Introdução: As dermatoses específicas da gestação são doenças de pele que ocorrem exclusivamente durante a gravidez ou puerpério, variando de 0,5 a 3,0%. Frequentemente, esse grupo de doença se caracteriza por prurido intenso, com lesões cutâneas de morfologia variável, sendo a mais comum as placas e pápulas urticariformes pruriginosas da gravidez (PUPP). Relato de Caso: Gestante com 28 anos, GII PI A0, com 40 semanas e 4 dias, com queixa de prurido em região abdominal e mamas. Ao exame físico: presença de lesões eritematosas crostosas, pruriginosas em região de mamilo e abdome, poupando a região umbilical. Encaminhada para a clínica dermatológica, teve o diagnóstico de PUPP, sendo prescrito clobetazol creme + hidratante corporal 2x ao dia por 7 dias e loratadina 10 mg por 10 dias. Após três dias, foi realizada a indução do parto, sem intercorrências, com feto vivo e saudável. Em menos de 24 horas pós-parto, as lesões cutâneas tinham regredido quase completamente. Conclusão: O diagnóstico das PUPP é clínico, as lesões aparecem primeiro como estrias e depois se espalham para os seios, braços ou coxas, poupando a região do umbigo. As lesões inicialmente surgem como papulares eritematosas, que, posteriormente, coalescem para formar placas urticariformes. Bolhas não são vistas. A patogênese das PUPP ainda não é bem conhecida, podendo ser multifatorial. Alterações endocrinológicas, imunológicas, metabólicas e vasculares complexas associadas à gravidez podem influenciar a pele de várias maneiras. Algumas teorias sugerem que as PUPP podem representar uma resposta imunológica aos antígenos fetais circulantes. Outras teorias sugerem que o estiramento da pele abdominal pode danificar o tecido conjuntivo subjacente, resultando na liberação de antígenos que podem desencadear uma resposta inflamatória reativa. Também podem estar relacionadas ao grau de alongamento da pele durante o terceiro trimestre e à diminuição abrupta desse alongamento que ocorre com o parto. Além disso, foi relatada uma associação de PUPP com fetos masculinos e partos de cesariana. Não há alterações sistêmicas vistas nas PUPP, porém a maioria dos pacientes relata prurido grave. Os achados histopatológicos e a imunofluorescência não são específicos. Assim, o diagnóstico dessa dermatose depende principalmente de critérios clínicos. O tratamento sintomático com corticosteroides tópicos, com ou sem anti-histamínicos, geralmente é suficiente para controlar o prurido e as lesões na pele. O prognóstico materno e fetal não apresenta comprometimento e não há envolvimento cutâneo do recém-nascido. As lesões são autolimitadas e a doença tende a não se repetir. Porém, é importante reconhecer e distinguir, entre todas as dermatoses gestacionais, aquelas entidades benignas das outras que podem comprometer o bem-estar materno-fetal.
Introdução: Raríssimas vezes tem sido descrito cisto de ovário em pacien-tes pré-púberes. A sua presença é incomum e ocorre em decorrência de cis-tos foliculares pré-puberais causados por pulsos hormonais intermitentes de gonadotrofinas. Nessa fase pré-puberal, geralmente são menores que 1 cm de diâmetro e regridem espontaneamente. Às vezes, porém, podem ter diâ-metro maior que 2 cm. O tamanho do cisto e os sinais clínicos são levados em consideração. Cistos com menos de 5 cm de diâmetro, assintomáticos, justificam conduta conservadora. No entanto, quando está presente irrita-ção abdominal, devemos investigar, inicialmente com solicitação exame de imagem. Relato de caso: Paciente com nove anos, trazida pela mãe, aden-trou pronto socorro infantil com dor abdominal irradiando para anexo direito. Concomitantemente, tinha vômitos e recusa alimentar por três dias. Encontrava-se em posição antálgica com dor à palpação superficial e profunda. Tomografia e ultrassonografia apresentaram apêndice normal, ovário direito aumentado, sugerindo cisto ovariano com 4 cm no maior diâmetro, sugestivo de torção. O hemograma apresentou leucocitose importante. Na cirurgia, observou-se torção ovariana com sinais de necrose, sangue livre na cavidade. Realizou-se ooforectomia direita. O exame histopatológico revelou necrose isquêmica. Evolução satisfatória. Conclusão: Tratamentos conservadores de cistos ovarianos merecem seguimento ecográfico e dosagem de marcadores tumorais para excluir malignidade. Ao se optar pelo procedimento cirúrgico, deve-se tentar sempre a cirurgia conservadora. A aspiração do cisto apresenta alta incidência de recorrência. A procura por atendimento médico ocorre na maioria das vezes pela dor abdominal difusa e pelos sinais de irritação peritoneal. O tratamento cirúrgico é indicado nas urgências ginecológicas e em caso de malignidade. A principal causa de abdome agudo nessa idade não é ginecológica. As hipóteses diagnósticas mais comuns são: apendicite e obstrução por áscaris. Neste caso, observou-se cisto ovariano torcido e necrosado, sem possibilidade de ooforoplastia. Concluímos que, apesar de o abdome agudo não ser comum, quando presente em uma menina deve suscitar a hipótese de cisto ovariano.
