana propôs que a verruga peruana e a febre de Oroya deviam ser a mesma doença; 3) em 1885, Daniel Carrión conseguiu experimentalmente unificar os quadros clínicos quando inoculou em si mesmo sangue de um paciente com verruga peruana e morreu com febre de Oroya; 4) a enfermidade passou a denominar-se ‘doença de Carrión’. Este artigo questiona alguns dos fundamentos desta versão tradicional. A literatura médica publicada em inglês, alemão e francês mostra que, entre 1842 e 1871, já existia a descrição clínica global da doença. Apenas a literatura médica publicada em espanhol descrevia a doença como dermatose apirética. Descobriram-se também os obstáculos ao conhecimento da doença, que explicam esta divergência. A disparidade e a inconstância dos seus sintomas, os gerais e os locais (tal como febre e erupções, respectivamente): 1) dificultavam a compreensão global de suas manifestações; 2) sugeriam uma complicação constante do paludismo; 3) e barravam a analogia com as febres eruptivas. Diferentemente do que propõe a narrativa tradicional, estes obstáculos foram superados antes e independentemente do aparecimento da noção espúria de ‘febre de Oroya’. A superação não veio pela unificação de duas doenças, mas pela percepção de uma coordenação na manifestação dos sintomas heterogêneos. Este racionalismo conseguiu integrar sintomas que um empirismo raso apartava, como fenômenos patológicos isolados, e encaminhar o diagnóstico diferencial clínico entre a verruga e o paludismo. O saldo epistemológico deste trabalho é uma maior compreensão dos mecanismos da construção da unidade nosológica, na Idade Clínica da medicina.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.