Quem gosta de cinema já se habituou a ver, permeando o ambiente de ficção de um filme, elementos cuja realidade não depende de modo intrínseco da trama ou da consistência dos personagens, mas ao contrário, ajudam a tecer a verossimilhança da narrativa. Refiro-me aos produtos, aos serviços e às marcas que são incorporados à história, num costume de tal forma naturalizado, que a percepção desses elementos não causa espanto algum, mesmo que em alguns momentos extremos transpareça a presença e a importância do departamento comercial na produção do filme.Em Crash, vencedor do Oscar de melhor filme e melhor roteiro em 2006, o roubo de um automóvel Lincoln Navigator desencadeia um dos eixos da narrativa. Uma saída de mestre, de 2003, trata dois mini Coopers praticamente como personagens, utilizados pelos protagonistas para uma escapada espetacular. Em O Náufrago, talvez o mais óbvio exemplo, um funcionário do Fedex luta para sobreviver em uma ilha inóspita após um acidente de avião, e lança mão, para isso, dos pacotes que entregaria, onde encontra, dentre outras coisas úteis, a bola Wilson que ele transforma num companheiro de infortúnio. Casino Royale, a aventura 2007 de James Bond nas telas, mostra o espião britânico, não em seu tradicional Aston Martin, mas num Ford Mondeo, e usando um relógio Omega, no lugar do esperado Rolex.Certamente, cada um dos leitores poderia acrescentar exemplos de sua própria memória de filmes a esta brevíssima enumeração, uma vez que esse mecanismo é amplamente utilizado, e não só no cinema americano. Mas o meu intuito nessa comunicação não é fazer uma apresentação exaustiva da presença do marketing no cinema, mas apontar as direções de variação dessa presença, lançar um olhar para os mutantes modos de articulação entre realidade comercial e ficção e tentar compreender como essa articulação pretende se relacionar com o espectador. Da RP ao product placementSe a prática do product placement -é assim que se chama na linguagem do marketing a colocação tática de produtos em filmes, programas de TV, jogos de computador e mesmo em romances e em canções -se essa prática se tornou cada vez mais corriqueira a ponto de motivar, em 2005, um protesto das associações americanas de roteiristas e atores de cinema e TV, contra o que consideravam um abuso no uso da promoção de produtos em filmes e TV, o certo é que a aproximação entre o departamento de marketing de grandes empresas e os estúdios de cinema não é uma invenção assim tão recente.É o que nos mostra o jornalista especializado em in- Patrícia BurrowesPUC/RJ patriciaburrowes@yahoo.com RESUMO Aponto, neste artigo, a presença do marketing em produções culturais desde a primeira indústria do cinema, até os atuais ARG -Alternate Reality Games -, tentando acompanhar os deslizamentos que ocorrem nessa presença ao longo do tempo. Procuro observar o modo como a complexa relação entre realidade e ficção serve ao propósito de vender bens, serviços e idéias. PALAVRAS-CHAVEmarketing entretenimento ficção ABSTRACTIn this paper I draw attention to the presence...
Os modos de enunciação e circulação de mensagens do discurso publicitário nas culturas transmidiáticas, compartilhadas e interativas, nos fazem refletir nos seus novos formatos e na ampliação de suas possíveis leituras. Daí o surgimento de um novo léxico, — branding, lovemarks, clusters, pontos de contato, e o simultâneo desenvolvimento de conceitos como Hiperpublicidade, Publicidade Híbrida, Ciberpublicidade, Publicidade Pervasiva e Publicidade Expandida. A partir desse último, o artigo propõe um modelo para análise teórica-metodológica da publicidade, embasando-se nas reflexões de planos de leitura de Stuart Hall (1997) e de literacia publicitária ou leitura crítica da publicidade de Nando Malmelin (2010). O objetivo é favorecer a leitura contra hegemônica das mensagens e campanhas publicitárias. Acredita-se que a mudança de perfil da recepção, que pode se tornar mais crítica, venha a promover, a médio ou longo prazo, o desenvolvimento de novas propostas do fazer publicitário.
Publicidade e Propaganda "Compre essa ideia, consuma esse produto", ou como a publicidade nos enreda em sua teia "Take this product, back this idea", said the spider to the fly
O presente estudo tem como objetivo discutir se e como o uso do feminismo no marketing, no âmbito do femvertising, pode transmitir ideias de empoderamento feminino e promover uma representação da mulher na publicidade que fuja dos estereótipos. Para tal, são analisados três comerciais que contaram com a colaboração da consultoria de marketing feminista Think Eva: “#EAíTáPronta?” e “Isso é Pra Mim” da marca Avon, e “Ser Mulher Faz Toda a Diferença” da Gillette Venus. A metodologia usada foi o estudo de caso, empregando, para análise individual dos comerciais, um modelo de leitura crítica da publicidade; e, para uma análise geral dos dados, as etapas de redução, exibição e conclusão/verificação. Os resultados indicam que os atributos do corpo feminino, as características comportamentais das mulheres e o incentivo ao empoderamento feminino são as questões mais revistas nos comerciais e diferem parcialmente das mensagens transmitidas na publicidade dita convencional.
