208Fractal: Revista de Psicologia, v. 22 -n. 1, p. 207-234, Jan./Abr. 2010 Yves Clot
A CONFERÊNCIAA conferência que eu previ fazer hoje é uma conferência cujo título é A psicologia do trabalho -a tradição francófona em psicologia do trabalho -e o que pode trazer a esse quadro aquilo que busco fazer hoje, a clínica da atividade.Eu gostaria de dizer que ampliei um pouco a questão. Eu trato, evidentemente, da psicologia do trabalho e, mais largamente, abordo a questão da ergonomia, pois considero que a ergonomia faz parte da análise do trabalho, e mesmo da análi-se psicológica do trabalho. Em todo o caso, na França é assim. Portanto, tentarei dar um lugar, um lugar que para mim é importante, à ergonomia, nesta conferência.Esta conferência tem como objetivo, se eu posso dizer assim, tentar expor as iniciativas e os problemas que encontraram três gerações de analistas do trabalho na França e no mundo francofônico. Tentarei traçar brevemente a história de três gerações de psicólogos do trabalho francofônicos, e demonstrar, do meu ponto de vista, modesto, o lugar que eu tento ocupar nessa história, o que faço do trabalho que foi feito por três gerações. Minha maneira de lê-la, compreendê-la, prolongá-la. Minha própria maneira de respeitar essa herança.Evidentemente, todos os homens e mulheres dos quais vou falar são para mim objeto de um grande respeito, porque são eles que me permitiram introduzir-me no ofício que exerço atualmente; no fundo, quando eu faço a clínica da atividade é sempre pensando nos antigos, que nos deixaram uma herança que não podemos comprometer. Portanto, é com grande respeito que eu vou tentar traçar esse caminho da história dessas três gerações.A primeira geração que inventou a análise do trabalho é a geração que viveu no começo do século passado, início do século XX, nos anos de 1900, 1910, antes da Grande Guerra de 1914 -1918. É toda uma geração que, de certa maneira, precedeu, na França pelo menos, a chegada da Organização Científi ca do Trabalho, que é mais conhecida com o nome de OCT ou de taylorismo. A análise do trabalho francofônica, e mesmo o que já se chamava de Psicologia do Trabalho, precedeu a chegada do taylorismo nas fábricas, desde o começo do século XX, na França.Esses primeiros psicólogos do trabalho têm diversos nomes, destacarei dois em especial, já que não poderei tratar de toda a história aqui, não tenho tempo para isso. O que me dá, particularmente, prazer é que entre eles há uma mulher, o que é muito raro em nossa disciplina. Essa mulher contribuiu muito, foi muito mais importante do que aparece na história ofi cial, eu gostaria de lhe render homenagem, essa mulher se chama Suzanne Pacaud.O segundo grande psicólogo do trabalho, precursor, se podemos dizer assim, foi o chefe de Suzanne Pacaud. Evidentemente o chefe do laboratório era um homem, com quem ela trabalhou muito. Ele se chama Jean Maurice Lahy.Esses dois psicólogos do trabalho, que começaram a trabalhar nos anos 1910, do século XX, inventaram o que podemos chamar de psicotécnica do trabalho. Tentarei dizer, ...