ResumoFerreira Gullar afirmou em diversas ocasiões, em textos críticos, biográficos e entrevistas, que sua poesia nasce do cotidiano e do espanto, que é a sensação de estranheza diante de objetos e situações já conhecidos. O objetivo deste artigo é observar se essas afirmações, feitas no plano teórico, de fato se dão na obra poética de Gullar, ou seja, se a fonte do poema é o cotidiano e o espanto diante dele. Para tanto, selecionou-se alguns poemas de Muitas vozes (1999) e serão considerados, além de escritos teóricos do próprio Gullar, textos de Octavio Paz, Maurice Blanchot e Jacques Aumont.
O espaço perceptivo e a construção da cenaElaborar um roteiro de leitura do espaço urbano na poesia requer perceber de que modo a instância do sujeito faz representar-se na linguagem; e de que modo esta, em termos formais, marca a experiência cultural e estética do sujeito que lê a cidade, a partir de um lugar e de um tempo. A dimensão enunciativa do texto poético instaura a presença de um sujeito que vai se delineando como memória de uma experiência urbana e de uma experiência poética. Assim situado, esse sujeito inaugura no poema um espaço discursivo que opera procedimentalmente a imagem do corpo e da voz do(s) sujeito(s) como instâncias da construção do urbano. Este surge, pois, como o lugar da cena poética, ou seja, como "o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível" (Merleau-Ponty, 1971). O espaço a ser explorado no contexto da poesia nesta proposta de estudo está ligado à percepção do sujeito, ao seu modo de sentir, e, por isso, ele não existe previamente, mas como uma instância movente que emerge no texto a partir do olhar do sujeito. Um espaço espacializante, no entendimento de Merleau-Ponty, ou seja, um espaço construído a partir das coordenadas dadas pela percepção do sujeito. Paul Zumthor (2014) fala em performance ao situar o sujeito como um corpo no espaço, que o inaugura e o sente na sua expressão primeira. Os objetos inaugurados a partir do olhar perceptivo do sujeito constroem um espaço reflexivo no qual as zonas de contato entre os objetos permitem ler a gestualidade dos corpos postos em relação. 2 O urbano inaugura-se, por sua vez, como um dado da paisagem e situa-se nessa tensão. Inaugura-se como signo e deve ser entendido num processo relacional, pois seu sentido só tem morada no poema, como elemento articulador de um espaço inaugural para um sujeito que o pensa.1 Doutora, professora de literatura brasileira da Universidade Estadual Paulista (UNESP), São José do Rio Preto, SP, Brasil. E-mail: susanna@ibilce.unesp.br 2 Eu chamaria a atenção do leitor para a questão da "performance" a que Paul Zumthor se debruça e que nomeia como uma "operação cognitiva" (Zumthor, 2014, p. 44), pois situa o sujeito na cena e no seu imaginário. A poesia seria a expressão consciente dessa percepção do sujeito como um olhar original que se impõe diante do mundo e que, por fim, o constrói, o sujeito mesmo e o mundo.
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O dado de provocação desta pergunta ainda se faz presente, passados dez anos de sua morte . A escritora, poeta e teatróloga, nascida em Jaú, São Paulo, ganha nestes últimos tempos uma nova leitura e um interesse crescente por sua obra. Teria escrito para quem? Queixava-se desde os anos 1970 da falta de leitores de seus textos. Teria Hilda Hilst escrito para os leitores de nossa época? Leitores curiosos e abertos aos temas de sua estranha forma? Leitores que não mais se enrubescem ante os despudores de seus personagens? O fato é que há leitores que não têm medo de percorrer o impasse que a literatura oferece no seu insistente renascer de formas e temas. Os que enfrentam o jogo fornecido pela escritora absorvem e revolvem esse universo do sacro e metafísico, do erótico e pornográfico, do combativo discurso político e social, do amoroso e sublime desejo da morte.Em torno de Hilda Hilst é um livro que se situa no panorama da leitura atenta, sensível e curiosa da obra da autora. Reunimos aqui pesquisadores da obra de Hilda Hilst, do Brasil e do exterior, amantes dessa chama inquieta que é o texto literário que a escritora paulista tão bem soube manter quente e acesa ao longo dos quarenta e sete anos de trabalho exclusivo com a literatura. Vários olhares e vários enfoques acendem a chama da palavra em lança, em jogo
Jean-Pierre Lemaire (1948, Sallanches, França) é poeta, professor de latim, e mora em Paris. Publicou oito livros de poesia: Les marges du jour (La Dogana, 1981), L’exode et la nuée, seguido de La pierre à voix (Gallimard, 1982), Visitation (Gallimard, 1985), Le coeur circoncis (Gallimard, 1989), Le chemin du cap (Gallimard, 1993), L’Annonciade (Gallimard, 1997), L’intérieur du monde (Cheyne, 2002) e Figure humaine (Gallimard, 2008). Além disso, é autor de um volume de ensaios sobre poesia, Marcher dans la neige (Bayard, 2008).
