IntroduçãoA análise exposta neste artigo corresponde a um passo do percurso investigativo que desenvolvo com vistas a conhecer as novas orientações dos membros das classes médias assalariadas brasileiras no mundo econômico e cultural dos anos 90. Baseia-se, sobretudo, em material expressivo levantado em entrevistas que realizei com engenheiros e gerentes industriais 1 tendo como questão central suas expectativas em relação ao seu futuro profissional e ao das empresas onde trabalhavam.As visões de mundo coletadas, em sua generalidade, caracterizavam um ponto de vista "hierár-quico" sobre as relações internas às organizações e sobre a sociedade em que elas estão incluídas. Tal ponto de vista tem como pano de fundo a valoração negativa de um ponto de vista concorrente, o qual, também em sua generalidade, chamamos de ponto de vista "individualista", ou "financeiro". Essa construção negativa não aparece dispondo de suporte direto em nenhum agente ou locução. Na verdade, ela surge mais como uma espécie de fantasma contra o qual nossos agentes preparavam seus exorcismos e defesas terrenas. Pode ser considerada um amálgama de percepções recebidas ou interpretadas a partir dos diversos segmentos da imprensa e das redes de relações dos nossos informantes.Ainda que assistemática, tal construção tem um efeito bem claro sobre a forma como os agentes ponderam os atos e propostas oriundos das distantes matrizes das empresas ou mesmo dos governos federal e estadual. Colocados diante dos encadeamentos de argumentos que explicam a lógica do ponto de vista financeiro, nossos entrevistados reagiram de maneira agressiva, chegando mesmo a perder o controle expressivo. A situação encontrada revelou, assim, um conflito entre duas ordens de legitimidade, ou esferas de justiça, concorrentes, contrastando com a situação anterior, quando o modelo hierárquico reinava sozinho, impondo sua lógica e direcionando as formas de percepção das relações internas às empresas e demais organi-* Esse trabalho é resultado de pesquisas financiadas pela FAPESP e o CNPq, aos quais agradeço o apoio recebido. Agradeço também a leitura atenta e as sugestões dos colegas do GT Trabalho e Sociedade da Anpocs, aos quais foi apresentada uma versão anterior do texto, em particular de Helena Hirata e Tom Dwyer, bem como as dos pareceristas anônimos da RBCS e de Julio Cesar Donadone e Mauro Zilbovicius.
IntroduçãoNos últimos cinco anos instalou-se no espaço empresarial brasileiro uma discussão sobre a idéia de governança corporativa, em princípio, uma nova maneira de se organizar as relações entre as empresas e o mercado financeiro. A partir de 1999, o fenômeno adquiriu uma forma mais precisa com a tramitação da nova Lei das Sociedades Anônimas e o "novo mercado de capitais", inaugurado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Numa primeira aproximação, podemos dizer que o modelo de governança corporativa predica a transparência contábil das empresas e o respeito dos direitos dos acionistas minoritários.Essa discussão no Brasil é precedida e consubstanciada pelas transformações da propriedade empresarial que ocorreram no decorrer dos anos de 1990, em particular o intenso movimento de fusão e incorporação de empresas, 1 bem como as disputas em torno da definição dos fundos de pensão e do papel do Estado na economia, o que converge para a discussão sobre a questão da privatização das empresas públicas. Em torno desse processo, observamos tanto a criação e o aperfeiçoamento de artefatos jurídicos que ordenaram as diversas tendências, como a redefinição das funções de órgãos estatais ou paraestatais, como o Cade e a CVM, pouco salientes em momentos anteriores. E de maneira já prevista, diversos grupos engajaram-se nas facetas desse processo, procurando novos espaços para a sua atuação intelectual, política e profissional.Conforme já foi discutido por analistas internacionais, no centro do recente processo de reestruturação da propriedade empresarial há um im- ATORES E AÇÕES
IntroduçãoUm dos diagnósticos mais freqüentes a respeito do capitalismo contemporâneo mundial, inclusive o brasileiro, é de que há prevalecência de seu componente financeiro sobre as demais dimensões, principalmente a industrial (Chesnais, 2004). Para expressar essas novas circunstâncias, as visões mais extremas falam em "financeirização" da economia (Orléan, 1999;Froud et al., 2000). As finanças levariam de roldão as razões de outra natureza e imporiam ao mundo sua lógica.De modo geral, este artigo pretende nuançar essa apreciação, mostrando que o que se está rapidamente espalhando é mais a linguagem financeira do que a "financeirização" propriamente dita. Sua proposição é a de que quando os instrumentos de dominação da lógica financeira são acatados pela sociedade, eles sofrem grandes transformações, alterando sensivelmente seu escopo e funcionamento, mas a manutenção da linguagem original, que está previamente legitimada nos opinion makers, produz esse efeito de pensarmos estar diante de uma