Introdução: O sangramento uterino anormal (SUA) é um dos problemas ginecológicos mais comuns, responsável por 18 a 30% das consultas em ginecologia, o que resulta em custo anual estimado de um bilhão de dólares nos Estados Unidos, tendo impacto significativo nas perspectivas físicas, psicológicas, sociais, profissionais e familiares das mulheres. O SUA foi redefinido em 2009 pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), que projetou o sistema de classificação Pólipos, Adenomiose, Leiomiomas, Malignidade e Hiperplasias, Coagulopatias, Distúrbios Ovulatórios, Distúrbios Endometriais, Iatrogenias e causas não classificadas (PALM‒COEIN) para definir as suas causas, em uma tentativa de facilitar o raciocínio clínico e padronizar a nomenclatura, abolindo assim termos confusos e inconsistentes usados para definir o SUA. Uma das causas estruturais de SUA são os pólipos endometriais, com incidência que varia de 3,7 a 65%. Esses pólipos são crescimentos focais da mucosa uterina e consistem em glândulas endometriais, estroma e vasos sanguíneos. O sangramento uterino anormal é o sintoma mais comum de tais pólipos e, em mulheres com esse tipo de sangramento, acredita-se que sua prevalência esteja entre 20 e 30%. Objetivo: Lembrar ao ginecologista clínico que não são apenas exames complementares que fazem o diagnóstico das causas de SUA. Relato de Caso: Paciente de 53 anos, encaminhada ao ambulatório de ginecologia da Faculdade de Medicina de Valença (FMV) em razão de sangramento vaginal de forte intensidade há 10 dias, sem melhora com uso de medicação oral. Ao exame físico: hipocorada (+++/4+), exame especular: presença de lesão polipoide, friável, com 5 cm, exteriorizando por orifício externo do colo. Exames complementares: Hb: 7,1g%, Ht: 21,5%. Colpocitologia 2017: normal. A paciente recebeu concentrado de hemácias. Realizou-se a exérese do pólipo por via vaginal, por apreensão e rotação do pedículo, com laudo histopatológico de pólipo endometrial sem atipias. Conclusão: Os exames complementares, embora mais objetivos e precisos, não devem substituir o exame físico. A paciente já havia sido examinada por outros profissionais, que não realizaram o exame ginecológico e apenas solicitaram exames complementares. Temos de lembrar que nenhum resultado laboratorial substitui o exame ginecológico. A solicitação exagerada de exames, por uma "medicina defensiva”, demonstra falta de preparo ou de confiança. Nos dias atuais, a pressa ou a necessidade de atender um número maior de pacientes para compensar a desvalorização da consulta são também fatores relevantes. Isso se agrava pelo aparecimento de novos e fascinantes métodos diagnósticos que encantam os médicos novos, gerando a falsa sensação de estarem praticando uma medicina moderna, eficiente e segura. O exame físico continua sendo uma técnica indispensável e insubstituível na prática médica. Contribui sobremaneira para formular hipóteses diagnósticas, estabelecer boa relação médico-paciente e tomar decisões terapêuticas. Os exames laboratoriais e de imagem servem como complementação do exame físico.
