Resumo Levando em conta a expansão do ativismo de diversas agências religiosas nas mais variadas arenas públicas nacionais, este artigo visa trabalhar o problema da reconfiguração recente do secularismo brasileiro. A partir da análise de três casos concretos – cerimônia de inauguração do Tempo de Salomão, repercussão midiática de uma pastora transgênera e controvérsias no Supremo Tribunal Federal envolvendo agentes religiosos –, procuraremos demonstrar como as diversas dinâmicas de produção de visibilidade observadas resultam em um novo entendimento do que é “fazer religião” em público e, no limite, modificam a configuração de nossa ordem jurídica secular. Seguindo por esse caminho e observando o modo como a publicização da experiência sacraliza (moraliza) problemas privados tornando-os públicos, constata-se que grande parte da eficácia da linguagem religiosa contemporânea está menos na imposição de uma mensagem do que na qualidade e plasticidade de suas encenações nas diferentes arenas.
Resumo Neste artigo analisamos as formas da presença de moralidades católicas em duas audiências públicas realizadas no Supremo Tribunal Federal. A primeira refere-se ao julgamento da ação sobre a permissão do uso de células tronco embrionárias em pesquisas científicas; e a segunda, ao julgamento da ação que possibilitou a interrupção da gestação de fetos anencéfalos. Nas duas ações agentes vinculados à CNBB participaram do processo. Observamos as estratégias e dispositivos acionados por esses agentes, vinculados ao chamado bloco “pró-vida”, na constituição de seu argumento geral “em defesa da vida” nas duas audiências. Para compreender a disputa pelo convencimento nessas arenas, observaremos a controvérsia mais ampla, identificando os repertórios de justificação produzidos pelos agentes e blocos favoráveis às ações, especialmente referentes à categoriavida.
Os artigos do dossiê "Religião e luta por direitos" presentes neste volume de Religião & Sociedade examinam a participação de organizações e lideranças religiosas hegemônicas no Brasil, sobretudo cristãs, em disputas e controvérsias políticas por direitos. Revelam que seus agentes atuam em diferentes trincheiras e frontes, inclusive uns contra os outros, seja defendendo o direito à liberdade religiosa, os direitos sociais e o Estado de direito, seja se opondo a eles e a demandas por direitos sexuais e reprodutivos e aos Direitos Humanos de minorias, seja disputando a definição e interpretação jurídico-política do princípio da laicidade constitucional e sua aplicação nas diretrizes governamentais, nas políticas públicas, nos legislativos, na escola pública, e daí por diante.
Resumo: Neste artigo, acompanharemos o processo de formação do ativismo católico antidireitos sexuais e reprodutivos e antigênero na Igreja Católica, descrevendo alguns de seus momentos e características centrais. Retraçaremos as linhas da política institucional instituída pelo Vaticano que culminaram na explosão militante católica contrária a esses temas. Analisaremos desde a organização da ofensiva doutrinária e acadêmico-científica, marcada pela produção de concepções teológicas e pela sua defesa em termos não doutrinais, mas científicos, jurídicos e filosóficos por experts vinculados à Igreja Católica, até a organização da ofensiva pastoral, centrada na difusão das categorias antidireitos sexuais e reprodutivos e antigênero por meio de todo o aparato institucional da Igreja, desde seu topo até suas bases.
Nesse artigo realizaremos a análise dos documentários sobre a anencefalia produzidos no período em que a ação que julgava a permissão da antecipação do parto de fetos anencéfalos tramitou no Supremo Tribunal Federal (STF), entre 2004 e 2012. Duas questões serão observadas: a forma pela qual algumas figuras são construídas enquanto “vítimas” e a maneira pela qual a emoção e os sentimentos são acionados. Essas duas questões estão profundamente intrincadas na controvérsia em torno da anencefalia. Além dos documentários, também nos utilizaremos de passagens da audiência pública convocada pelo STF para esclarecimento sobre o tema. Ambos, documentários e audiência pública, são duas das cenas que compõem a controvérsia em torno da anencefalia. A partir da observação da exposição das experiências de pessoas concretas realizadas nessas duas cenas, observaremos como as emoções foram acionadas nessa disputa e de que maneira, a partir delas, procurou-se produzir sujeitos de direitos e figuras de vítimas.
Neste artigo analisamos a circulação das aparições de Nossa Senhora e de outras manifestações marianas contemporâneas no Brasil. Essa circulação ocorre por meio de peregrinações – de pessoas e dos próprios fenômenos – pelo país. Devemos nos deter em dois aspectos fundamentais e complementares para o sucesso destes eventos: por um lado, a importância das redes paroquiais, como as formadas pelos grupos de oração da RCC, na divulgação e realização das peregrinações – geralmente ônibus que partem de uma paróquia, tendo como destino uma aparição de Nossa Senhora. Por outro lado, apenas as redes paroquiais não são suficientes para explicar o sucesso destes eventos, articulados a partir de redes desterritorializadas, utilizando-se de outras formas de contato e comunicação entre as pessoas, que ultrapassam a paróquia.
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