A análise crítica das instituições de ensino médico revela o comprometimento de sua prática pedagó-gica com a instalação de um modelo de assistência distante e impessoal. Tal comprometimento se evidencia na adoção de uma metodologia de ensino que estimula o aluno a se destacar do seu objeto de trabalho e em uma noção de saber calcada nos crité-rios de cientificismo estabelecidos no século XVIII. A natureza, na modernidade, era vista como exterior ao homem e, portanto, como podendo ser objetivada. Ao cientista não era permitido mesclar matéria-espírito, qualidade-quantidade, corpo-alma, sentidos-razão, organismo-mente, paixões-vontade.Na Medicina -entendida tanto como campo de saber sobre o adoecer quanto campo da prática assistencial frente aos enfermos -essa objetivação foi conseguida através da eleição da doença como seu objeto. Tratava-se de ver e tratar a doença expressa através da lesão anátomo-patológica. Esse era o trabalho médico e a escola médica deveria preparar os alunos -futuros médicos -para executá-lo.Enquanto instituições sociais, as escolas em geral e a escola médica em particular exprimem, historicamente, os valores e os interesses dominantes do grupamento social que as legitimam. É compreensível, portanto, que as escolas médicas, coerentes com o anseio da sociedade por uma Medicina eficiente e eficaz, tenham assumido a tarefa de transmitir o saber médico como um saber sobre as doenças, cuja universalidade seria demonstrável no hospital (1). Como conseqüência, elaborou-se uma proposta pedagógica que levava o aluno a se conduzir frente ao objeto de estudo como se fora um cientista frente a uma experiência de laboratório, isto é, buscando controlar as variáveis intervenientes ao processo investigado para evitar "contaminações" (2).O curso médico se constitui, assim, nessa dupla vertente: de um lado, disciplinas que reúnem o saber sobre as dimensões físico-químicas da realidade biológica do adoecer e, de outro, o treinamento constante de uma postura científica frente ao adoecer do paciente. Tal modelo, porém, não é suficiente para dar conta do que se passa na prática médica. No momento em que o aluno é exposto à complexidade do momento assistencial, o modo singular de cada paciente adoecer e a maneira singular com que cada profissional realiza a sua prá-tica se impõem. A complexidade desta situação não pode ser abarcada por um pensamento científico que se sustenta em generalizações e se valida na
Na formação médica, diagnosticamos a falência do modelo pedagógico/assistencial que se revela, dentre outros sintomas, na ideologia de frieza e distanciamento que perpassa a prática médica. Este modelo de relação médico-paciente reproduziria a relação estudante-cadáver. Visando modificar tal ideologia, desenvolvemos, na UFRJ, em atividade interdisciplinar com a Anatomia, grupos de reflexão com os alunos do primeiro período da Faculdade de Medicina. A partir dos resultados, de dois anos dessa pesquisa, denominada "O cadáver e a formação médica", realizamos, com o apoio da Fundação José Bonifácio, um vídeo didático, "Lição de Anatomia", por meio de equipe multidisciplinar, incluindo professores e alunos do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF, da Faculdade de Medicina da UFRJ e do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde da UFRJ (NUTES). Pretendemos que a utilização desse recurso audiovisual constitua mais uma ferramenta para a melhoria do ensino e da prática médica, introduzindo a discussão de questões éticas. A pesquisa e a realização do vídeo nos mostraram a possibilidade de se repensar e inovar o ensino universitário, o que foi, para todos nós, uma lição de convívio democrático.
A partir da discussão sobre a eficácia da psicanálise, a autora considera necessário o diálogo com as neurociências e a psicofarmacologia. Aponta como o critério de eficácia, entendido pela medicina baseada em evidências, apaga a dimensão da narratividade e, conseqüentemente, da subjetividade. Apresenta uma vinheta de um atendimento emergencial no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho como possibilidade de se manter a escuta psicanalítica no atendimento psiquiátrico.
A complexidade do humano demanda hoje uma interlocução entre os diversos saberes. Buscando um diálogo da psicanálise com as ciên cias cognitivas, o artigo recorta a consciência, o eu e o corpo como questões. Valendo-se do referencial freudiano, busca estabelecer, atra vés de uma leitura crítica, semelhanças e diferenças entre a compre ensão desses fenômenos nas duas áreas, bem como dentro do campo psicanalítico na discussão da linguagem. Privilegiando Varela e seu conceito de enação, propõe uma releitura da gênese egóica indissociável do corpo, enfatizando a dimensão pulsional própria do humano.
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