Este trabalho decorre da pesquisa Criatividade e Indústrias Criativas, em que é problematizada a noção de criatividade na Indústria Criativa. Nessa área da economia se arrolam atividades diversas cujo traço em comum seria lançarem mão da criatividade como um recurso econômico essencial na formação do preço. Detenho-me aqui em duas áreas: arte e publicidade. Este artigo aborda suas aproximações e distanciamentos, a partir de observação participante em ateliês, conversas com artistas, uma visita à exposição O Consumo Feliz, e a experiência como redatora publicitária. O conceito de contemporâneo em Agamben, a noção de campo criador de Caiafa e estudos sobre processos criativos, de Ostrower, são base para a discussão dos agenciamentos coletivos de enunciação (Deleuze & Guattari) em questão e das subjetividades aí produzidas.
Este trabalho aborda a questão das representações do gênero masculino/masculinidade na publicidade, apresentando como objeto de estudo três campanhas publicitárias veiculadas pela Avon e pela Natura entre 2016 e 2017: “Para TodEs”; “Toda beleza pode ser” e “Lançamento da linha Natura Homem”. A metodologia de abordagem qualitativa utiliza o método da análise de conteúdo. Foi elaborado um quadro que cruza as dimensões retórica, estética, informacional e promocional do modelo de literacia publicitária de Malmelin, com aspectos extraídos do material analisado: personagens; figurinos; cenários; cores; trilha sonora; tom de voz; gestos e ações. Verifica-se um esforço das marcas para desconstruir a imagem do “homem macho”, embora muitos elementos recaiam nos estereótipos de gênero. Ambas empregaram estratégias de persuasão baseadas no engajamento na causa e nos valores da diversidade. Conclui-se que as marcas se apropriam de imagens e discursos socialmente valorizados, com o intuito de atrair nichos de consumidores.
Esta coletânea foi elaborada pelo grupo de pesquisa ESC -Ética na Sociedade de Consumo, a partir de reflexões conjuntas provocadas pela seguinte inquietação: as ações de marketing do nosso tempo são marcadas pela dissimulação, e isto vem sendo naturalizado na área de Comunicação. A partir dessa constatação, buscou-se conceituar, contextualizar, problematizar eticamente este cenário e exemplificar tais ações. A obra expõe o resultado de aproximadamente dois anos de estudos, nos quais se envolveram, com entusiasmo, professores, doutores, mestres, mestrandos, doutorandos, pós-doutorandos e graduandos de iniciação científica.O jornalista Vance Packard (2007), na obra "The Hidden Persuaders" (1957), e filósofos como Vázquez (1999) são alguns dos pensadores clássicos críticos à sociedade do consumo que nos inspiraram à construção deste livro, bem como o conceito de Publicidade Expandida, de Burrowes (2016), detalhado nesta obra. A prática atual frequente e mais arraigada da publicidade de, por meio da ativação das sensações e emoções, persuadir o consumidor por vias que ele desconhece, é base de nossas preocupações e motivações. s u m á r i o que faz mais uso da sedução do belo do que do raciocínio rigoroso" (BRETON, 1999, p. 15). Como continua o autor, citando Barthes 6 , "'este descrédito foi trazido pela promoção de um novo valor, a evidência (dos fatos, das ideias, dos sentimentos)'".É esse tipo de análise que fez com que o processo de "Convencer", na filosofia, seja visto como algo à parte da Persuasão e da Retórica. Em diversos escritos, é o aspecto da racionalidade no processo comunicativo voltado à mudança de opiniões que é tido como "Convencer" através de um processo de "Convicção", ao contrário dos meios utilizados no fluxo persuasivo. Como consta no dicionário elaborado por Abbagnamo (2007, p. 244), a "Convicção" consiste "um termo de origem jurídica, que designa um conjunto de provas suficientes para 'convencer' o réu, isto é, para fazê-lo reconhecer-se como tal". Sendo assim, em um sentido mais amplo, Convicção consiste em "uma crença que tem suficiente base objetiva para ser admitida por qualquer pessoa". (ABBAGNAMO, 2007, p. 244).Nesse sentido, é definida por Kant: "Quando uma crença é válida para todos, seu fundamento, desde que adotado de razão, é objetivamente suficiente e ela se chama Convicção". (Crít. R. Pura, Cânon da R. Pura, seç. III). O caráter objetivo da Convicção contrasta com o caráter subjetivo da persuasão (v.) Cf.
A partir de uma campanha de Old Spice, foram analisadas as estratégias empregadas na publicidade como forma de sobrevivência na era das redes sociais da internet. Se a aspiração da publicidade é ficar na memória do público, as táticas de fixação utilizadas mudaram. Serviram de base, além da experiência da autora no ramo, textos sobre a técnica publicitária de Carrascoza (2003), Figueiredo (2005) e Iezzi (2010), que foram articulados com noções de ficcionalização do eu, em Sibilia (2007), de discurso indireto, em Bakhtin (1977), e de memória involuntária, em Benjamin (1994) e Guattari (1992).
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