Neste artigo, objetiva-se realizar uma discussão sobre o novo perfil de tradutores e intérpretes de língua de sinais que está se constituindo no Brasil a partir das políticas públicas de incentivo à formação deste profissional. Analisa-se, qualitativamente, um questionário semiaberto respondido por alunos de um curso de Bacharelado em Tradução e Interpretação em Libras e Língua Portuguesa de uma universidade federal localizada no Estado de São Paulo. Os resultados apontam para uma busca pela área não mais marcada pela relação prévia com os surdos ou para a diplomação de uma atividade já praticada, mas pela opção de pontuação atribuída na lista de escolha profissional do Sistema de Seleção Unificado (SISU). Isso remonta a hipótese de um novo perfil profissional distinto do das décadas de 1980, 1990 e 2000. Com a visibilidade e disseminação da língua de sinais os ingressantes têm enxergado nesta língua mais uma opção de formação para o mercado profissional. Problematiza-se, então, a necessidade de se promover uma formação que congrega, desde o primeiro ano, sujeitos não falantes da Libras, bem como seus desafios didáticos e pedagógicos na formação e, com isso, na promoção da acessibilidade comunicacional das comunidades surdas brasileiras.
RESUMO: Este artigo tem por objetivo conduzir uma discussão sobre a atividade de trabalho do tradutor intérprete de libras/português (TILS) de uma perspectiva ergo-dialógica. A partir das concepções da Ergologia, abordagem filosófica que visa compreender o trabalho para transformá-lo e da perspectiva dialógica de estudos da língua e da linguagem, realiza-se a análise de uma narrativa produzida por um TILSP sobre uma situação de interpretação na esfera universitária. Compreende-se, aqui, a atividade de interpretação em "linguagem como trabalho" e, por meio disso, analisa-se as interfaces, dramáticas, intercorrências e escolhas enunciativo-discursivas manifestas no posicionamento responsável do intérprete enquanto enunciador/mediador das relações entre surdos e ouvintes.
RESUMODiscute-se, neste artigo, os aspectos da inserção da janela de língua brasileira de sinais (Libras) em produções audiovisuais a partir das especificidades dos gêneros do discurso a serem mobilizados pela tradução, bem como seus efeitos para a formação de tradutores e intérpretes do par linguístico Libras/Língua Portuguesa (LP). Com base na teoria dos gêneros do discurso elaborada por Mikhail Bakhtin e seu Círculo, discute-se que a acessibilidade linguística para surdos em materiais audiovisuais com a inserção da janela de Libras clama por uma discussão para além dos parâmetros técnicos de captação da imagem do tradutor e da sua inserção na produção midiática. Faz-se necessário discutir as especificidades enunciativo-discursivas do vídeo fonte para dar à janela de Libras a dimensão de acabamento (tamanho, recorte, posição) a partir das especificidades do gênero. Para comprovar esta tese, analisa-se produções de dois gêneros com janela de Libras que foram produzidas em um curso de pós-graduação lato sensu para tradutores e intérpretes de Libras/Português. Palavras-chave: Tradução, Janela de Libras, Verbo-visualidade. ABSTRACTIn this article, we discuss the aspects of the Brazilian Sign Language (Libras) window insertion into audiovisual productions based on the specificities of the speech genres mobilized in the translation activity, as well as their effects on Libras/Portuguese translators and interpreters training. We are using the conception of speech genres elaborated by Mikhail Bakhtin and his Circle to theoretical discussion. It is argued that the linguistic accessibility for Deaf people by the Libras window insertions in videos needs a discussion beyond the technical parameters of image capture of the translator and/or the interpreter the insertion of space into production. It is necessary to discuss the enunciative-discursive specificities of the source video to give the Libras window the dimension of finishing (size, cut, position) from the genre specificities. To prove this thesis, we analyze productions of two genres with Libras window that were produced in a Libras/Português translators/interpreters course.
Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa qualitativa, de caráter analítico-descritiva, que objetivou investigar o processo de interpretação intermodal do português para a Libras realizada em equipe a partir do gênero entrevista coletiva. O corpus foi coletado junto à equipe de intérpretes de Libras que atua no Programa Roda Viva da TV Cultura. A partir da triangulação teórica entre o pensamento bakhtiniano, os estudos da tradução e interpretação da língua de sinais (ETILS) e a ergologia, o estudo observou, por meio do dispositivo metodológico da autoconfrontação simples e cruzada, como os intérpretes, enquanto trabalhadores, observam, descrevem e analisam sua própria atividade interpretativa a partir do gênero em questão. Foram encontradas diferentes estratégias de interpretação como o uso de recursos linguístico-discursivos relacionados às características da Libras enquanto língua-alvo e o impacto da visualidade do cenário do programa na construção discursiva da língua-alvo, bem como aspectos diretamente relacionados com o gênero entrevista coletiva e com o trabalho em equipe como a importância da preparação, a influência do tempo durante a interpretação simultânea, as dramáticas do uso de si em relação às tomadas de decisão durante a atividade interpretativa e a manutenção das escolhas realizadas pelo intérprete de turno a despeito das sugestões do apoio.
