O presente estudo busca uma aproximação entre os textos de Guimarães Rosa e Davi Kopenawa a partir de uma particular teoria da enunciação implícita em ambos, atentando para o lugar do morro e da montanha nas suas dinâmicas e buscando, enfim, desdobrar questões jurídicas e políticas implicadas nessa leitura. Como base desse encontro temos um outro entre José Miguel Wisnik e Eduardo Viveiros de Castro e seus campos de ressonância entre literatura e antropologia.
No panoram a da poesia brasileira dos anos 1990, Algaravias: câmara de ecos,1 de W a ly Salomão, chama a atenção pela problematização e complexidade form al com que trata a rede de questões que em ergiram da transform ação do campo literário correlata aos processos de democratização e globalização daquele ainda recente f i nal de século. A quantidade de mal-entendidos e restos não resolvidos desses pro cessos exigia um ouvido atento ao "canto das sereias", aos " pesadelos de classe", ao "poema jet-legged", ao "oco e cárie cava e prótese" com que o mundo paria e conti nua parindo o "defunto de sua sinopse". W a ly chega a esses anos desde uma longa viagem que se in icia na tropicália e atra vessa um sem-fim de aventuras e desventuras nos vários papéis que desempenhou na cultura brasileira. M as se trata de uma espécie de "sobrevivente" que abdica da construção de próteses m em orialísticas dos sixties/seventies, do mesmo modo que não se submete à doxa reinante. As vozes que soam e ressoam em Algaravias alcan çam uma camada de experiência mais sutil que elabora formas de relação com o passado e com a m em ória atentando para o presente de sua enunciação. Se a experiência de W a ly vinha permeada de um amálgama contraditório de contra cultura e ditadura, liberação sexual e repressão, corpo e tortura, esse mesmo amálgama ressurge na experiência dos limites e possibilidades de certa liberdade contemporâ nea. É que, se o diagnóstico estiver certo, o Brasil sai do golpe m ilitar com estrutu ras de controle disseminadas, inclusive pelo jogo de forças do mercado e do campo literários, que exigem um ouvido para o recalcado, para a dissipação melancólica de acomodações e constrangimentos, para a estranha familiaridade das nossas anomalias cotidianas. As promessas não cumpridas e os projetos abortados não se apagam assim tão fácil. Nesse sentido, Algaravias pode ser visto como uma espécie de re-escritura, sobretudo de M e segura que eu vou dar um troço, mas re-escritura que opera in loco, no corpo do poema, como revérbero de acúmulo de temporalidades e tensões que a excessiva presentificação do contemporâneo quer apagar.Mas é claro que há uma " mudança de ar" e o outro antes visto como inim igo e in va sor cede lugar a um diálogo e a uma abertura impensável até então, da qual resulta a adm irável câmara de ecos. Por força de sua teatralização -o poema como ato, como palco, como máscara -na visão de A ntonio Cícero,2 as vozes encenadas ganham SALOMÃO, Waly. Algaravias: câmara de ecos. São Paulo: Editora 34,1996. CÍCERO, Antonio. A falange de máscaras de Waly Salomão. In: Me segura qu'eu vou dar um troço. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2003. Texto fundamental na bibliografia sobre Waly e que serve como diálogo constante deste artigo. Teresa revista de Literatura Brasileira [10|11]; São Paulo, p. 202-215, 2010.-205 corpo e amplitude a que só chega uma poética despida da violência identitária: são vozes que passeiam do outro ao mesmo até o "eu é um outro" de Rim baud, do en cantamento ao desespero, da plenitude ao vazio, da tela à r...
L’article analyse quelques poèmes et poètes brésiliens des décennies 1970, 1980 et 1990 dans le but de comprendre les différentes stratégies poétiques créées pendant cette période pour répondre aux défis spécifiques du régime d’historicité présentiste (Hartog) propre à l’expérience contemporaine. La relation entre poésie et histoire, l’énonciation poétique et ses contextes, se transforme. Le poème internalise, intensifie et mobilise la perception de perte de garantie discursive et la multiplicité des temps dans le temps, en mettant en action des variations et modulations entre différents contextes et temporalités, comme on le verra dans certains poèmes de Haroldo de Campos, Paulo Leminski, Nuno Ramos et autres.
Este artigo trata das traduções de Paul Valéry (1971-1945) publicadas em livro no Brasil desde a década de 1930, buscando um diálogo entre os projetos tradutórios e a literatura comparada, tendo como eixo a noção de historicidade. (inclui tradução do poema “A Pítia”, ao final do artigo).
Partindo do modo de funcionamento da voz nos discursos políticos recentes no Brasil, o artigo busca mostrar como eles são corolários de características muito reconhecidas historicamente e que se ligam em torno da noção de homem cordial, tomada aqui como esse pivoteamento constante da voz entre o privado e o público, a amabilidade e a violência, em todos os casos permanecendo como o núcleo do funcionamento do poder. Essa forma de funcionamento está ligada a um certo modo de conceber a voz de Deus e sua hipóstase política, mecanismo fundante do processo colonial. No entanto, a poesia brasileira tem assumido esse pivoteamento para apontar outros modos de funcionamento da voz, não apenas na tradição europeia, como a questão da voz na Grécia, mas, para além dessa outra báscula Jerusalém-Atenas, para potencializar e traduzir poeticamente os efeitos do complexo oral canibal apontado por Viveiros de Castro a respeito do mundo ameríndio e o modo OrfE(X)U por Edmilson de Almeida Pereira sobre a literatura negra e/ou afro-brasileira. Esses outros modos de existência de voz, colocados em variação, produzem uma nova dinâmica do espaço poético como partilha e dissenso, assumindo o pivoteamento e a variação para possibilitar a emergência de uma outra ética da voz e a sobrevivência dos mundos que ela coloca em jogo.
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