A circulação de boatos virtuais marcou a epidemia de zika e microcefalia de 2015/2016. A partir da análise dos comentários de posts das páginas do Diário de Pernambuco e da Folha de S. Paulo no Facebook, visamos compreender melhor o fenômeno, identificando discursos mobilizados nesses espaços intertextuais e polifônicos. Os resultados evidenciam um ambiente de incerteza associado ao desconhecimento científico, à crise política e à reflexividade em relação aos riscos da ciência. Também apontam questões não respondidas que estimularam a circulação dos boatos: Por que a epidemia se concentrou em Pernambuco? Por que nunca ocorreu na África? Por que não aconteceu antes? Concluímos que o enfraquecimento do estatuto de verdade da ciência e da própria verdade, mais fluida, participa do protaganismo do boato na atualidade midiatizada.
O artigo propõe-se a discutir alguns dos tensionamentos desencadeados pelas fricções entre regimes temporais distintos envolvidos num episódio epidémico. O texto tem como base o estudo de caso sobre a difusão de informações relacionadas com a epidemia de Zika e microcefalia no Brasil no verão de 2015/2016. A partir do contexto de mediatização intensa e da complexa temporalidade produzidas pelas tecnologias digitais de comunicação, procuramos analisar a relação entre atores humanos e não-humanos que contribuíram para a construção social dessa epidemia em particular. Nosso foco recai, em especial, sobre a produção de vídeos pelo público “leigo” que disseminam boatos com possíveis explicações alternativas para a epidemia.
Este artigo analisa a abordagem da epidemia de zika e microcefalia pela página da Fundação Oswaldo Cruz no Facebook entre maio de 2015 e maio de 2016. Seguindo procedimentos da análise de conteúdo, destacamos características das postagens sobre o tema a partir de sua frequência, enquadramento, formato e engajamento. Também analisamos qualitativamente parte dos comentários das postagens de maior engajamento. Os resultados mostram o destaque recebido pelo tema na página e evidenciam a priorização do enfoque científico e político-institucional, o emprego da ciência para conferir credibilidade aos conteúdos e a popularidade das postagens sobre boatos junto ao público. Constatou-se, ainda, pouca interação por parte da Fiocruz e pequena variação dos formatos empregados nas postagens, com priorização de recursos tradicionais.
Apesar dos esforços para combater a desinformação em meio a um cenário de infodemia, o YouTube tem sido um espaço proeminente para a circulação de boatos, fake news e desinformação relacionados a Covid-19. Este artigo tem como objetivo contribuir, a partir da observação de discursos circulantes na plataforma no Brasil ao longo de 2020, para a compreensão do processo de produção social de sentidos sobre a pandemia. Buscamos especificamente compreender as disputas pela produção de “verdades” entre narrativas imprecisas e contraditórias e discursos científicos. Adotamos procedimentos metodológicos mistos, combinando análise de redes sociais e análise de conteúdo, para identificar a teia de relações estabelecidas entre vídeos em circulação no YouTube a partir da combinação entre os termos "Sars-Cov 2", “coronavírus” ou “Covid-19” ao termo "verdade". Investigamos ainda de que forma a autoridade epistêmica é acionada em seis produções de maior destaque do universo coletado. Concluímos que as mediações algorítmicas da plataforma são relevantes para a popularização de discursos alternativos às instituições hegemônicas nas disputas discursivas sobre a pandemia. O levantamento também aponta para a relevância de signos e símbolos de autoridade epistêmica “tradicional”, que por vezes parecem substituir a apresentação de evidências científicas produzidas acerca da doença no período analisado.
Palavras-chave: desinformação científica. YouTube. Covid-19. disputas epistêmicas.
This article discusses some of the tensions caused by the friction between distinct temporal regimes associated with an epidemic episode. This text is based on the study of the way information related to the Zika epidemic and microcephaly in Brazil was speeded out during the year 2015-2016. Starting with the context of intense mediatization, as well as of the complex temporality produced by digital communication technologies, we sought to analyze the relationship between human and non-human actors that contributed to the social construction of this epidemy. The focus of the text are the videos produced by the “lay” public who also spread rumors which show likely alternative explanations about the epidemy.
SiCKO é um documentário de Michael Moore que critica o sistema de saúde dos Estados Unidos da América e apresenta como negociatas políticas e lobbying de seguradoras de saúde e empresas farmacêuticas mantêm um sistema que trata saúde como mercadoria, martirizando vidas em nome do lucro. O exemplo de outros países que adotaram a medicina socializada serve para mostrar uma proposta alternativa de saúde, entendida como um direito de todos, financiado solidariamente pela sociedade e garantido através de políticas públicas e práticas eficazes.
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