ApresentaçãoAo revisar este artigo, já com preciosas sugestões editoriais em mãos, recebi o pedido de uma associação científica brasileira para colaborar, como antropólogo, na confecção de uma moção. Em foco estava o fato de diferentes câmaras legislativas do país, envolvidas com a aprovação de seus respectivos planos estaduais e municipais de educação, já estarem prontas a seguir o exemplo do Congresso Nacional que, em 2014, suprimiu do texto final do Plano Nacional de Educação (PNE) todos os trechos em que "gênero", "orientação sexual" e "sexualidade" eram explicitamente mencionados, fossem como fundamentos de desigualdades sociais e de práticas discriminatórias a serem "combatidas" nas e pelas escolas, fossem como temas importantes na formação de professores. 1 Vinculada a diferentes denominações cristãs, a maioria dos deputados e senadores que se opõem a qualquer menção a questões relativas a gênero ou à sexualidade nesses documentos faz eco às manifestações públicas de diferentes igrejas evangélicas brasileiras e do próprio Vaticano quanto aos supostos perigos da disseminação, especialmente entre crianças e adolescentes, do que designam como "ideologia de gênero". Nas palavras de uma importante autoridade católica brasileira, segundo tal "sorrateira" "ideologia", "não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade -e não o próprio sujeito -faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferece". A "ideologia de gênero", assim definida, seria "anticristã", "arbitrária" e "antinatural".2 Nesses termos, a crítica à "ideologia de gênero" reage tanto contra a difusão nas escolas brasileiras do ideal de igualdade entre homens e mulheres quanto contra o reconhecimento de que a diversidade de gênero e de orientação sexual 3 deva merecer algum apreço ou respeito social, tendo
Este artigo trata do lançamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem pelo governo brasileiro, em 2008. Analisamos as ações da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) nos anos que precederam o lançamento dessa política, e sua atuação durante sua implantação, focalizada na caracterização da disfunção erétil como problema de saúde pública. Examinamos em seguida o documento "Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (princípios e diretrizes)", disponibilizado pelo Ministério da Saúde em agosto de 2008. A partir desses dados, buscamos discutir o modo como o discurso dos especialistas (no caso, os médicos urologistas) se articula ao discurso militante dos movimentos sociais, tendo como objetivo a medicalização do corpo masculino. Argumentamos que tal objetivo, sustentado na afirmação do direito à saúde, implica a ideia de uma masculinidade em si "insalubre", e visa, ao contrário das políticas voltadas para as mulheres e outras minorias, ao "desempoderamento" do sujeito à qual se dirige.
Partindo de uma pesquisa mais ampla acerca da violência letal que atinge gays e travestis e a forma como tais casos são construídos judicialmente, este artigo busca destacar alguns elementos relevantes para a compreensão das dinâmicas sociais em jogo quando as vítimas são travestis. O perfil social das vítimas, as características distintivas dos próprios crimes e, sobretudo, as peculiaridades relativas a seu tratamento pela polícia e nas instâncias do Judiciário apontam para a importância de investigar os matizes e nuanças da violência homofóbica. Como fica claro no universo de processos judiciais trabalhados, as relações entre cor, classe e gênero desempenham papel fundamental no modo como tal violência é exercida, socialmente codificada e, por fim, punida.
Buscamos neste artigo reconstruir uma história do movimento social de travestis e transexuais no Brasil a partir dos relatos de suas lideranças. Partindo da emergência da "travesti" como categoria identitária, relatamos o surgimento das primeiras organizações, com destaque para suas conexões com as políticas de enfrentamento à epidemia da AIDS. Tratamos também de dois processos de disputa que foram cruciais para a configuração do movimento no Brasil: a luta pela inclusão de travestis no emergente movimento homossexual dos anos 1980-1990, e o embate mais recente em torno dos sentidos e dos usos das categorias "travesti" e "transexual".
ResumoNosso objetivo é explorar o modo pelo qual o "jeito" supostamente brasileiro de organizar as categorias ou identidades sexuais (especialmente em relação à homossexualidade masculina) vem sendo tematizado na antropologia desde finais dos anos 1970, transformando-se às vezes num eixo para a construção/manutenção de uma identidade nacional caracterizada como exótica, retardatária e "não-ocidental". Também traçamos paralelos entre dois momentos da reflexão sobre as relações entre sexualidade, cultura e política, procedendo a uma breve revisão de algumas contribuições teóricas e empíricas anteriores que antecipam problemas e conceituações centrais dos atuais estudos de sexualidade, relacionados à instabilidade/fluidez das identidades sexuais e à imbricação da sexualidade em relações de poder e hierarquias sociais dinâmicas e contextuais.
A violência contra homossexuais tem representado um tema central para o ativismo, para governos e para a mídia. O objetivo deste artigo é analisar os principais aspectos das agendas do movimento homossexual, isto é, de seus discursos e práticas voltadas para influir nas políticas públicas para enfrentar a violência. Em especial, interessa-nos identificar as relações entre ativismo e academia nesses processos e o modo pelo qual, a partir dessa relação, um certo tipo de conhecimento vem sendo produzido no Brasil.
Palavras
The article examines health itineraries followed by Brazilian travestis, trans men and trans women in the affirmation of their gender, based on the survey Trans Uerj: Health and Citizenship of Trans People in Brazil. The survey’s main objectives were to gauge the trans/travesti population’s diversity and sociodemographic profile; and to map the various ways they access their rights as citizens, especially to healthcare services and body modification technologies. Interviewers, mainly trans people and travestis, applied 391 questionnaires in the city of Rio de Janeiro and its metropolitan region to interviewees of different social classes, schooling levels and gender identity configurations, contacted through the interviewers’ social networks. For defining respondents’ gender identities the survey used an original method based on self-definitions, which were then aggregated into 6 categories for data analysis purposes. This article discusses the multiple strategies used by this trans population in gender affirmation processes to gain access to regulated and/or unregulated use of hormones and surgical procedures.
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