1391 Seguindo análise dos modelos de democracia de Held (1987).Elementos centrais da teoria democrática, as noções de participação e representação vêm demarcando, historicamente, as principais diferenças na confusa -e polissêmica -trajetória da constituição de modelos de democracia 1 . Trata-se de dois conceitos que, por marcarem diferenças signifi cativas nas orientações normativas acerca da melhor forma de governo, tendem a ser dicotomizados nas refl exões e proposições teórico-analí-ticas, carregando uma disputa de representações e orientações acerca do signifi cado e do papel da política e da democracia em nossas sociedades. Assim, embora referenciados na idéia de participação política, ambos os conceitos registram, com orientações diversas, dois modelos centrais de organização política democrática, quais sejam: o modelo da democracia representativa (R), ancorado na idéia de que as decisões polí-ticas são derivadas das instâncias formadas por representantes escolhidos por sufrágio universal; e o modelo da democracia participativa (P), por sua vez, assentado na idéia de que compete aos cidadãos, no seu conjunto, a defi nição e autorização das decisões políticas. No primeiro caso, como sabemos, o ponto
O debate contemporâneo, no campo da teoria democrática, vem desafiando o desenvolvimento de estudos e reflexões acerca das relações entre participação e representação no interior das práticas e experiências participativas. Tendo em vista que, de maneira geral, a participação ocorre através da representação, o trabalho objetiva analisar, a partir de experiências brasileiras, duas dimensões referentes ao grau de especificidade da representação no interior de modelos participativos, quais sejam: (i) frente ao modelo de representação eleitoral; e (ii) no interior de experiências participativas, notadamente as relativas a dois modelos paradigmáticos de representação: conselhos gestores e orçamento participativo.
Conjugando o debate sobre formas alternativas de representação política com estudos que analisam as contribuições das associações à democracia, o trabalho pretende analisar as práticas de representação, em especial, a representação conselhista, como mais um repertório de ação que amplia e, em muitos casos, sobrecarrega suas ações, impactando potenciais benefícios democráticos. Trata-se de um exercício analítico em torno das seguintes questões: tendo em vista 1. as diferenças de perfi l no campo associativo; 2. as características e requisitos desses formatos de representação institucional e 3. a participação das associações e movimentos sociais em diferentes frentes políticas e sociais, em que medida essa atuação institucional combina, ou atrita, com modalidades
em especial a Ilse Scherer-Warren, Julian Borba e Domitila Costa Cayres, pela leitura e comentários. Agradeço também às críticas, aos comentários e às sugestões feitas pelos pareceristas anônimos da revista, embora nem todas tenham sido devidamente incorporadas ao artigo. Esta é uma versão revisada do trabalho apresentado no XV Congresso Brasileiro de Sociologia (SBS, 2011), fruto da pesquisa de bolsa de produtividade do CNPq. IntroduçãoAs condições e os impactos das associações na vida social podem ser analisados de diversas maneiras e seguindo variados objetivos e enfoques analí-ticos, a fim de avaliar: as influências dos grupos e associações no processo de socialização dos indiví-duos; as potencialidades em promover a reprodução, a integração ou a transformação social; suas capacidades de alavancar o desenvolvimento econômico; o fomento de estruturas de pertencimento e de identidade cultural, entre outros. Inserido no campo da sociologia política, este trabalho observará as relações entre as associações e a democracia tendo como cenário as sociedades contemporâneas marcadas por alto grau de complexidade e de pluralidade da vida social.O interesse por esse tema segue uma importante tendência teórica que tem renovado ou revivido, em boa parte a partir de Tocqueville, as análises da importância das associações para a democracia, cuidando para diferenciar tanto as potencialidades democráticas das associações quanto as variadas concepções de democracia que as sustentam. Em seu livro Democracy and association (2001), Mark Warren aponta para a emergência de um consenso no interior da teoria democrática acerca da importância
O movimento antimanicomial no BrasilThe anti-asylum movement in Brazil
O artigo aborda teorias da democracia que, fazendo uso de diferentes argumentos, dão destaque ao papel das associações na promoção de ideais democráticos como participação, igualdade, justiça, legitimidade, deliberação e eficiência. Em que pese as variações teórico-normativas que registram diferenças no tratamento e no valor dado ao papel das associações, é possível extrair, dentre um campo plural de abordagens teóricas, pelo menos três enfoques que apontam relações positivas, senão alternativas, entre as associações e a democracia: o enfoque da democracia participativa, da democracia associativa e da democracia deliberativa. Embora compartilhem a insatisfação com o modelo liberal eleitoral, reclamando, entre outros, do peso competitivo e individual dado à dimensão da participação política, esses modelos democráticos manifestam, além de pontos em comum, diferenças analíticas que merecem atenção. Para expoentes da democracia participativa, o principal argumento acerca da importância democrática das associações está ancorado na tese de que as associações são instrumentos que qualificam a participação direta dos cidadãos, verdadeira essência da democracia. Para a vertente da democracia associativa, as associações são soluções - possíveis e democráticas - para lidar com a administração da complexidade social. Teóricos da democracia deliberativa enfatizam a importância da sociedade civil, preenchida fundamentalmente por associações e movimentos sociais, para gerar poder legítimo na esfera pública. O artigo sugere que a ampliação e o aprofundamento da democracia depende da articulação, não isenta de tensões, entre os pressupostos da participação, da representação, da deliberação e da associação.
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