Esse artigo tem como objetivo apresentar uma análise descritiva de estratégias de interação utilizadas por equipes de intérpretes de Libras-Português na interpretação simultânea remota de conferências durante a pandemia de COVID-19. São analisadas interações estabelecidas entre oito intérpretes em onze conferências apreciativo-informativas do tipo acadêmica e cultural realizadas no período de maio a dezembro de 2020. A análise revela a mobilização de estratégias específicas ligadas à (i) preparação, quando os profissionais precisam adequar estruturas para atuar de suas residências e instruir às equipes de apoio técnico de transmissão sobre as janelas de Libras e as formas de revezamento dos intérpretes; (ii) à interpretação, quando a equipe de intérpretes precisa se comunicar sem prejudicar a transmissão; e (iii) avaliação, quando os intérpretes buscam sistematizar as experiências de interpretação em comunidades de práticas a fim de garantir a construção de normas e orientações coletivas para esse tipo de atuação.
Este trabalho analisa a representação que os sujeitos Surdos possuem do fonoaudiólogo e do trabalho na reabilitação em diferentes abordagens utilizadas por estes profissionais. Foram entrevistados dezesseis sujeitos Surdos por meio de filmagem com câmera digital e suas entrevistas foram traduzidas, transcritas e analisadas posteriormente por meio da proposta de Bardin (1977). Os resultados mostram que o fonoaudiólogo é visto pelos Surdos como aquele que pode possibilitar o acesso à linguagem oral para que eles se comuniquem com ouvintes que não saibam Libras. O corpus também mostra uma mudança política do Surdo frente a fala, visto que, no discurso dos entrevistados, a linguagem oral aparece como uma necessidade para a comunicação com sujeitos ouvintes que não saibam língua de sinais e não mais como uma imposição por parte da família.
RESUMO Este artigo apresenta o recorte de uma pesquisa de doutorado que discutiu a formação de intérpretes de língua brasileira de sinais (Libras) e língua portuguesa (LP). A pesquisa foi realizada em um curso de especialização em tradução e interpretação de Libras/LP, em uma instituição de ensino superior privada na cidade de São Paulo. Os participantes da pesquisa são intérpretes com, no mínimo, três anos de experiência. Em uma disciplina destinada ao aprimoramento da interpretação na direção Libras-LP, seis sujeitos interpretaram vídeos em duplas e, posteriormente, foram colocados diante da sua própria performance interpretativa por meio do dispositivo da autoconfrontação. Apresenta-se, aqui, como a posição dos sujeitos frente aos “outros de si mesmos”, reveladas na autoconfrontação simples, remete à alteridade constitutiva da atividade de trabalho, e a necessidade de um constante movimento de enfrentamento de si mesmo como outro para o aperfeiçoamento da prática profissional.
Neste artigo, são apresentados os resultados de uma pesquisa de amplitude nacional que objetivou comprender a preferência dos surdos em relação às janelas de Libras, que constituem o espaço de circulação da tradução e interpretação da língua de sinais em obras audiovisuais. Os dados foram coletados por meio de um questionário virtual bilíngue que circulou entre a comunidade surda brasileira por meio das redes sociais apresentando aos respondentes surdos cinco propostas de janelas para três gêneros do audiovisual: cinematográfico-comédia, jornalístico-televisivo e videoaula. Os respondentes avaliaram cada proposta com notas entre 1 (ruim) e 5 (excelente). Os dados mostram que a preferência pelas janelas se altera de acordo com o gênero avaliado. As mesmas propostas receberam diferentes avaliações nos três gêneros. As propostas oficiais não foram bem aceitas para os gêneros no qual elas foram criadas e as janelas elaboradas pelo mercado receberam avaliação positiva em dois dos gêneros propostos. Os dados indicam que há a necessidade de debate sobre as proposições e inserções dessas janelas a partir dos gêneros discursivos e não por uma imposição normativa estanque, bem como a necessidade de mais estudos de recepção junto à comunidade surda em relação à TIALS.
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