A vagina-escola: seminário interdisciplinar sobre violência contra a mulher no ensino das profissões de saúde notas breves DOI: 10.1590DOI: 10. /1807 Antecedentes Desde a década de 1950, quando se criaram as primeiras associações a apontar a "crueldade contra as grávidas", numerosas iniciativas, grupos e redes se formaram com a finalidade de visibilizar e reduzir as várias formas de desrespeito e abuso contra as mulheres na assistência ao parto 1 . O que no Brasil, hoje, chamamos de "violência obstétrica" é um tema antigo, que eclode periodicamente, sob diferentes termos 2 . Como profissionais de saúde, somos socializados a crer que nosso atendimento é sempre uma ajuda às mulheres, e ficamos chocados, às vezes hostis, diante das narrativas das parturientes que percebem nossa assistência como um abuso, um desrespeito, uma forma de indignidade 2 . As mulheres, por sua vez, receiam falar sobre o assunto, temendo melindrar aqueles dos quais podem um dia depender. É como se falar do problema provocasse sua existência, de forma que, muitas vezes, se prefere o silêncio, ou a formulação de narrativas menos ameaçadoras às relações sociais. No Brasil, a Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (Rehuna), em sua carta de fundação (1993), parte do reconhecimento das "circunstâncias de violência e constrangimento em que se dá a assistência" 3 . Porém, a organização, deliberadamente, abriu mão de falar do enfrentamento à violência, ao privilegiar termos como 'humanizar o parto', 'promover os direitos humanos das mulheres' e 'melhorar o acolhimento', temendo uma reação hostil dos profissionais diante da acusação de violência 4 . Pode-se dizer que a medicina baseada em evidências (MBE), que começa na área de saúde perinatal 5 , é um movimento de profissionais de saúde aliados a movimentos de mulheres 6 preocupado em dar visibilidade às rotinas de sofrimento desnecessário no parto e aos seus efeitos prejudiciais, como: proibição da presença de familiares, imobilização física, privação de água e alimentos, lavagens retais, raspagem de pelos pubianos, entre outras. Este movimento chama a