The article analyzes current (up to 2012)
Parece fora de qualquer polêmica o fato de que a política nacional é majoritariamente branca. Levantamentos recentes indicam que a proporção de negros no parlamento federal nunca ultrapassou os míseros 9%. Mas a despeito dessa evidente marginalidade, pouco se sabe sobre as causas dessa sub-representação política. Este artigo pretende elucidar quais são os principais filtros que afastam os não brancos, pretos e pardos, da política brasileira. Para tal, foi feito um levantamento sobre a cor dos candidatos a vereador nas eleições de 2012 nas duas maiores cidades brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Diante da carência de registros oficiais sobre a raça ou cor desses candidatos, optamos por submeter suas fotos, disponibilizadas pelo TSE, à classificação de uma equipe de pesquisadores. Os resultados permitiram entender até que ponto o alheamento político dos não brancos brasileiros se deve: (i) a vieses no recrutamento partidário; (ii) às diferenças de capital educacional e patrimônio entre os candidatos brancos e não brancos; (iii) às desigualdades na distribuição dos recursos partidários e eleitorais; ou (iv) às próprias preferências eleitorais dos votantes. Ao que parece, as chances eleitorais dos pretos e pardos refletem as dificuldades que esses grupos têm em ascender à pequena elite de candidatos que possuem os maiores financiamentos e as maiores votações.
INTRODUÇÃON ão é preciso ser um observador atento da política brasileira para perceber que ela é feita basicamente por homens brancos. Uma rápida mirada pelos noticiários jornalísticos já é capaz de indicar o quanto pretos e pardos estão alijados da representação e dos demais postos de poder. Os dados estatísticos, computados nas últimas eleições nacionais, confirmam essa impressão, haja vista que quase 80% dos deputados e deputadas eleitos no último pleito se declararam brancos (Campos e Machado, 2015a). É verdade, contudo, que subrepresentação política não é uma exclusividade dos pretos e pardos: a política brasileira não é apenas branca, mas também masculina. Porém, medidas que visam corrigir a sub-representação das mulheres nos legislativos, por exemplo, já estão na pauta de debate político há algum tempo, enquanto o mesmo não pode ser dito sobre os não brancos.Talvez por isto, tenha causado surpresa a proposta de cotas legislativas para negros, aventada no bojo da reforma política sugerida pela presi-
ResumoMesmo um observador leigo da política brasileira é capaz de constatar que os pretos e pardos estão excluídos das suas arenas decisórias. Contudo, a ausência de registros sobre a cor/raça de nossos políticos sempre dificultou o dimensionamento dessa sub-representação e as suas possíveis causas. Desde as eleições de 2014, porém, o Tribunal Superior Eleitoral computa a raça/cor dos candidatos registrados, o que permite contornar parcialmente essas dificuldades. Neste trabalho, recorremos a esses dados para dimensionar quão sub-representados pretos e pardos estão na Câmara dos Deputados e, sobretudo, testar algumas hipóteses explicativas de tal fenômeno. Os resultados indicam que as chances eleitorais de pretos e pardos são menores em relação às de brancos por causa de múltiplos fatores: (1) classe de origem, (2) acesso a recursos de campanha e (3) estruturas partidárias competitivas. Tudo isso sugere que medidas que busquem tornar a representação política mais diversa devem considerar a complexidade dos obstáculos interpostos a pretos e pardos. PALAVRAS-CHAVE: raça; negros; representação política; eleições; recrutamento político. I. Introdução 1A ssim como outros espaços de poder e prestígio, a representação política é uma esfera majoritariamente branca no Brasil. Mas se a ausência de pretos e pardos 2 é relativamente evidente, o mesmo não pode ser dito sobre o diagnóstico de suas causas. Embora seja possível conjecturar que ela reflita o ciclo cumulativo de desigualdades, que oblitera a ascensão de pretos e pardos em outras esferas sociais, a ausência de registros sobre a cor/raça dos políticos brasileiros sempre dificultou a produção de evidências mais robustas que ajudassem a determinar os mecanismos subjacentes a essa situação. Disso resulta que as pesquisas sobre a dimensão dessa sub-representação e os fatores que a geram sempre tiveram de imaginar metodologias complexas para gerar resultados limitados.Nas eleições de 2014, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) computou, pela primeira vez em sua história, a raça/cor dos candidatos registrados. Além de armazenar uma variável fundamental para estudos de estratificação no país, essa inclusão permite o cruzamento dessa clivagem com todas as outras já computadas pelo TSE tradicionalmente, como renda do candidato, receitas de campanha, sexo, estado civil, ocupação etc. Esses dados permitem não apenas estimar a magnitude da sub-representação política de pretos e pardos, mas também aventar hipóteses explicativas para tal sub-representação.Neste trabalho, recorremos a esses dados para dimensionar a sub-representação de pretos e pardos nas últimas eleições nacionais e, sobretudo, testar algumas hipóteses que podem ajudar a explicar tal fenômeno. Análises preliminares já indicam que a presença de pretos e pardos nas listas de candidaturas está aquém da proporção desses grupos na população de modo geral, embora tal