Introdução: A colestase intra-hepática da gravidez (CIHG) é uma forma reversível de colestase (fluxo biliar prejudicado) que aparece principalmente no final do segundo ou terceiro trimestre da gestação, caracterizada por prurido de leve a grave e testes de função hepática alterados, que tendem a diminuir rapidamente após o parto, sendo significativamente mais frequente na América do Sul (9,2‒15,6%). Está associada a resultados perinatais insatisfatórios e maior risco de trabalho de parto prematuro, sofrimento fetal e morte fetal intrauterina súbita. Objetivo: Relatar um caso de CIHG para lembrar aos pré-natalistas a necessidade do diagnóstico imediato e correto, com intervenção médica apropriada para melhorar o prognóstico fetal. Relato de Caso: Paciente com 29 anos, primigesta, com idade gestacional de 32 semanas e 2 dias pela ultrassonografia (USG) de 1º trimestre, deu entrada na maternidade com queixa de epigastralgia e prurido generalizado com início há 1 dia. Ao exame físico, apresentava leve icterícia 1+/4+. Entre os exames laboratoriais solicitados, apresentava bilirrubina total (BT)=0,94 mg/dL e bilirrubina direta (BD)=0,79 mg/dL. Durante a internação, foram realizados exames diariamente, sendo observado padrão progressivo: BT=1,3 mg/dL e BD=0,7 mg/dL. BT=1,7 mg/dL. A USG evidenciou evolução com diminuição de volume do líquido amniótico e doppler limítrofe. Foi indicada interrupção da gestação por parto cesáreo, com nascimento de recém-nascido (RN) único, vivo e banhado em mecônio. Na consulta puerperal paciente apresentou melhora progressiva da função hepática: BT=0,7 mg/dL, BD=0,4 mg/dL e bilirrubina indireta (BI)=0,3 mg/dL. Foi orientada quanto à necessidade de acompanhamento ambulatorial em razão do risco de novo quadro em futura gestação. Conclusão: Embora a etiologia da CIHG ainda permaneça obscura, fatores genéticos, hormonais e ambientais parecem interagir em sua etiopatogenia. A CIHG geralmente se apresenta com início súbito de prurido grave que rapidamente se generaliza, podendo ser atormentador, porém a principal consideração nessa patologia não é o prurido materno, mas o prognóstico fetal, significativamente prejudicado. Como há um defeito na excreção de sais biliares, resultando em ácidos biliares elevados (de até 10 a 25 vezes) no soro materno, esses ácidos podem passar para a circulação fetal, podendo ter efeitos deletérios no feto em razão da anóxia placentária aguda e da depressão cardíaca fetal. Apesar de algumas diretrizes recomendarem o tratamento com o ácido ursodeoxicólico, que tem demonstrado não apenas reduzir o prurido materno, mas também melhorar o prognóstico fetal, seu uso ainda necessita de pesquisas in vivo que comprovem seus benefícios. Uma vigilância obstétrica rigorosa e o parto logo que a maturidade pulmonar é alcançada, é ainda a diretriz mais recomendada. Em mulheres com história pregressa de CIHG, o uso de anticoncepcionais orais combinados não é contraindicado quando da normalização dos exames bioquímicos após o parto. A amamentação não é contraindicada.
