Este artigo trata do lançamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem pelo governo brasileiro, em 2008. Analisamos as ações da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) nos anos que precederam o lançamento dessa política, e sua atuação durante sua implantação, focalizada na caracterização da disfunção erétil como problema de saúde pública. Examinamos em seguida o documento "Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (princípios e diretrizes)", disponibilizado pelo Ministério da Saúde em agosto de 2008. A partir desses dados, buscamos discutir o modo como o discurso dos especialistas (no caso, os médicos urologistas) se articula ao discurso militante dos movimentos sociais, tendo como objetivo a medicalização do corpo masculino. Argumentamos que tal objetivo, sustentado na afirmação do direito à saúde, implica a ideia de uma masculinidade em si "insalubre", e visa, ao contrário das políticas voltadas para as mulheres e outras minorias, ao "desempoderamento" do sujeito à qual se dirige.
A terceira versão do Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders (DSM III), publicado pela American Psychiatric Association em 1980, implicou uma mudança de paradigma no conhecimento psiquiátrico vigente, tanto nos Estados Unidos quanto no contexto internacional em geral. Apresentamos um pequeno histórico dessa transformação e procuramos expor e discutir a nova arquitetura do manual e sua lógica classificatória. Construímos nossa argumentação em torno do destino reservado às antigas “neuroses” e aos novos “transtornos sexuais”.
Este artigo pretende discutir a passagem da "segunda onda sexológica", que surge em meados do século XX, para uma terceira fase representada pela Medicina Sexual, cujo surgimento data da última década do século. Analisa-se o surgimento da Medicina Sexual como parte de um processo mais amplo de "biologização" das concepções acerca do humano ao qual se concatena uma transformação importante do modo de atuação e produção da indústria farmacêutica. Dois pontos cruciais na passagem da segunda sexologia para a Medicina Sexual serão abordados: a reconfiguração médica da impotência através da construção e da difusão do diagnóstico de "disfunção erétil" e os efeitos disto para a sexualidade masculina; a mudança de foco da sexualidade feminina ou do casal para a sexualidade masculina e suas consequências. O objetivo mais amplo do artigo é apresentar e discutir a medicalização da sexualidade masculina e seu significado no que diz respeito às relações de gênero.
Resumo: Neste artigo apresentamos e discutimos os resultados parciais da investigação sobre a constituição do campo da sexologia contemporânea no Brasil, parte da pesquisa comparativa "Sexualidade, ciência e profissão na América Latina". Uma segunda onda sexológica surgiu no Brasil em finais dos anos 1970 no Rio de Janeiro, com um viés essencialmente clínico, e em São Paulo, com um viés educacional. A década seguinte marcou um período de institucionalização no qual são criadas as duas associações que hoje polarizam o campo em torno de uma sexologia mais eclética e multiprofissional e da chamada "medicina sexual", em geral dominada pelos urologistas. Discutimos os significados dessa polarização em termos das disputas profissionais subjacentes e das concepções de gênero implicadas em tais disputas.
This study analyzes aspects comprising the modern conjugal dynamics of heterosexual couples as part of the results of an ethnographic study of "infertile couples" in Rio de Janeiro, Brazil (2004-2005
Resumo Recentemente, o chamado “parto humanizado” tem sido objeto de inúmeros estudos, configurando um movimento social que se expressa publicamente contra o parto hospitalar tradicional, incentivando o uso de práticas “humanizadas” que seriam mais adequadas à fisiologia do parto. Neste trabalho discutimos a forma como esta proposta de um novo modo de parir se articula com uma interpretação renovada da dor do parto. Para nossa análise, utilizamos entrevistas, aulas de capacitação para doulas, blogs, sites, vídeos, filmes e um e-book. Nosso foco prioritário foi o material acessado através da internet, já que boa parte das informações e reivindicações associadas ao movimento circula em redes virtuais. Observamos como o ideário do parto humanizado caracteriza-se por fazer determinadas bricolagens: entre ciência e concepções alternativas do mundo; entre tradição e modernidade. Procuramos mostrar como a dor, ressignificada nesse ideário, torna-se uma componente intrínseca da experiência de dar à luz, e é um valor fundante da nova identidade da mulher-mãe.
IntroduçãoNeste artigo, refletimos sobre o papel das ciências sociais, especialmente da Antropologia, na estruturação do campo da Saúde Coletiva entre nós. Para tanto, procedemos à revisão de um conjunto de trabalhos publicados recentemente a respeito do tema. Abordamos a Saúde Coletiva como lócus específico do campo científico, 1 onde se disputam e se negociam, de um lado, a própria definição do que pode e deve ser pesquisado -com quais métodos e com que finalidade -, e, de outro, quem tem autoridade para falar em nome da Saúde Coletiva e definir seus contornos.Após apresentar uma breve história da estruturação da Saúde Coletiva no Brasil, buscaremos discutir a posição ocupada pelas três áreas que hoje a constituem -Epidemiologia; Ciências Humanas e Sociais; Política, Planejamento e Gestão -, procurando explorar a lógica subjacente à hierarquia que se estabelece entre elas. Entre as ciências sociais, abordaremos, sobretudo, a situação da Antropologia, cuja especificidade será discutida. O argumento se desenvolve a partir da análise das transformações teórico-metodológicas e temáticas observadas no campo no decorrer dos anos 90 e, em especial, no início deste século. Discutiremos como tais transformações subvertem de certo modo a tradicional hierarquia entre as ciências sociais e a área da saúde, podendo levar a uma nova maneira de pensar a estruturação do campo da Saúde Coletiva como um todo.
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