Resumo Orientados pela Teoria Crítica da Sociedade, analisamos o conteúdo de entrevistas de 17 professores de cinco escolas públicas paulistanas acerca do que produz o bullying e do que deve ser feito para reduzi-lo. Identificamos três categorias de respostas: as que expressam consciência crítica a respeito de sua produção e redução; as que denotam engajamento em relação a seu combate, mas consciência restrita a respeito de suas causas; e as que apresentam consciência restrita em ambos os casos. Como a consciência fragilizada se destacou na maioria dos casos, concluímos que ampliar ações destinadas à formação conceitual a fortaleceria junto a profissionais que se propõem a enfrentar esse tipo de violência, quer seja por meio da intervenção direta, do desenvolvimento de pesquisas ou da proposição de políticas públicas.
RESUMO. Analisou-se o conteúdo de entrevistas com gestores escolares -diretores de escola e coordenadores pedagógicos -de cinco escolas públicas de ensino fundamental da cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, para investigar: 1) como eles compreendiam o bullying, principalmente no que tange às suas determinações; 2) o que propunham em suas escolas para combatê-lo e 3) a relação entre sua compreensão do fenômeno e as propostas feitas para seu combate. Concluiu-se que os gestores que percebiam haver determinação social sobre a violência escolar apresentavam propostas de combate ao fenômeno mais estruturadas, voltadas ao entendimento do fenômeno por parte de alunos e professores. Os demais, por outro lado, com base em uma visão mais reducionista que dificultava a percepção da incidência do bullying no ambiente escolar, elaboravam ações pouco relacionadas com os fatores que o produzemações estas, em muitos casos, ineficientes ao seu combate.Palavras-chave: teoria critica da sociedade, psicologia, educação, gestão escolar, violência escolar. Analysis of school authorities´ concepts and suggestions on bullyingABSTRACT. Interviews by school authorities from five public primary schools in São Paulo, São Paulo State, Brazil were analyzed. The contents of the interviews by school principals and pedagogical coordinators investigated (1) the manner they understood bullying, especially with regard to their determinations; (2) their proposals for combating the problem; (3) the relationship between their understanding of the phenomenon and the suggestions against it. Results showed that the authorities that perceived the social determination on school violence had the best structured suggestions against the phenomenon, with regard to its understanding by students and teachers. On the other hand, others, foregrounded on a more reductionist stance which made difficult the perception of bulling within the school milieu, suggested activities which were not relevant to the factors that produced it and thus not efficacious in their attacking the phenomenon.Keywords: critical theory of society, psychology, education, school administration, school violence. IntroduçãoNa escola contemporânea, alguns problemas, além das dificuldades de aprendizagem, estão presentes; dentre outros, a indisciplina, a discriminação, problemas de relacionamentos entre pares e entre o corpo docente e discente e o bullying. Ainda que estejam associados e possam ser gerados pelos mesmos fatores, cada um deles necessita de entendimento específico.A violência presente no bullying e nos demais tipos de conflitos interpessoais, que frequentemente ocorrem no ambiente escolar, não se reduz às motivações individuais das crianças e adolescentes envolvidos nem tampouco às especificidades da instituição escolar. Estas duas dimensões, a individual e a institucional, certamente participam de modo importante na produção desse modo de violência, mas a sua supervalorização em detrimento da análise da determinação da sociedade, da qual fazem parte, sobre essa esfera da for...
