Um projeto para as cidades brasileiras e o lugar da saúde pública

Abstract

RESUMO O artigo reconstituiu marcos fundamentais da urbanização brasileira, com o objetivo de argumentar pela necessidade de construção social de um projeto para as cidades do Brasil capaz não apenas de trazer formulações intelectuais progressistas, mas também, sobretudo, de convergir forças sociais em torno de uma agenda que vise à consecução de cidades mais justas em termos socioespaciais, ambientalmente sustentáveis, economicamente dinâmicas e culturalmente plurais. Para tanto, em um primeiro momento, tratam-se aspectos estruturais da urbanização brasileira ao longo do século XX, bem como salientam-se experiências virtuosas de governos locais no fim dos anos 1980 e 1990. Em seguida, analisam-se contradições engendradas nos anos 2000 e, por fim, elencam-se algumas das primeiras propostas minimamente consensuadas até aqui.

Expansão Urbana De São Miguel/Rn: Análise No Recorte Temporal De 2000 a 2017

“…Todas as grandes mazelas urbanas vividas pela maioria da sociedade estão ligadas à produção do espaço urbano sob a forma hegemônica da mercadoria: segregação, dispersão, periferização, carência de serviços, epidemias decorrentes da ausência de drenagem ou terrenos abandonados, violência, longas viagens diárias, ausência de áreas verdes, ocupação de áreas com risco de desmoronamento, impermeabilização exagerada do solo, enchentes, poluição de recursos hídricos, ocupação de áreas ambientalmente frágeis, desmatamento, entre outras (MARICATO; COLOSSO;COMARÚ, 2018, p. 206).…”

“…Nesta perspectiva, o capitalismo se reproduz através do espaço geográfico, pois sem a expansão, reorganização e desenvolvimento geográfico desigual, ele inexistiria como sistema econômico político; a geografia histórica da acumulação do capital tem sua expressão no ajuste espacial da divisão desigual dos territórios (HARVEY, 2005). A cidade é uma mercadoria especial e o preço das edificações varia com a localização; o valor de acordo com a localização é o negócio da cidade e configura a renda imobiliária; e só mora em um bom local e se tem direito à cidade quem pode pagar (MARICATO, 2015). Portanto, nas cidades, além da reprodução da força de trabalho, existe um grande negócio, com disputa entre os que querem melhores condições de vida e aqueles que visam extrair ganhos com sua produção e exploração, gerando lucros, juros e rendas (MARICATO, 2013).…”

Avaliação da expansão urbana na Cidade de Maceió, Alagoas – Nordeste do Brasil

“…Nas últimas décadas, ocorreram profundas transformações socioeconômicas e geoambientais nas cidades brasileiras com população superior a 500 mil habitantes (Maricato et al, 2018;IBGE, 2020). Parte dessas transformações se deve a implantação de políticas públicas Federais com intuito do desenvolvimento e expansão das cidades, destaque para os Programas Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa Minha Vida (PMCMV) - (Menezes & Mourão, 2017;Correia Filho et al, 2019).…”

“…Vale destacar que estes efeitos também contribuíram para o aumento das emissões atmosféricas de gases de efeito estufa (GEE) e na piora da qualidade do ar das regiões metropolitanas (RM) do Brasil -(Zeri et al, 2016), e em situações severas, problemas de saúde pública (Guha et al, 2018;Maricato et al, 2018). É sabido com o desenvolvimento das cidades, ocorre impermeabilização de solos, seguido da ocorrência de inundações repentinas e alagamento em áreas urbanas, que por sua vez resultam em problemas de drenagem urbana que causam aumento das doenças de veiculação hídrica (dengue e leptospirose) - (Correia Filho, 2017;Santos et al, 2018;Oliveira Júnior et al, 2019).…”

Disaster risk areas in Brazil: outcomes from an intra-urban scale analysis

“…An estimation pointed that for every 100 inhabitants in Brazil, 9 lived in disaster risk areas in the country (Alval a et al, 2019). The existence of a disaster exposed population is a result of the lack of urban planning, the housing market structure, and the historical inaction of the State towards the implementation of housing policies (Maricato et al, 2018). Human and economic losses have been periodically registered, emphasising the genesis of the socially constructed disasters, which are intrinsically related to the unequal process of Brazilian urban development (Carmo, 2014).…”