RESUMO:A poesia de Frederico Barbosa constrói um labirinto intricado e surpreendente de palavras e sentidos, nos quais os conceitos de negatividade e vazio emergem como voz do sujeito lírico. Este artigo tem como proposta seguir os roteiros desta poesia em termos de seus procedimentos poéticos e linguísticos que formatam o ponto de vista crítico da poesia em si e dos medos e limites do homem. PALAVRAS-CHAVE:Frederico Barbosa; labirinto; negatividade; vazio.ABSTRACT: Frederico Barbosa's poetry builds an intricate and amazing maze of words and meanings in which negativity and emptiness concepts emerge to be the expressing voice of the lyric subject. This article aims to follow the routes of this poetry in terms of its poetic and linguistic procedures, of giving shape to its critical point of view on poetry itself and on the fears and edges of humanity.KEYWORDS: Frederico Barbosa; maze; negativity; emptiness.Ler/escrever/sentir, para o raciocínio crítico, é sempre transpor um espaço: é recusar as facilidades das relações entre o texto e o leitor. É perceber na voz que dá forma ao verso a presença de um sujeito. Ou mais: é perceber, no caos figurado na sintaxe do poema, a criação de um "eu" que arquiteta as escolhas e revela as fronteiras, os limites e os desafios em termos da linguagem que articula. Também nossos desafios e nossos limites se movem na leitura dos roteiros que a persona poética do sujeito performatiza no discurso. Por isso, nada é tão simples no roteiro de leitura que proponho desenhar.Percebo o sujeito lírico na poesia contemporânea emergir como um náufrago. Motivado pelo canto das sereias da poesia, cujas notas ainda atravessam os tempos, ressurge o sujeito no poema em negações contínuas de um discurso poético que se dissolve e se revolve para poder fincar-se à espreita de si mesmo. Inaugura para si um espaço e um tempo de negativas que se experimentam como cenas de uma morte reafirmada por uma razão que assume o seu lugar como reivindicadora do poético. O pensador italiano Giorgio (2006) afirma, em seu livro A linguagem e a morte, ao pensar, a partir de Heidegger, o Dasein, ou melhor, o "ser-aí" do sujeito, que ele vive, na sua estrutura, um "ser-para-o-fim, ou seja, para
A partir de pressupostos da Teoria da Narrativa apresenta-se este resultado de pesquisa. O tema concentra-se nos limites entre as categorias de ‘modo e voz’, desenvolvidas por Gérard Genette em Discurso da narrativa, (1979). Neste sentido, objetiva-se discutir alguns equívocos que os questionamentos sobre ‘quem fala’? e ‘quem vê’? podem desencadear em certos textos narrativos. Parte-se da hipótese de que tais confusões teóricas podem comprometer a interpretação crítica da obra literária. Os métodos empregados restringem-se ao recurso da pesquisa bibliográfica na área da Teoria Literária, sendo que, para tanto, utilizaremos como principal aporte a obra teórica Discurso da narrativa, de Gérard Genette (1979). No percurso de elucidação de nossas hipóteses, selecionaremos como corpus o romance Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago (2014). Com semelhante estudo, espera-se chegar à compreensão dos possíveis efeitos de sentido que as categorias de ‘modo e voz’ podem trazer ao objeto artístico.
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