Resumo Este artigo busca discutir dimensões da relação entre centros e periferias na produção e circulação do conhecimento, a partir de um estudo de caso que se debruça sobre a área da genética humana e médica no Brasil. Para tanto, realizou-se um trabalho de campo que compreendeu a seleção de uma amostra de pesquisadores da área no Brasil, que levou à identificação dos programas de pós-graduação “de excelência”, localizados em quatro universidades públicas: Universidade de São Paulo - campus Ribeirão Preto; Universidade Estadual de Campinas; Universidade Federal do Pará; e Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foram então realizadas 46 entrevistas semiestruturadas com pesquisadores pertencentes a essas instituições, para cuja análise utilizou-se o programa Atlas Ti. A exploração desse material permitiu analisar as representações dos pesquisadores sobre as possibilidades e limites de realizar pesquisa em um contexto disciplinar percebido como desigual, se comparado aos centros de pesquisa estrangeiros visitados em suas experiências de formação e pós-doutorado. Essas representações são expressas na ideia de uma periferia relacional, articulada em termos de falta, entendida em referência a questões institucionais, financeiras, técnicas, culturais e cognitivas.**
resumo Este artigo discute a divisão do trabalho científico entre pesquisadores seniores e juniores em um centro de pesquisa brasileiro de genética humana e médica. Partindo do debate contemporâneo sobre a progressiva imbricação entre ciência e tecnologia -com progressiva fusão entre ambas, que evoca noções como a de tecnociência -é possível verificar, na subárea específica, velocidades crescentes na produção de dados, que pressionam os pesquisadores de maneiras distintas, seja pelo crescente custo das inovações tecnológicas, seja pela necessidade de métodos mais complexos para a análise. Nesse contexto, analiso questões relativas à especialização do trabalho científico, à separação entre concepção e execução, e às transformações correlatas na formação de novos pesquisadores. Parte-se do pressuposto teórico-metodológico de que a atividade científica não pode ser tratada de forma homogênea, existindo configurações distintas de acordo com o espaço disciplinar, a organização institucional e a tradição científica local, entendida enquanto empreendimento historicamente enraizado e social e culturalmente contingente.Palavras-chave • Divisão do trabalho científico. Formação científica. Estudos de laboratório.
Após mais de setenta anos de sua primeira publicação, o livro Gênese e desenvolvimento de um fato científico pode ser finalmente lido em uma edição em língua portuguesa. Escrita em 1935 por Ludwick Fleck, bacteriologista e imunologista de origem judaico-polonesa, a obra é hoje considerada uma das pioneiras da abordagem sociológica no estudo do conhecimento científico, das comunidades científicas e das práticas dos cientistas.Apesar de hoje ocupar lugar de destaque como um clássico da sociologia e da história da ciência, essa obra só alcançou notoriedade quase trinta anos depois de sua publicação, a partir de uma breve menção de Thomas Kuhn, no prefácio A partir dessa breve menção, o trabalho do médico polonês foi sendo descoberto por aqueles que se dedicam ao estudo da ciência, ainda que seu livro não tenha alcançado grande notoriedade no Brasil, e o sintoma disso possa ser encontrado em sua publicação bastante tardia.