Introdução e Relato de Caso: O tumor de Burschke-Lowenstein (TBL) é um condiloma gigante que acomete mais frequentemente a região anogenital e está associado à infecção pelos HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano) 6 e 11. Apesar do baixo potencial oncogênico desses genótipos, o TBL possui comportamento agressivo, além de apresentar elevados índices de recorrência (56%), malignização para carcinoma escamoso (60%) e mortalidade (20%). Mulher, 70 anos, natural do Rio de Janeiro (RJ). Admitida em hospital público terciário no Rio de Janeiro em agosto de 2017 em razão de condiloma gigante em região genital. Ao exame, duas lesões volumosas, em vulva, acometendo os grandes lábios, e em região perianal e sulco interglúteo. Foi realizada ressecção da lesão vulvar em abril de 2018 com histopatológico confirmando diagnóstico de condiloma e lesão intraepitelial de alto grau com margens livres. Paciente recebeu alta com programação de nova abordagem da lesão perianal. Evoluiu com dor, sangramento e áreas de fístulas drenando secreção purulenta. Iniciada antibioticoterapia empírica com coleta de material para cultura e realizada ressecção da lesão (14,5×7,0×4,0 cm), cujo resultado histopatológico evidenciou condiloma acuminado associado à lesão de alto grau, com margens medial e lateral comprometidas. Evoluiu com deiscência e foi reabordada para rotação de retalho. Admitida em setembro de 2019 para nova biópsia de massa volumosa e exofítica recidivada em canal anal. O histopatológico mostrou-se com carcinoma de células escamosas. Tomografia computadorizada de abdome e pelve evidenciando acometimento de canal anal, sem linfonodomegalias e líquido livre na cavidade. Optado por quimioterapia, foi iniciado tratamento em junho de 2020, sem resposta satisfatória. Paciente realizou internação recente em agosto de 2020 para estabilização clínica com proposta de reiniciar tratamento quimioterápico. Objetivos: Relatar um caso de TBL comprometendo vulva, região perianal e glútea, com recidiva em canal anal. Métodos: Estudo retrospectivo do tipo relato de caso no qual foi descrita a evolução de uma mulher apresentando tumor diagnosticado como TBL vulvar com recidiva em canal anal. Submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) via Plataforma Brasil e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pela paciente. A elaboração do texto foi realizada a partir da utilização de dados contidos no prontuário. Resultados e Conclusão: Este relato ilustra um caso de TBL com longa evolução e recidiva com malignização para carcinoma de células escamosas de canal anal. Trata-se de uma enfermidade com elevada morbimortalidade na qual a abordagem cirúrgica da lesão é tratamento de eleição, posto que os índices de recidiva e transformação maligna são elevados.
Introdução: A agenesia de clitóris e pequenos lábios é uma anomalia congênita pouco frequente, que pode ser encontrada isoladamente ou associada a outras condições em diagnósticos sindrômicos. As alterações na genitália externa feminina podem levar a distúrbios da continência urinária, fertilidade, sexualidade e implicações psicológicas em razão da cada vez mais constante padronização estética da vulva. Além disso, as malformações de clitóris são relatadas por alguns autores como tabu na literatura médica, o que prejudica a identificação básica das alterações no exame físico da genitália externa. Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 11 anos, sem comorbidades, foi ao ambulatório de ginecologia infanto-puberal acompanhada pela mãe, para avaliação de anomalia de genitália externa vista em consulta de pediatria. A história fisiológica evidencia telarca aos nove anos e pubarca aos 10 anos, porém ausência de menarca até a data da avaliação. A história patológica pregressa não foi digna de nota. A avaliação de idade óssea é compatível com a idade cronológica de acordo com a radiografia de mãos e punhos, e a ultrassonografia de abdome total apresenta-se sem alterações ao exame, com útero presente com mensuração normal. O exame físico evidenciou genitália externa feminina com agenesia de pequenos lábios e de clitóris, hímen pérvio não roto, vagina mensurada em torno de 7 cm, mamas em estágio M3 pela classificação de Tanner, e não foi possível realizar avaliação adequada do estágio de pilificação por causa da tricotomia. O restante do exame físico foi normal. Mãe e filha foram orientadas oportunamente e informadas de que a atitude seria expectante. Conclusão: A ausência do clitóris pode ser congênita ou adquirida. Entre as causas adquiridas, encontram-se o líquen escleroso levando à atrofia genital, o apagamento de pequenos lábios e de clitóris, mesmo em meninas jovens. Sobre as causas adquiridas, as mutilações genitais encontradas em tribos da África Subsaariana e o torniquete de cabelo são causas de amputação de clitóris. A agenesia ou hipoplasia isolada de clitóris é menos comum do que a associação com outras síndromes ou outras alterações de estruturas da genitália externa. Neste relato de caso, a genitália interna mantém-se inalterada, reforçando a hipótese de a origem desse tipo de alteração ocorrer no tubérculo genital. Excepcionalmente rara, a hipoplasia da genitália externa congênita já foi descrita anteriormente, principalmente como parte de síndromes complexas. Por serem raras, é possível que as agenesias de clitóris sejam subdiagnosticadas e acarretem implicações à saúde infanto-puberal, bem como futuramente na mulher adulta. Esse caso ratifica a importância de realizar exame genital de rotina emcrianças e adolescentes e da correta orientação aos responsáveis e à paciente, de acordo com seu nível de compreensão, evitando a busca por procedimentos cirúrgicos ou condutas desnecessárias e mantendo o acompanhamento em conduta expectante de rotina.
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