O texto a seguir foi escrito ainda sob a comoção geral causada pela tragédia do rompimento da barragem de rejeitos no município de Mariana, mas resulta de reflexões coletivas que se desenvolvem, desde 2005, nos projetos Conexões de Saberes sobre o Trabalho (UFMG) e no Fórum Interdisciplinar em Saúde Mental e Trabalho (UFSJ) e, mais recentemente, em atividades do Centro de Estudos e Práticas em Saúde e Segurança do Trabalhador 5 . Esses fóruns reúnem especialistas de diversas áreas (Engenharia, Ergonomia, Ergologia, Psicologia do Trabalho, Pedagogia, Sociologia) juntamente com sindicalistas e trabalhadores para discutir em uma comunidade científica ampliada questões relacionadas ao mundo do trabalho. Desde cedo, a segurança ocupou um lugar central, sobretudo no setor de mineração, onde os índices de acidentes em termos de frequência e gravidade ainda são importantes. O texto foi difundido rapidamente na internet, sendo disponibilizado em sites (Fórum Acidentes do Trabalho, Revista Proteção), acolhida que acreditamos refletir a pertinência do princípio central que o anima: a gestão da segurança em sistemas tecnológicos ou de produção complexos não pode desprezar a experiência cotidiana, seja dos usuários leigos ou dos trabalhadores. Uma tragédia desse porte, com consequências ambientais e humanas irreparáveis, não pode acontecer sem marcar profundamente a forma como a sociedade brasileira deve, doravante, lidar com a segurança dos sistemas produtivos. Embora a redação tenha sido assumida por algumas pessoas desse coletivo, as ideias aqui defendidas representam tendências atuais da prevenção, compartilhadas por vários outros especialistas no Brasil e em todo o mundo, ainda que não sejam corrente dominante. No intuito de reverter essa situação é que publicamos na RBSO este texto em forma de editorial, na esperança de dar outra direção às investigações do acidente de Mariana, que permitam transformar essa tragédia em um momento de aprendizagem social, para rever os princípios e as práticas que conformam os atuais sistemas de saúde e segurança cuja capacidade de prevenção encontrou seus limites.
---A catástrofe consequente ao rompimento das barragens de rejeitos da Samarco não deixa ninguém indiferente diante das tragédias humanas e 5 Conexões de Saberes sobre o Trabalho e o CEPRASST -Centro de Estudos e Práticas em Saúde e Segurança do Trabalhador são projetos de extensão da UFMG, voltados para questões do trabalho em geral, nos últimos anos com ênfase na mineração, aos quais se associam profissionais de várias instituições: