O debate brasileiro sobre humanização da atenção à saúde tem valorizado uma abordagem integral da saúde. Tal orientação requer que os profissionais revejam suas atitudes e concepções, excessivamente centradas em um enfoque biomédico. Este ensaio é uma reflexão sobre um processo de discussão em torno do trabalho da equipe multiprofissional de um ambulatório especializado em HIV/Aids na cidade de São Paulo, tendo por norte as relações entre cuidado e humanização das ações de saúde. Identificou-se que a equipe considerava humanizada a atenção prestada, por haver escuta e resposta a diferentes necessidades dos usuários, além do controle da infecção pelo HIV. Levantou-se, entretanto, que tais necessidades não chegavam a ser incorporadas ao projeto de atenção propriamente dito, mas eram tomadas apenas na condição de obstáculos à adesão às medidas terapêuticas prescritas, recebendo, muitas vezes, respostas de caráter informal, dependentes de iniciativas de cunho pessoal, e motivadas por sentimentos compassivos. Ressalta-se a relevância da dimensão afetiva no encontro entre profissionais e usuários, concluindo-se pela importância de entender a humanização da atenção à saúde como um processo de diálogo, que garanta e estimule uma crescente integração entre as finalidades técnicas do trabalho e os projetos de vida dos usuários.
OBJETIVO: Compreender as possibilidades e os limites da articulação dos processos de trabalho desenvolvidos por agentes com diferentes formações para otimizar a integração e melhorar a qualidade da assistência aos pacientes com HIV/Aids. MÉTODOS: Estudo qualitativo sobre o trabalho multiprofissional em cinco centros de referência para DST/Aids do Município de São Paulo. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 26 profissionais de diferentes formações, enfocando suas relações no modo de organização da assistência prestada nesses serviços. RESULTADOS: Houve diferenças significativas do alcance da integração multiprofissional e das possibilidades de enriquecimento da assistência prestada, de acordo com as circunstâncias em que o trabalho interdisciplinar é posto em ação. CONCLUSÕES: Quando a equipe consegue trabalhar com demandas antevistas, isto é, com a formulação, por um conjunto de profissionais, de projetos assistenciais, antecipando demandas a partir de situações concretas da prática, criam-se condições favoráveis a um trabalho mais efetivamente integrado da equipe multiprofissional. Essa integração favorece intervenções que permitem um diálogo mais rico entre a aplicação do tratamento medicamentoso e outras dimensões relevantes do cuidado referentes às vivências sociais, psicológicas e emocionais dos pacientes.
This qualitative study discusses how professionals in specialized health care services in the city of São Paulo have responded to the reproductive demands of people living with HIV/AIDS. Participant observation was the main methodological strategy; the concept of health demands was an important theoretical reference in the analysis. According to the health professionals, reproductive health demands were raised exclusively by women and related to mother-to-child HIV transmission. Reproductive issues were not recognized as patients needs, nor were they included among the objectives of collective staff work. Distinct technical, ethical, and moral rationalities were observed. Among health professionals, to control the epidemic was the prevailing logic, while among patients, exercising lifestyle choice was the key issue, materialized in the "unexpected advent of pregnancy". In order to formulate health care strategies that respect human rights and reduce the risks of HIV transmission, it is necessary to recognize the autonomy of people living with HIV/AIDS in relation to reproductive decisions.
Motivos e circunstâncias para o aborto induzido entre mulheres vivendo com HIV no BrasilMotives and circumstances surrounding induced abortion among women living with HIV in Brazil
Este artigo apresenta aspectos teóricos que sustentam uma ética do Cuidado de base discursiva, como utilizado em estudo que examinou os conflitos morais na assistência às pessoas vivendo com HIV/Aids. Com base na Bioética deliberativa, define conflito moral como um conflito de deveres. Foram utilizadas a ética do Discurso e as proposições do Cuidado, assumindo que o trabalho em saúde é eminentemente relacional e comunicacional. Conclui que a ética do Cuidado de base discursiva reconhece a racionalidade nas decisões que envolvem aspectos morais no cotidiano da assistência. A busca de solução dos conflitos, sob essa perspectiva, sugere um processo dialético em que as razões para os argumentos são consideradas. Evidenciar argumentos diversos, incluindo aqueles que são contraditórios, mas defensáveis, possibilita a tomada de decisões prudentes.
Saúde em Debate • Rio de Janeiro, v. 37, n. 99, p. 636-645, out/dez 2013 RESUMO: Reconhecendo a relevância do incremento na oferta de testagem anti-HIV, problematiza-se a concepção de oferta à luz dos conceitos de acesso e demanda. O mero foco na oferta da testagem mostra-se insuficiente frente à complexidade e dinamicidade do processo, desde a identificação da sua necessidade até a realização do teste e seus possíveis desdobramentos, incluindo o tratamento. Ademais, o modelo de campanha para incentivo à testagem não se coaduna com proposições que valorizem o protagonismo social dos cidadãos nem atendam às especificidades da disseminação da epidemia de AIDS. Postula-se a importância de desenvolver estudos que focalizem mais detidamente a demanda por testagem anti-HIV.
PALAVRAS-CHAVE:Síndrome da imunodeficiência adquirida; Diagnóstico HIV; Acesso; Necessidades e demandas de serviços de saúde.
ABSTRACT: Despite the relevance of the supply increase in anti-HIV testing, this article raises the problem behind the conception of supply in light of the concepts of access and demand. The supply of tests is in itself insufficient to handle the complexity and the dynamicity of a process that involves since the identification of its needs till the carrying out of the tests and their
Introdução. O quadro da vulnerabilidade veio propor não apenas um novo modo de fazer, mas também de pensar as ações de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e aids. Objetivo. Considerando que a sua apreensão ainda representa um desafi o às práticas de prevenção, fortemente ancoradas em propostas verticalizadas de educação, o presente artigo discute a experiência de uma estratégia de prevenção por pares, evidenciando as potencialidades, possibilidades e desafi os de lidar com a complexidade e dinamicidade desse referencial. Metodologia. A experiência foi tomada como estudo de caso e o material, produzido a partir de relatos e relatórios, recebeu tratamento de natureza hermenêutica. Resultados. Identifi caram-se tensionamentos na coordenação da estratégia por instituição governamental, além da própria ideia de "par" e suas relações identitárias. Também foram evidenciados os impasses frente à amplitude das proposições do quadro da vulnerabilidade. Conclusão. Ressalta-se, ao fi nal, a fecundidade do investimento nas dimensões comunicativas da estratégia de prevenção por pares, por meio do enriquecimento dos repertórios argumentativos.
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