Júlia Lopes de Almeida em cena: notas sobre seu arquivo pessoal e seu teatro inédito [ Júlia Lopes de Almeida on the scene: outlines of the writer's personal archive and unpublished theater Michele Asmar Fanini 1Recebido em 15 de março de 2018 Aprovado em 9 de setembro de 2018 FANINI, Michele Asmar. Júlia Lopes de Almeida em cena: notas sobre seu arquivo pessoal e seu teatro inédito. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 71, p. 95-114, dez. 2018.
IntroduçãoO projeto inaugural a partir do qual a Academia Brasileira de Letras foi criada (em 1897, na cidade do Rio de Janeiro), assegurou-lhe uma compleição marcadamente androcêntrica, característica esta que permaneceu inalterada por décadas a fio. Com isso, a elegibilidade feminina, ainda que tenha integrado a pauta de algumas das incontáveis sessões acadêmicas, foi mantida fora de cogitação, precisamente durante os oitenta primeiros anos de sua existência, ora em decorrência de um acordo tácito -inicialmente estabelecido entre seus membros fundadores, mas logo transformado em legado -, ora respaldada pelo Regimento Interno. Conforme o Art. 2º do Estatuto da Academia Brasileira de Letras: [...] só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. As mesmas condições, menos a de nacionalidade, exigem-se para os membros correspondentes.Além disso, o art. 30 do Regimento Interno da agremiação (que, nas edições posteriores a 1951, corresponde ao art. 17) reitera o Estatuto, e postula que *
Nos últimos anos, o número de brasileiros a deixarem o país atingiu cifras recordes, o que parece indicar uma nova e sem precedentes fase emigratória. Em contraste com os períodos anteriores da emigração brasileira, esta recente fase é composta, principalmente, de brasileiros que partem em família, com a intenção de não mais retornarem ao Brasil como residentes. O artigo analisa este novo movimento, por meio de uma etnografia dos brasileiros na Grande Vancouver, Canadá, região onde essa população triplicou entre 2006 e 2021. Argumentamos se tratar de um movimento migratório em resposta a sentimentos generalizados e difusos de apreensão e medo em relação ao futuro no Brasil, que destoam do padrão de vida confortável e da posição relativamente privilegiada daqueles que estão se mudando. A emigração emerge, assim, como uma forma de ação antecipatória impulsionada pelo que aqui denominamos de um “mal-estar de classe média”.
Considerada uma das mais expoentes prosadoras da "belle époque tropical", Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) revelou-se, a despeito do gênero literário que a consagrou, detentora de uma inegável versatilidade estilística. Quanto a isso, suas incursões pelas artes dramáticas são um inequívoco exemplo: além de haver publicado os volumes A Herança (1909) e Teatro (1917), a escritora deixou algo em torno de uma dezena de textos teatrais inéditos e não encenados, todos eles disponíveis, sob a forma de documentos autógrafos e/ou datiloscritos, em seu acervo particular, mantido por Claudio Lopes de Almeida, seu neto. Diante da magnitude do legado em questão, o presente artigo estabelece como recorte analítico privilegiado a peça inédita "O Caminho do Bem", a partir da qual tencionamos contribuir, à luz das imbricações entre arte e gênero/sexo, não apenas para a fortuna crítica da escritora, mas para aqueles estudos dedicados à pavimentação de lacunas que a historiografia literária brasileira ainda abriga.
A Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897, manteve-se incólume à presença feminina até 1976, ano em que o artigo 17 do Regimento Interno, que até então restringia a eleição aos “brasileiros do sexo masculino”, é alterado, assegurando às mulheres a possibilidade de candidatura. A primeira mulher a sagrar-se imortal é Rachel de Queiroz, em 1977, cujo ingresso suscitou um verdadeiro debate estético em torno da veste cerimonial que, durante os primeiros oitenta anos de existência da entidade, fora confeccionada exclusivamente para os homens. Nessa ocasião, ao demandar a criação da versão feminina do fardão, a Academia transformou-se em uma verdadeira “arena de moda”, farta em inegáveis impasses e “saias-justas” que recaíram sobre as prerrogativas de gênero, tal como pretendemos evidenciar neste artigo.
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