Neste texto, discute-se a relevância da categoria social gênero para a interpretação do processo de inserção do Você no Português Brasileiro. Com base na análise de missivas pessoais oitocentistas e novecentistas redigidas por brasileiros cultos e integrantes de uma mesma família brasileira (a família Pedreira Ferraz-Magalhães), cujos perfis sociolinguísticos foram identificados (LOBO, 2001), discutem-se os resultados de um estudo de painel (LABOV, 1994), voltado para sincronias passadas do PB, em relação às formas Tu e Você como sujeitos pronominais. Evidencia-se que o Você, empregado informalmente em cartas brasileiras entre os anos 20 e 30 do século XX, está em avançado estágio de mudança linguística, sendo tal processo conduzido pelas mulheres. À discussão, acrescentam-se os resultados do estudo da variação Tu/Você, feito por Pereira (2012) com base em cartas redigidas por brasileiros da ilustre família Penna, em fins do século XIX e na primeira metade do século XX, expondo o gênero como uma categoria social propulsora da inserção do Você no sistema pronominal do Português Brasileiro oitocentista e novecentista.
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar o processo de constituição dos corpora para o estudo do português no Brasil e do Brasil a partir da confecção de edições fac-similares diplomático-interpretativas de cartas manuscritas durante a 2 a metade do século XVIII, ao longo do século XIX e na 1ª metade do século XX. A edição das amostras de cartas que compõe o português no Brasil se dá em relação a sessenta cartas produzidas por brasileiros e por portugueses, manuscritas no Rio de Janeiro setecentista e oitocentista. No que refere à edição das amostras do português do Brasil, têm-se cento e setenta cartas familiares autógrafas confeccionadas, por brasileiros nascidos no Rio de Janeiro oitocentista, entre os anos de 1877 e 1948, e integrantes de uma mesma família: a família Pedreira Ferraz -Magalhães.Palavras-chave: Crítica textual; edição de missivas manuscritas; português no Brasil; português do Brasil.
Neste trabalho, buscam-se rastros da realidade sincrônica do português brasileiro em relação à expressão gramatical variável do imperativo de 2a pessoa do singular ("fala você") à luz de dados do final do século XIX e da 1a metade do século XX ("Agora seja tu o laso de união[1] ..." (1919)). Com base na análise de missivas pessoais oitocentistas e novecentistas, redigidas por brasileiros cultos e integrantes de uma mesma família brasileira (a família Pedreira Ferraz-Magalhães) cujos perfis sociolinguísticos foram identificados (ROMAINE, 1982; CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÀNDEX-CAMPOY; CONDE SILVESTRE, 2014), reflete-se sobre a representatividade das categorias sociais gênero e faixa etária para a investigação acerca da expressão variável do imperativo de 2a pessoa. Na perspectiva de uma análise metodologicamente orientada pela sociolinguística quantitativa de base Laboviana, (cf. LABOV, 1994, 2001), confirma-se a hipótese de que o imperativo abrasileirado, nos termos de Scherre (2007), tende a se firmar no português brasileiro, visto que os jovens pareceram se encaminhar na direção histórica da mudança em progresso[1] O dado em questão pertence ao conjunto de missivas da família Pedreira Ferraz-Magalhães. “(...) Meu consolo é resar por ella, e chorar. Espero que me escrevas contando tudo que lhe diz respeito, pôde fazer os Votos. Que doença foi? Já te imaginarás todo meu soffrimento! Agora seja tu o laso de união entre todos, porem com prudencia, sobretudo com ás Dorothéas”. (Carta redigida por uma mulher (MRPCAM), com 41 anos, ao irmão (JPCAM), com 38 anos. Montevidéu, 11.09.1919.)
O objetivo deste artigo é refletir sobre o encaminhamento histórico da implementação do você no sistema pronominal do português brasileiro e o seu reflexo nas estruturas imperativas de 2SG. Assume-se como ponto de partida o fato de uma das repercussões da inserção do você no sistema pronominal do português brasileiro (RUMEU, 2013; SOUZA, 2012) ter sido a alternância entre as formas verbais de indicativo e de subjuntivo nas construções imperativas de 2SG (vem tu, vem você, venha você). Na perspectiva de uma análise metodologicamente orientada pelos princípios da sociolinguística histórica (CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012) e embasada em um conjunto de missivas históricas produzidas por cariocas cultos entre 1860 e 1980, ratifica-se a conjectura de que a partir dos anos 30 do século XX (RUMEU, 2008; SOUZA, 2012) o você-sujeito consolida-se como forma pronominal de 2SG pari passu as construções de imperativo supletivo também prevaleçam nas missivas cariocas (DINIZ, 2018). Além de o contexto do você-sujeito acompanhar as construções de imperativo supletivo, comprovou-se que as cartas mistas (cartas de alternância tu/você) funcionam também como contexto que tende a influenciar moderadamente o imperativo abrasileirado (DINIZ, 2018). Trata-se, pois, da expressão de uma mudança internamente encaixada no sistema linguístico do PB conforme previsto por Lopes (2007) acerca das repercussões da inserção do você no paradigma pronominal do português brasileiro.
