Universidade do Vale do Rio dos SinosRESUMO: O artigo retoma brevemente as condições históricas que permitiram a emergência de abordagens metodológicas que problematizam a relação entre pesquisador e ato de pesquisar e propõe uma comparação entre as finalidades da pesquisa-ação e da pesquisa-intervenção. Sustentando-se em contribuições teóricas do movimento institucionalista e da filosofia da diferença, aponta a noção de análise de implicação como conceito-chave que permite nuançar as abordagens em debate. Consoante ao pensamento de Lourau, defende-se a idéia de que a consideração do conjunto de condições que circunscrevem o ato de pesquisar é o que confere estatuto de cientificidade ao trabalho de pesquisa. PALAVRAS-CHAVE: pesquisa-intervenção; análise de implicação; metodologia de pesquisa qualitativa. THE ANALYSIS OF IMPLICATION AS A TOOL IN INTERVENTION RESEARCHABSTRACT: This paper briefly re-examines the historical conditions that permitted the emergence of methodological approaches that question the relation between researcher and the act of researching. And proposes a comparison between the purposes of action research and intervention research. Sustained on theoretical contributions from the institutionalist movement and philosophy of difference, it indicates the notion of analysis of implication as the key concept that allows a more nuanced approach to the debate. In line with Lourau's thinking, it defends the idea that what confers scientific status to research work is the consideration of the whole set of conditions that encompass the act of researching. KEY WORDS: intervention research, analysis of implication, qualitative research methodology A posição que o pesquisador assume em seu campo de pesquisa, as relações que estabelece como os sujeitos de sua investigação, os efeitos que estas relações produzem em suas observações, a possibilidade de que a análise dos dados seja enriquecida ou deturpada por tais efeitos não são questões pouco controversas para o debate científico. Ao contrário, poder-se-ia tomá-las, precisamente pelo que remetem ao problema da objetividade versus neutralidade do trabalho de investigação, como uma espécie de tendão de Aquiles na história da ciência. Sem a pretensão de retomarmos o longo percurso que o pensamento científico precisou perseguir até chegar à formulação de perguntas como estas, a finalidade do debate que aqui se pretende implementar é bem mais focal. Propõe-se partir dos avanços já provocados pelas pesquisas participativas, em função de suas críticas às concepções conservadoras que regiam as ciências sociais, as quais dicotomizavam teoria/prática e sujeito/objeto na tentativa de neutralizar a ação do pesquisador. Na esteira dessa crítica, tanto a pesquisa-ação quanto a pesquisaintervenção articulam pesquisador e campo de pesquisa, porém quer-se apresentar esta última como uma variação significativa, ainda que sutil, do projeto político que ensejou a formulação dessas duas novas estratégias de investigação participativa. E é no contexto do projeto em que se insere...
RESUMO A complexidade da realidade social, a pluralidade dos fenômenos subjetivos, a progressiva demanda de contribuição efetiva da academia com a vida cotidiana são indicadores da provisoriedade das respostas encontradas pela ciência. Nesse contexto, este trabalho apresenta um debate acerca das possíveis contribuições que as metodologias de pesquisa participativa trazem aos estudos da subjetividade, sustentando a argumentação contra os reducionismos do pensamento científico hegemônico na modernidade em três de seus mais ferrenhos críticos-o romancista Dostoiéviski, o filósofo Nietzsche e o sociólogo René Lourau. Problematiza os limites que as pesquisas tradicionais oferecem à produção de conhecimentos para discutir algumas diferenças e aproximações entre a modalidade da pesquisaintervenção e as abordagens cartográficas. Ao colocar problemas que buscam o coletivo de forças de cada situação investigada, essas abordagens alteram o modo de conceber a pesquisa e o encontro do pesquisador com seu campo, abarcando a complexidade e a processualidade. O conhecimento emerge do plano de forças que compõe a realidade ora atuando para o estabelecido, ora operando agenciamentos produtivos que trazem o novo.
Este artigo busca contribuir para a Reforma Psiquiátrica, propondo-se a analisar um de seus atuais desafios: o exercício de protagonismo e participação social de usuários em saúde mental. Para tanto, descreve uma pesquisa, sustentada metodologicamente na cartografia, em espaços instituídos de participação, em um Centro de Atenção Psicossocial de município da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, onde foram utilizadas as seguintes ferramentas de pesquisa: observação participante, diário de campo e entrevistas com gestores, trabalhadores e usuários. Entre seus resultados, o conceito de coletivo indicou a potência de um novo arranjo participativo, capaz de dialogar com as noções de autonomia e protagonismo, constituindo-se enquanto plano existencial fértil para o exercício de protagonizar em saúde mental.
