Resumo: o presente artigo discute os dados da pesquisa realizada em 2008, no complexo de favelas de Manguinhos, no Município do Rio de Janeiro, sobre os itinerários terapêuticos da população local. Compreendemos por itinerários terapêuticos os caminhos percorridos pelo indivíduo na busca de solução para os seus problemas de saúde. Buscamos identificar até que ponto esses percursos são ordenados por esquemas simbólicos ou pela disponibilidade dos recursos. o método utilizado foi o qualitativo centrado na técnica de entrevistas semidiretivas seguindo um roteiro etnográfico. Foram entrevistados em média três moradores de cada comunidade de Manguinhos, perfazendo um total de 26 entrevistas. nos resultados da pesquisa, observamos que a oferta de serviços é heterogeneamente distribuída, sendo ela mesma fator gerador de desigualdades na doença. as estratégias diversas revelam que os conhecimentos e práticas desses indivíduos são construídos de e por experiências diversas, em situações biográficas determinadas, e que não há um modelo único de itinerário terapêutico. as "maratonas" urbanas percorridas pela população local denunciam a urgência do estado em colocar em prática políticas mais justas com um acesso completo à assistência à saúde, garantindo assim o respeito aos direitos. Palavras-chave: itinerários terapêuticos; cura; religião; acesso à saúde; serviços de saúde.
RESUMO O artigo trata de uma revisão integrativa sobre os determinantes que envolvem a escolha da via de parto no Brasil. Foram selecionados e analisados 15 documentos evidenciando a escolha da via de parto sob a perspectiva da autonomia das mulheres e a prevalência da cirurgia cesariana. O estudo revelou três categorias para análise: perfil socioeconômico das mulheres inseridas no atendimento público e privado, relação assimétrica entre os profissionais de saúde e a paciente e aspectos socioculturais que envolvem a escolha da cesárea comumente conhecidos como a ‘cultura da cesárea’. Os achados revelaram que aspectos como acesso aos serviços, violência obstétrica e informação às mulheres sobre as vias de parto são preponderantes. Quanto à autonomia das mulheres, elas não se sentem participativas ou respeitadas na decisão. Ademais, espera-se contribuir para a discussão sobre a elaboração de medidas que garantam o direito da mulher quanto à sua participação na escolha da via de parto, possibilitando a escolha informada e resgatando a autonomia das mulheres em seu processo gravídico-puerperal.
Introdução: os motivos que levam o usuário da Estratégia de Saúde da Família a comparecer ou não às consultas médicas programadas precisam ser conhecidos devido ao impacto negativo que as faltas podem causar no serviço de saúde, inclusive de caráter financeiro e no cuidado do usuário. Objetivo: conhecer o motivo e a percepção do usuário quanto à importância de comparecer às consultas agendadas, identificando as razões para o não comparecimento. Métodos: pesquisa quanti-qualitativa, com quantificação de faltosos em duas equipes do Centro de Saúde Escola no período de seis meses e entrevista semiestruturada com 22 pacientes que faltaram ou não às consultas médicas agendadas. Resultados: foi identificado um percentual de faltas de 48,9% no período estudado. O principal motivo para agendamento das consultas dos usuários foi o acompanhamento de sua saúde, o que pode ter diversas interpretações por parte dos profissionais de saúde e dos pacientes. Entre os motivos citados para as faltas às consultas, destacaram-se o esquecimento assim como o agendamento em horários inoportunos. Alguns ruídos na comunicação entre os usuários com a Unidade de Saúde também foram identificados, como a impossibilidade de cancelamento do encontro sem que o usuário compareça ao serviço. Conclusões: o estudo permitiu a identificação de aspectos relacionados à organização do serviço de saúde e ao usuário que interferem na assiduidade, assim como das propostas que podem melhorar o comparecimento às consultas médicas tais como diversificar as formas de agendamento, contato telefônico prévio, escutar o usuário, entre outros.
