Na literatura sobre o autismo, frequentemente as diferenças atribuídas às crianças com este diagnóstico estão relacionadas aos prejuízos nas áreas de interação social, linguagem, comportamento e jogo simbólico, bem como aos graus de severidade do quadro clínico. Ressalta-se nesta pesquisa, a importância de se considerar não somente as dificuldades que tais sujeitos apresentam, mas também as diferenças e as possibilidades no que se refere aos interesses, habilidades, necessidades, desejos e experiências sociais singulares. Não se pretendeu, neste estudo, somente identificar as dificuldades de linguagem (comunicação não-verbal e verbal) e de interação social, bem como as relativas ao brincar, mas, principalmente, evidenciar as possibilidades de desenvolvimento em um ambiente terapêutico incentivador, que considere as peculiaridades de crianças com autismo e proporcione experiências interacionais e comunicativas significativas. Esta pesquisa qualitativa participante, então, teve como objetivo analisar os processos do brincar e de aquisição de linguagem de três crianças com autismo, a partir da mediação da terapeuta, em contexto lúdico. As crianças, duas do sexo feminino e uma do sexo masculino, com idades entre 3 e 4 anos, foram atendidas em grupo, em uma associação especializada no atendimento de pessoas com transtorno do espectro autista. A coleta de dados foi feita com a vídeo-gravação de sessões realizadas semanalmente pela pesquisadora-fonoaudióloga, a partir de uma abordagem interacionista, com duração de quarenta e cinco minutos cada, durante o período de um ano. Os dados foram transcritos e, posteriormente, analisados de acordo com as premissas da análise microgenética. Foram apresentados em forma de episódios e os resultados mostraram que, a partir da mediação da terapeuta, as crianças passaram a atribuir funções aos brinquedos e a apresentar desenvolvimento de intenção comunicativa. Durante o processo de desenvolvimento do brincar apresentaram indícios de linguagem não-verbal e verbal para solicitar ou mostrar brinquedos, solucionar problemas ou, ainda, demonstrar necessidades e desejos.Observou-se, também, que, juntamente com a intenção comunicativa das crianças em contexto lúdico, foram surgindo indícios de experiências vivenciadas em seus meios sociais e adquiridas durante o processo terapêutico. Assim, pode-se concluir que as viii situações lúdicas mediadas pela terapeuta possibilitaram a construção de significados neste contexto, ampliando as oportunidades de vivências comunicativas destas crianças.Palavras-chave: Transtorno autístico; Linguagem; Jogos e brinquedos.