O idealismo é um dos maiores vícios intelectuais da humanidade, presente em várias disciplinas acadêmicas e no debate público de diversos países e culturas. Sua incapacidade de reconhecer a mediação é particularmente perniciosa quando o assunto é a política, atividade práti-ca que se desenrola exatamente no intercâmbio entre as ideias e o mundo da experiência. Assim, ao formularmos a questão que guia o presente ensaio, "Podemos considerar as ações afirmativas políticas multiculturalistas?", precisamos imediatamente entender que ela não pode ser respondida no abstrato. Isto é, até pode, mas tal resposta será de exíguo valor. Primeiro, temos o problema de que a definição de Ação Afirmativa (AA) é muito ampla, englobando uma variedade de políticas de desenhos e parâmetros diversos, muito dependentes de contextos institucionais e culturais de cada país onde essa política foi implantada. Por conseguinte, as justificações públi-cas possíveis para sua implantação também variam: umas * Agradecemos aos pareceristas anônimos de Lua Nova pelos comentários e sugestões muito pertinentes.
Resumo: Embora o conceito de enquadramento venha sendo intensivamente utilizado nos estudos de mídia, parece unânime a opinião de que seu emprego ainda é fluido demais para fundar um paradigma teórico. Contribui para isso a informalidade metodológica característica das rotinas tradicionalmente usadas para a identificação de enquadramentos. Diante dessa lacuna, este artigo propõe um protocolo para a identificação de enquadramentos midiáticos a partir da combinação de Programas Computacionais de Codificação Assistida de Dados Qualitativos (Caqdas, na sigla anglófona) com a técnica da Análise de Correspondências. Tal combinação permite explicitar os critérios que validam uma dada tipologia de enquadramentos sem, contudo, automatizar todo o processo. Para exemplificar os ganhos heurísticos dessa técnica, ela é aplicada a um corpus de textos sobre as ações afirmativas raciais nas universidades brasileiras publicados nos dois principais jornais brasileiros.Palavras-chave: enquadramento; Caqdas; imprensa; análise de correspondências; ações afirmativas Abstract: The concept of framing is intensively used in media studies. However, it is usually employed in a fractured way. In despite of its semantics inaccuracy, also contributes to these problems the lack of formal routines to identify media-frames. This article proposes a routine to framing identification based on the combination between Computer-Assisted Qualitative Data Analysis Software (Caqdas) and Correspondence Analysis techniques. Such mixed method could clarify the formalization of media-frames without mechanizing the full process. To exemplify the usefulness of this technique, it's applied to a corpus of journalistic texts about the affirmative action in Brazil.
O trabalho analisa a estratégia editorial do jornal O Globo no tratamento da questão das cotas raciais a partir do exame dos textos publicados pelo periódico sobre o tema entre 2001 e 2008. Focamos os textos de caráter opinativo para testar a hipótese de que há um controle editorial estrito na maneira como a questão das cotas raciais é apresentada no jornal na forma de controvérsia. Denominamos tal estratégia de "administração do espaço do debate". A análise temporal dos dados mostra que (1) O Globo mantém uma razão constante entre o número de textos opinativos e o de reportagens publicadas sobre o tema; e (2) entre os textos opinativos o jornal mantém uma razão constante entre textos contrários e favoráveis, com expressiva vantagem para os primeiros. A partir do cruzamento dos diferentes formatos e autorias dos textos publicados com sua valência descobrimos que, enquanto editoriais e cartas de leitores são dominantemente contrários, acadêmicos e colunistas do jornal se dividem entre prós e contras, e militantes, políticos e burocratas são apresentados como dominantemente favoráveis. Em suma, nossa análise permite mostrar que O Globo consegue ao mesmo tempo apresentar uma aparência de imparcialidade e controlar o espaço de debate de modo a passar uma posição dominantemente negativa das ações afirmativas para negros na universidade brasileira.
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