Profissionais de Saúde vêm buscando formação em pesquisa na área de Ciências Sociais no âmbito dos programas de pós-graduação em Saúde Coletiva. Nesse processo, pesquisas de cunho antropológico, calcadas no método etnográfico, têm sido frequentes entre esses pesquisadores (de formação não antropológica). O objetivo deste artigo é refletir sobre a experiência de ensino e aprendizagem dos fundamentos teórico-metodológicos das pesquisas etnográficas em Saúde, tendo em vista nossa experiência docente. O principal desafio pedagógico consiste em não reduzir e banalizar a complexidade do método etnográfico com vistas à aplicação em demandas específicas para intervenção. Por outro lado, tornam-se imprescindíveis, nesse aprendizado (como profissionais de Saúde geralmente têm interesses de pesquisa engendrados em suas práticas profissionais, para além da necessária): a desconstrução do familiar, a relativização dos pressupostos biológicos e a apreensão das lógicas culturais entre usuários. Observa-se que tal incorporação evidencia uma possível indissociabilidade dialética entre teoria e práticas profissionais.
Este trabalho tem por objetivo propor uma reflexão sobre o: Programa da Humanização da Saúde proposto pelo Ministério da Saúde como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do Sistema Único de Saúde. Segundo os documentos do Programa "Humanizar" é: "ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria nos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais". No entanto, se observa como os vários sentidos que assume o termo "humanizar" e a diversidade de pessoas envolvidas neste processo implicam em diferentes desdobramentos no processo de trabalho e nas relações profissional /usuário dos serviços de saúde. A análise busca resgatar como esta proposta demanda dos profissionais de saúde a conversão de uma dimensão técnica de seu trabalho a uma dimensão relacional.
O objetivo deste estudo foi discutir como a dor aguda e crônica pode ser concebida pelos alunos e professores de Educação Física na musculação. Esta pesquisa utilizou a etnografia em dois estabelecimentos de bairros cariocas socioeconomicamente distintos: 12 meses em uma academia de pequeno porte em um bairro popular e dez meses em uma academia de grande porte em um bairro nobre do Rio de Janeiro, Brasil. Foi possível apreender que os marcadores de gênero e de classe social influenciaram como determinados alunos compreendiam os “limites” do corpo relativo às dores e seus riscos. A intervenção do professor face a este sintoma e ao risco, embora marcada pelo referencial biomédico, era influenciada pelo contexto em que a academia estava engendrada. Tais dados indicam a importância de investigações etnográficas sobre corpo e saúde-doença em contextos alheios aos serviços de saúde tradicionais.
Graduado em Educação Física, mestre e doutor em Saúde Coletiva, Rafael Mattos é autor do livro intitulado Sobrevivendo ao estigma da gordura. Embora parte de tal obra esteja publicada em outra oportunidade (MATTOS; LUZ, 2009), para além das explicações eminentemente biológicas, o livro fornece indícios de forma mais ampla acerca do adoecimento e sofrimento em relação à obesidade e de que maneira suas consequências interferem na vida cotidiana do sujeito.A ideia central que permeia o conteúdo do livro se refere à noção de como o aspecto da gordura é concebido de maneira tão negativa pela sociedade contemporânea. Por meio de um estudo socioantropológico, Mattos foca primordialmente nos sentidos e significados que os sujeitos com sobrepeso e obesidade atribuem a certas práticas de saúde. A partir de uma cosmologia relativa a um estereótipo de (im)perfeição, a obesidade é traduzida em termos de risco a um corpo considerado saudável. O corpo considerado gordo sofre um estigma perante a sociedade pela sua falência moral, bem como uma patologização por certas dimensões corpóreas definidas inadequadas biologicamente pelo referencial biomédico.Destarte, no primeiro capítulo, "Corpo, beleza e contemporaneidade", ao buscar desnaturalizar o corpo, o autor argumenta que este é construído social e culturalmente ao longo da história. O corpo emite inúmeras ações simbólicas de um conjunto de sentidos e significados. Nesta perspectiva de compreensão MATTOS, R. Sobrevivendo ao estigma da gordura. São Paulo: Vetor, 2012. 202 p.
This paper presents and discusses data from a research conducted in the Manguinhos neighborhood communities, municipality of Rio de Janeiro (RJ, Brazil), on tuberculosis treatment within the context of urban violence. For that purpose, social and human sciences theories were considered. The study approaches the social representations that have influenced the interaction between the actors involved in this process, healthcare providers, and people affected by tuberculosis and drug users and/or drug dealers, which are consequence of historic constructions and social contradictions established by the social context of violence where they were inserted. The research method was qualitative, with semidirective interviews following an ethnographic script. The interpretation of the answers searched for meanings based on thematic categories, aiming at their articulation in wider categories. The findings revealed that the interactions between users and healthcare providers occurred under an atmosphere of danger, fear, and stigma in relation to tuberculosis and violence.
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