Alison Wylie é conhecida, em especial, por seus escritos em filosofia e ética da arqueologia. Mas ela também escreveu extensamente sobre questões ligadas às relações entre a ciência e os valores e sobre a filosofia feminista da ciência. Nascida no Canadá, ela divide seu tempo entre Esta entrevista foi realizada após sua conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 14 de outubro de 2013, com o título "Feminist standpoint theory and the formation of gender archaeology: What knowers know well". Ela é composta de três blocos temáticos, sendo o primeiro sobre sua trajetória intelectual; o segundo sobre o significado de fazer ciência enquanto feminista e a relevância das análises feministas sobre a ciência; e o terceiro acerca dos ideais contextuais de objetividade, do papel dos valores não cognitivos na ciência e outras questões de filosofia da ciência. Para iniciar, conte-nos um pouco a respeito de sua trajetória intelectual, de seus estudos na universidade e de seu interesse pela arqueologia e pela filosofia da arqueologia.Sou de origem canadense e, como meu pai era militar, nós nos mudávamos frequentemente, a cada poucos anos, sobretudo entre Ontário e Quebec. Uma coisa que estava sempre presente, onde quer que morássemos, era o interesse apaixonado dos meus pais pela arqueologia. Quando estava sediado em Ontário, meu pai e um de seus colegas conseguiram um financiamento do Canadian National Museum para explorar sítios arqueológicos dos Iroqueses e dos Hurões, ao longo do rio Saint Lawrence. Por isso, na maior parte dos verões da minha infância, passava várias semanas em sítios arqueológicos. Essa experiência não gerou propriamente em mim um amor pela arqueologia. O trabalho envolvia calor e sujeira, e nós, as crianças, geralmente éramos enviadas para cavar nas áreas situadas nas bordas dos sítios, que se acreditava serem áreas estéreis. Os adultos não gostavam de deixar as crianças escavarem nada que pudesse ser 549 http://dx
Review of: Maria Caramez Carlotto, Veredas da mudança na ciência brasileira: discurso, institucionalização e práticas no cenário contemporâneo. São Paulo, Scientiae Studia/34, 2013. 379 pp.
professor de sociologia da École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, em Lyon, e diretor da equipe Dispositions, Pouvoirs, Cultures, Socialisations, do Centre Max Weber (CNRS). Realizou sua formação na Université Lumière Lyon 2, onde apresentou seu doutorado em 1993, sob orientação do professor Yves Grafmeyer. De 13 de novembro a 17 de dezembro de 2011, o professor Lahire ocupou a "Cátedra Lévi-Strauss", em uma iniciativa institucional conjunta da Universidade de São Paulo e do Consulado Geral da França em São Paulo. Na ocasião, foi acolhido pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde ministrou a disciplina Problemas e Métodos da Sociologia das Disposições. Como membros da Revista Plural e alunos do curso ministrado pelo professor Lahire, decidimos convidá-lo para uma entrevista, cujo objetivo principal seria tocar, de maneira resumida, nas questões mais importantes abordadas na ocasião, como forma de compartilhar o conteúdo da disciplina para alunos de outros programas de pós-graduação e demais interessados. O convite foi aceito sem hesitação. Esperamos que esta entrevista encontre um público interessado em conhecer as ideias desse importante pesquisador em sociologia da educação e da cultura. Revista Plural Gostaríamos de começar a entrevista perguntando sobre sua formação acadêmica e trajetória profissional. Onde o senhor estudou? Qual foi seu ponto de partida? Quais são suas principais atividades e sua posição atual no meio universitário francês?
<p>O presente artigo busca tratar da concepção de educação em Max Weber e, mais especificamente, em como ele aborda a questão universitária, em uma série de seus escritos. Além de textos mais conhecidos, tal qual Ciência como vocação, o estudo incorpora conferências e artigos de intervenção escritos por Weber e alguns de seus trabalhos identificados com sua Sociologia Política. Assim, se o processo de desencantamento do mundo é vital para que se consiga interpretar os diagnósticos elaborados à época, também ocupam lugar central o papel do docente e o conceito de probidade intelectual. Analogamente, o avanço da burocracia – em alguns casos, de maneira a cercear o trabalho intelectual e acadêmico – é tematizado pelo autor, notadamente pela análise crítica do “caso Bernhard” e do “sistema Althoff”. Este artigo busca, então, retraçar essas discussões de Weber, inserindo-as em um quadro analítico mais amplo, ao relacionar sua discussão sobre a educação a conceitos elaborados tanto no âmbito de sua Sociologia da religião quanto de sua Sociologia política. Por fim, delineia-se brevemente o modo como Weber reflete sobre o sentido da liberdade, sobretudo aquela de cunho acadêmico, para destacar a relevância que assumiriam formas de organização dos professores que pudessem atuar em defesa da autonomia exigida pelo trabalho científico-intelectual sério.</p>
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