Este artigo focaliza a variação tu / você em tempo real de média duração (séculos XIX e XX). A proposta é realizar um estudo de painel, na linha laboviana, com base na produção epistolar de duas missivistas cariocas ao longo de suas vidas: juventude, adultez e velhice. Como já apontado por vários autores, o uso de fontes manuscritas, tais como cartas pessoais, desempenha um papel importante na pesquisa sócio-histórica. O objetivo é apontar como e quando teria ocorrido a inserção do você – em sua origem, uma forma de tratamento – no sistema pronominal do português brasileiro, vindo a substituir o tu como sujeito de 2SG. A hipótese inicial reside no fato de que a implementação de você teria uma correlação com o uso de usted, forma resultante de um processo de gramaticalização que se deu mais cedo no espanhol americano do que em português. As generalizações a que podemos chegar são as de que o processo de implementação do você, a julgar pelos dados analisados, se estendeu por, no mínimo, um século; (ii) o uso do você se mostrou quase categórico no final da década de 40 do século XX; e (iii) as duas missivistas encaminham-se em uma mesma direção quanto à implementação da forma pronominal você, embora apresentem distintos padrões de uso, explicáveis, talvez, pelo fato de uma delas ter exercido sua vida religiosa sempre no Brasil (MJ), em redes sociais densas, e a outra (MR), em geral, em outros países, em redes sociais difusas.
<div class="page" title="Page 12"><div class="section"><div class="layoutArea"><div class="column"><p><span>Neste trabalho, busca-se discutir a produtividade das estratégias pronominais de referência ao sujeito de 2</span><span>a </span><span>pessoa do discurso e os tipos de relações sociais travadas entre remetente e destinatário em missivas cariocas e mineiras oitocentistas e novecentistas. O foco deste estudo são os tipos de relações sociais que parecem condicionar a frequência de uso das estratégias pronominais de 2</span><span>a </span><span>pessoa no Brasil à luz da Teoria do Poder e da Solidariedade pensada por Brown e Gilman (1960). De uma forma geral, nas missivas cariocas e mineiras caracterizadas pelas relações sociais simétricas e assimétricas, observou-se a difusão do </span><span>você</span><span>, parecendo já sedimentar a semântica da Solidariedade no Brasil novecentista. </span></p></div></div></div></div>
Analisamos, neste trabalho, a emergência da forma você no paradigma pronominal do português brasileiro (PB), focalizando especificamente os contextos de complementação e adjunção verbal e não-verbal. Para tanto, utilizamos uma amostra de cartas pessoais produzidas por um casal de noivos entre os anos de 1936 e 1937. Na análise, resgatamos o problema do encaixamento estrutural e social proposto por Weinreich, Labov e Herzog (1968), além dos princípios gerais da sociolinguística histórica (Conde Silvestre, 2007; Hernández-Campoy e Conde Silvestre, 2012). Os resultados indicaram que as relações sintáticas oblíquas de complementação e dativas projetadas por predicadores verbais foram as que mais favoreceram o emprego das formas você não-sujeito. Quanto aos fatores sociais, a informante feminina, com menor domínio de escrita, foi a que mais utilizou a forma inovadora em suas cartas. Palavras-chave: variação e mudança linguística; português brasileiro; pronomes pessoais.
Resumo: Neste trabalho, busca-se discutir a produtividade das estratégias pronominais de referência ao sujeito de 2 a pessoa do discurso e os tipos de relações sociais travadas entre remetente e destinatário em missivas cariocas e mineiras oitocentistas e novecentistas. O foco deste estudo são os tipos de relações sociais que parecem condicionar a frequência de uso das estratégias pronominais de 2 a pessoa no Brasil à luz da Teoria do Poder e da Solidariedade pensada por Brown e Gilman (1960). De uma forma geral, nas missivas cariocas e mineiras caracterizadas pelas relações sociais simétricas e assimétricas, observou-se a difusão do você, parecendo já sedimentar a semântica da Solidariedade no Brasil novecentista. ! Palavras-chave: variação tu/você; mudança linguística; sistema pronominal; segunda pessoa; relações sociais simétricas e assimétricas.Abstract: This paper seeks to discuss the productivity of the pronominals strategies for using the 2 nd person in speech (tu and você) and types of social relations between sender and receiver locked in 19 th century and 20 th century in letters produced writings by cariocas and mineiros. The focus of this study are the kinds of social relations that seem to constrain the frequency of use of strategies pronominal of the 2 nd person in handwritten letters in the Brazil to the Theory of Power and Solidarity thought by Brown and Gilman (1960). To sum up, the results present the prevalence of the subject você in social relations symmetric and asymmetric of the carioca and mineiro letters already looking to settle the semantics of Solidarity in the nineteenth-century Brazil. ! Keywords: variation tu/você; linguistic change; pronominal system; second person; social symmetric and asymmetric relations.
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