Quando Michel Foucault estudou as relações de poder, com certeza, o mundo era outro. Em sua genealogia, iniciada nos anos 70, o filósofo considerava a sociedade disciplinar, e, nesse contexto, eram as instituições que detinham o poder, ao qual denominaria biopoder. Gerado a partir do século XVIII, esse "poder sobre a vida" ganha força nos conhecimentos científicos e passa a afastar as ameaças de morte, sempre presentes até então. "No terreno assim conquistado, organizando-o e ampliando-o, os processos da vida são levados em conta por procedimentos de poder e de saber que tentam controlá-los, modificá-los" (Foucault, 1993, p.134). Esse controle se dava por meio das técnicas de poder presentes no corpo social que eram utilizadas pelas instituições, tais como: a família, a escola, a medicina, os asilos, dentre outras. Atuantes por meio de práticas discursivas, tais técnicas de poder convocavam a realidade a ser produzida a partir de processos disciplinares que se destinavam a gerir a vida sustentando-se por normas -ideias construídas às quais se concede o status de verdade, que transitam por todos os eixos do poder, e em torno delas as pessoas são estimuladas a moldarem e a fabricarem suas vidas, seu dia-a-dia.Cabe ressaltar que o biopoder atua em dois eixos, um disciplinar e outro biopolítico. Em seu polo disciplinar, o poder centrava-se no corpo como máquina, para adestrá-lo, ampliar suas aptidões, aumentar sua utilidade e docilidade, em um processo assegurado pelas disciplinas. Em seu polo biopolítico, o poder centrava-se no corpo como espécie, por meio de processos reguladores da população, para controlar os nascimentos e mortes, epidemias, o nível de saúde, a duração da vida. Com um funcionamento menos repressivo e punitivo e mais constitutivo e determinante, esse poder participa ativamente da produção de modos de subjetivação, da elaboração do cotidiano das pessoas, sujeitando-as a verdades normativas que prefixam sua vida e as suas relações. Dessa maneira, da ligação entre saber e poder emergem os sistemas de vigilância, praticada, em última instância, por todos os campos de saber.A ideia de um movimento que torna a vida e seus mecanismos inseridos no domínio político e faz do poder-saber uma estratégia de alteração da vida espaço aberto
Este texto discute o conceito de vulnerabilidade no qual se pautam várias das políticas públicas brasileiras. Presente em muitas de nossas pesquisas, os efeitos que o uso da noção de vulnerabilidade pode ter nas práticas profissionais realizadas nesse contexto público demarcam fronteiras investigativas que aqui propomos à reflexão. Sustentado em ideias da filosofia da diferença, examina o risco de que nossas atuações encubram práticas morais, relações de tutela e de assujeitamentos presentes no uso cotidiano e acrítico desta noção, que pode muitas vezes incapacitar os usuários com os quais trabalhamos. Retira-se de Nietzsche a perspectiva da vida compreendida como Vontade de Poder e explora-se o conceito de potência a partir da leitura deleuziana de Espinosa, para associá-lo à noção de frágil saúde como ampliação de perspectivas inventivas. Concluímos que o trabalho de cuidado pode explorar certa potência presente na vulnerabilidade, tanto no sentido de reforçar movimentos de ampliação de vida nas populações em que se realiza, como no sentido oposto.
ResumoNo âmbito das discussões acerca das possibilidades metodológicas para pesquisas sobre gestão de pessoas, este artigo tem como objetivo apresentar a cartografia como alternativa ao uso dos métodos tradicionais, contribuindo assim para inovar a construção do conhecimento em administração. Ainda pouco explorada nessa área, a cartografia consiste no mapeamento de territórios psicossociais, acompanhando as linhas de força que os constituem. Atenta aos processos que compõem a subjetividade e que se passam entre os estados instituídos, busca abarcar a complexidade da vida, resistindo às tendências reducionistas de métodos simplificadores. Neste artigo descreve-se o percurso metodológico de uma pesquisa que busca não apenas apreender as conexões efetuadas em um blog coletivo ligado a uma política pública, mas também analisar as possibilidades de cooperação na produção do trabalho e de si, concebidas em um contexto de trabalho imaterial. A pesquisa apresentada está sendo desenvolvida na internet, que também se configura como um campo ainda em exploração, sobretudo se considerarmos a abordagem qualitativa. Quanto aos resultados apresentados neste artigo, eles não dizem respeito ao objetivo da pesquisa em andamento, mas às experimentações do método cartográfico tematizado. Diferente de divulgar resultados parciais da investigação inacabada, trata-se do exercício do próprio método: a construção das metas no percurso da investigação. A cartografia prima pela processualidade, o que permite tomar como valioso também o compartilhamento dessa experiência em seus diferentes momentos de produção. No final do artigo, a cartografia é indicada como alternativa aos métodos tradicionais de pesquisa, contribuindo dessa forma para a produção do conhecimento sobre o trabalho no cenário contemporâneo.Palavras-chave: Pesquisa Qualitativa. Cartografia. Pesquisa na internet. Gestão de Pessoas. AbstractIn the domain of discussions on the methodological possibilities for people management research, this paper aims to introduce cartography as an alternative to the use of conventional methods, thus contributing to innovate in the construction of knowledge on administration. Still poorly explored in this field, cartography consists of mapping psychosocial territories, tracking the power lines which constitute them. Aware of the processes which make up subjectivity and take place between established statuses, it seeks to comprise the complexity of life, resisting to the Artigo submetido em 10 de maio de 2012 e aceito para publicação em 13 de novembro de 2012.1 Doutora em Administração pela PPGA/EA/UFRGS; Psicóloga do Trabalho da Intercessão: Instituições e Clínica. Endereço: Rua Ramiro Barcelos, 1215 -cj. 401 -Independência, CEP 90035-006, Porto Alegre -RS, Brasil.
Este artigo propõe-se a estudar as práticas clínicas exercidas pelos profissionais 'psi' (psicólogos e psiquiatras) junto aos Centros de Atenção Psicossocial de uma região do Rio Grande do Sul, buscando verificar em que medida tais práticas vêm contribuindo para a qualificação profissional destes atores e para a potencialização do processo da reforma psiquiátrica brasileira. Sustentado metodologicamente na pesquisa-intervenção, o trabalho explorou as possibilidades crítico-criativas das práticas operadas na rede de saúde mental, buscando desnaturalizar funcionamentos herdados do modelo hospitalocêntrico de internação e exclusão. Mapeadas as principais temáticas contidas em situações consideradas críticas do cotidiano de trabalho daquele grupo, três grandes categorias analíticas emergiram: Modelo de Gestão, Relações de Equipe e, a categoria focada em especial nesse artigo, das Práticas Clínicas. Cinco aspectos norteadores das práticas clínicas operadas nos CAPS são analisados.
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