Resumo Este artigo tem por objetivo identificar e discutir alguns estratagemas psicológicos utilizados por movimentos conservadores e autoritários recentemente difundidos no Brasil - em especial, pelo Movimento Escola sem Partido -, em relação a temas como sexualidade e gênero, que atualmente foram incluídos como essenciais à formação escolar. Com esse propósito, empenhamo-nos em compreender a perspectiva cultural em que se apoiam e o modo como a articulam, ideologicamente, para inviabilizar o debate sobre eles. A partir da análise dos Projetos de Lei 246/2019 e 1859/2015, identificamos estratégias conservadoras que, autoritariamente, deslegitimam sua inclusão na formação escolar. Dentre elas, pareceu-nos urgente investigar a instrumentalização da religião, pois favorece a subordinação da crença religiosa, sobretudo associada ao conservadorismo moral imbricado na tradição cristã brasileira, ao discurso político autoritário. Assim como os movimentos fascistas que, nos Estados Unidos da década de 1930, reivindicavam um ordenamento autoritário e opressor da sociedade por meio do apelo a conteúdos religiosos instrumentalizados para esse fim, atualmente, o discurso religioso também é utilizado como forma de suscitar adesão ao conservadorismo social e político e de justificar preconceitos arraigados. Constatamos que a instrumentalização da religião é uma forma de justificar a permanência de valores conservadores na escola e na sociedade, bem como de reiterar o modelo de família heterossexual monogâmica e a ordem patriarcal. Por meio de estratagemas como esses, os movimentos conservadores e autoritários, articulados em função da negação da diversidade sexual e de gênero, impedem que a escola se constitua como espaço democrático e diverso.
Este editorial expressa nossas reflexões sobre o suicídio e a morte do narrador na literatura acadêmica contemporânea, a qual, conforme compreendemos, relaciona-se com outra fatalidade ainda mais grave: as ocorrências atuais de suicídio de jovens. Essa trágica "solução" tem ocupado lugar de destaque na mídia desde a estreia da série americana 13 Reasons Why (2017), dirigida por Brian Yorkey, inspirada no livro homônimo de Jay Asher, e da ampla e controversa divulgação do suposto jogo online Baleia azul, seguidas pelo crescente interesse por ambos. Nosso objetivo é discutir sobre uma possível relação entre o suicídio que se consuma como resultado da morte em vida, desvelando a continuidade funesta entre a fatal autoimposição de um término à vida e a fatídica vida imposta àqueles que estão impedidos de experimentá-la como sujeitos, e o suicídio do narrador na literatura acadêmica que paradoxalmente expressa a submissão do autor às exigências irracionais da maquinaria produtiva que o anula e, com isso, retira o encanto da narrativa.Se a declarada frustração de Nietzsche (1887/1998), que tão bem conheceu a decadência, em relação à expectativa de que suas obras pudessem ser objetos da leitura como arte já fora há muito uma crítica tenaz ao "homem moderno", incapaz de ruminar o conteúdo de sua leitura, a empobrecida experiência intelectual propiciada pela forma padrão adotada pelo modo atual de divulgação científica, o relato de pesquisa sem reflexão teórica, parece supor uma regressão ainda maior do leitor, de modo que à morte do narrador equivale a anulação do trabalho interpretativo do leitor. Se o suicídio de jovens provoca angústia imediata e sugere rápido entendimento de que a vida foi tragada por suas contradições objetivas, o fenômeno paralelo que ora enfatizamos, o suicídio do narrador, parece não promover igual compreensão.A asseveração de Nietzsche pode ser pensada à luz da crítica que Walter Benjamin (1936/1994) fez à cultura já explicitamente em decadência algumas décadas depois: "Por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato presente entre nós, em sua atualidade viva" (p. 197). Esse arguto crítico da cultura, que diante do fatídico cerceamento de sua vida pelas forças nazistas, que implicava também a aniquilação da vida de milhões de seus iguais, pôs fim à própria vida, pôde revelar que a vida ceifada pelo suicídio é a mesma vida já mortificada pelo predomínio das instâncias opressivas que anulam a possibilidade de compartilhar experiências, tal como foi possível por meio da narração. Em uma de suas mais célebres formulações, Benjamin pôde registrar para uma posteridade que ainda não conhece o além do homem "moderno", rejeitado por Nietzsche, a relação entre o declínio do narrador e a experiência da catástrofe objetiva representada pela guerra, cujo terror se generalizou para as estáveis instituições do mundo administrado:Com a guerra mundial tornou-se manifesto um processo que continua até hoje. No final da guerra, observou-se que os combatentes voltavam mudos do campo de batalha não ...
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