simples cópia de instrumentos utilizados em outras paragens. E esse processo "ajusta" o uso e o alcance dos instrumentos às necessidades e constrangimentos de diversos grupos sociais, correspondendo a uma versão atual das defesas que a sociedade sempre Polanyi (2001Polanyi ( [1944). Conseqüentemente, creio que o vaticínio da dominação inexorável das finanças é uma espécie de sociologismo, mais uma manifestação do que Bourdieu (1974) chamava de "fatalismo do provável". Para demonstrar minhas afirmações, traçarei alguns pontos da evolução da governança corporativa no Brasil, a qual está sendo crescentemente vista como o coroamento de todos os instrumentos pontuais de imposição da lógica financeira nas sociedades modernas. Pretendo mostrar que o blue-print original da governança corporativa, ao se espraiar pelo país, tem-se alterado sensivelmente mediante as interações sociais dos diversos grupos de atores que dela se apropriam. Os grupos que conseguem imprimir a sua marca na governança corporativa brasileira, e assim alterar o seu conteúdo, pertencem às elites nacionais e usam a governança corporativa nas suas estratégias de composição e recomposição de forças no campo do poder. Assim é possível utilizar a difusão da governança corporativa no Brasil para analisar o funcionamento dos grandes circuitos de força que produzem a lógica social da evolução da nossa sociedade. E, de maneira indireta, para mostrar a necessidade de pôr nuanças nos diagnósticos e prognósticos fechados sobre a "financeirização". CONVERGÊNCIA DAS ELITES E INOVAÇÕES FINANCEIRASA necessidade de expor a lógica dessa sínte-se dos novos instrumentos financeiros que é a governança corporativa torna a primeira parte do texto um pouco árida para leitores cujas preocupações estão distantes da arena financeira. As partes subseqüentes, creio que mais leves, pretendem mostrar como a governança corporativa vai se incorporando no discurso e na prática de alguns segmentos das velhas e novas elites brasileiras, quando então ganha inteligibilidade, passando a de ser co...
O primeiro ano do governo Lula surpreendeu a muitos pela rígida ortodoxia aplicada na direção da economia. Agradando aos "mercados", a conduta rapidamente desfez a bomba da profecia (auto-realizante) da "argentinização" do Brasil ou da "De-La-Rualização" de Lula. Incomodando os adeptos de Fernando Henrique Cardoso, foi chamada de "plágio mal feito" ou ironizada pelos séqüitos do grupo que esteve no poder na quadra passada. Por outro lado, a polí-tica econômica foi vista de maneira muito enviesada por diversos membros notórios do grupo que, ao menos para o público, estava mais próximo do então candidato Lula. Além do desconforto por ela mesma, ficou também fortemente sugerido que o caminho da ortodoxia financeira impedia qualquer política social ou setorial consistente. O espanto não foi evidentemente individual. Ele ecoava a apreensão de setores das classes médias que esperavam do governo petista 5 * Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq pelo financiamento das pesquisas que propiciaram o presente artigo. Agradeço também a leitura estimulante de Mauro Zilbovicius, Eduardo Noronha e dos pareceristas anônimos de Dados, bem como as sugestões de Afrânio Garcia, Frédéric Lebaron e Marie-France Garcia a versões anteriores apresentadas na École des Hautes Études en Sciences Sociales durante o período em que lá permaneci financiado pela Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Superior -CAPES. Evidentemente, sou o único responsável pelo texto.
Un outillage lithique acheuléen, une riche faune du Pléistocène moyen et quatre dents d'hominidés ont été extraites du remplissage de la cavité de la carrière Thomas I, célèbre depuis la découverte en 1969 d'une hémimandibule humaine. Depuis 1988, des fouilles sont conduites dans ce site dans le cadre du programme franco-marocain «Casablanca ». Une riche faune mammalienne et quelques restes de reptiles et d'oiseaux sont associés à l'industrie lithique dans l'unité stratigraphique 4. La faune, introduite par les carnivores, indique un paysage peu boisé et le stade évolutif des divers taxons suggère un âge plus récent que celui de Tighenif (Algérie). Les marques de découpe sont absentes, ce qui pose la question du rôle des hominidés dans l'accumulation des restes fauniques. Le travail de la pierre était orienté vers la production d'éclats et de rares bifaces ont été introduits dans cette partie du site. Quatre dents humaines ont été exhumées entre 1994 et 2005. La datation ICP-MS par ablation laser combinant l'ESR et les séries de l'Uranium pour modéliser l'enrichissement en Uranium a été appliquée à une prémolaire humaine : elle a fourni un âge de 501 k a. De nouvelles mesures d'âge par OSL sur les sédiments encadrant la dent datée ont respectivement donné 420 ± 34 ka au dessus et 391 ± 32 ka en dessous confirmant un âge minimum centré sur une période relativement ancienne du Pléistocène moyen.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.