Resumo: Neste trabalho, fizemos um percurso nos principais textos teóricos nos quais Winnicott aborda a função do pai. Recorremos também aos casos clínicos para localizar como essa função paterna é analisada na prática clínica. Na obra de Winnicott, a figura paterna aparece como coadjuvan te ao trabalho de cuidado materno, muitas vezes atrelado a condições do ambiente e em diversas outras como um substituto que mimetiza características rigorosamente maternais. Percebemos em Winnicott uma clara aproximação entre os termos pai e homem, que contribuem para uma imagem normativa da família. A própria teoria winnicottiana pode ser utilizada para desconstruir o que consideramos uma dobra ideológica na obra do autor, por meio do confronto de seus próprios textos, como sugere a metodologia proposta por Laplanche, utilizada neste artigo. Tal desconstrução permite pensar, a partir dessa perspectiva, novos formatos familiares (homoafetivos e monoparentais, por exemplo) que aumentem o potencial criativo no relacionamento de um adulto com o bebê. Palavras-chave: Winnicott; pai; comportamento de cuidado da criança.
RESUMO.A noção de paraexcitações (Reizschutz), tal como formulada por Freud, tem forte viés biológico. É possível re-escrevê-la, a partir da teoria da sedução generalizada de Jean Laplanche, mostrando sua constituição nas relações originárias com o outro. O exame da literatura sobre a noção mostra claramente a dimensão ética e estética desse conceito. Autores relacionam condutas tais como a anorexia, a toxicomania, a hipocondria e a conduta criminosa como resultado da má constituição do paraexcitações. Nesse sentido, é possível aproximar o conceito da noção grega Paraskeuê, um escudo moral produzido ao longo da vida, tal como foi estudado por Michel Foucault. Conclui-se ser desejável re-escrever o conceito, integrando-o à história das práticas do cuidado de si para salientar os aspectos éticos e estéticos presentes no exercício clínico de reconstrução do paraexcitações.Palavras-chave: Escudo protetor; moral; sofrimento.ABSTRACT. The notion of the protective shield (Reizschutz), as formulated by Freud, has a strong biological bias. It is possible to redescribe it through Jean Laplanche's theory of generalized seduction, showing its constitution in the originary relations with the other. The exam of the literature about the notion clearly shows the ethical and esthetical dimensions of this concept. Authors relate conducts such as anorexia, drug addiction, hypochondria and criminal behavior as the results of a poor constitution of the protective shield. In this sense, it is possible to connect this concept to the Greek notion of Paraskeuê, a moral shield produced throughout life, as studied by Michel Foucault. We conclude to be desirable redescribing the concept, integrating it to the history of the care of the self's practices in order to emphasize ethical and esthetical features present in the clinical exercise of reconstructing the protective shield. LA PROTECCÍON CONTRA LAS EXCITACIONES (REIZSCHUTZ) Y LA PARAKEUÊRESUMEN. La noción de protección contra las excitaciones (Reizschutz), tal como fue formulada por Freud, tiene un fuerte sesgo biológico. Es posible redescribirla, desde la teoría de la seducción generalizada de Jean Laplanche, mostrando su constitución en las relaciones originarias con el otro. El examen de la literatura sobre la noción enseña claramente la dimensión ética y estética de este concepto. Autores hacen una conexión de conductas como la anorexia, la toxicomanía, la hipocondría y la conducta criminal como resultado de la mala constitución del protector contra excitaciones. En este sentido, el concepto se asemeja a la noción griega Paraskeuê, un escudo moral producido a lo largo de la vida, como ha estudiado Michel Foucault. Se concluye que es deseable la redescripción del concepto, integrándolo a la historia de las prácticas del cuidado de sí para destacar los aspectos éticos y estéticos presentes en el ejercicio clínico de reconstrucción del protector contra excitaciones.
RESUMO -Este trabalho apresenta uma análise do caso de José, um surdo-mudo que foi tomado como louco e, por ter sido acusado de tentativa de homicídio, foi condenado ao internamento em hospital psiquiátrico. O caso é um exemplo do que Michel Foucault chama de ubuesco e ilustra as relações entre a Psicologia e o Direito, em especial os fundamentos políticos da psicologia forense.Palavras-chave: surdez; ubuesco; Foucault; Direito; subjetividade. When the Law is Deaf: A Recent Case in the History of the Relation between Psychology and LawABSTRACT -This paper presents an analysis of José's case, a deaf-mute who was treated as insane and, for being accused of murder attempt, was condemned to reclusion in a mental hospital. Esse acompanhamento é individualizado e feito por uma equipe formada por um psicólogo, um assistente jurídico e um assistente social. Xibolete: Sentença de Morte?Há um episódio da história judaica que gostaríamos de usar aqui como alegoria sobre o caso que iremos apresentar. Os habitantes da tribo Efraim tentavam fugir do massacre militar que a tribo de Gileade lhe impôs. Tinham que atravessar, disfarçados, o rio Jordão, mas para isso precisavam passar pelos guardas gileaditas. Estes submetiam todos aqueles que desejavam fazer a travessia a um simples teste: deviam dizer a palavra xibolete que, em hebraico, significa espiga. Os efraimitas não conseguiam dizer o som do /x/ e diziam "sibolete". A pronúncia dessa palavra era, ao mesmo tempo, a denúncia de sua origem e, consequentemente, sua sentença de morte (cf. Juízes, 12:5-6, em A Bíblia Sagrada). Quarenta e duas mil pessoas foram mortas, ainda segundo o relato bíblico.Ainda hoje, a palavra xibolete é usada como sinônimo de senha ou palavra que identifica o pertencimento a um grupo. Mas, não é esse o detalhe que queremos evidenciar nessa trágica história. Trata-se de tornar visíveis os efeitos mortíferos causados por uma impossibilidade de dizer. Se os efraimitas foram mortos por sua incapacidade de pronunciar corretamente a palavra, veremos, no caso analisado a seguir, o que um surdo sofre quando sua "palavra" não é compreendida. Guardadas as devidas proporções -como pede toda alegoria -vejamos como se dá a travessia desse sujeito que não sabia pronunciar a palavra "certa". Um Surdo no TribunalReconhecendo a necessidade de promover o acompanhamento 2 dos acusados sob suspeita de sofrimento mental e o tratamento dos pacientes judiciários submetidos à medida de segurança, e garantindo a efetividade das sentenças judiciais, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais -TJMG criou, em 2000, o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental (PAI-PJ). Esse programa tem a finalidade de fornecer à autoridade judicial subsídios para decisão nos incidentes de insanidade mental e promover o acompanhamento da aplicação das medidas de segurança ao agente infrator, tanto na modalidade de internação quanto na modalidade de tratamento ambulatorial (TJMG, 2001). Foi por meio desse programa que tivemos acesso ao caso que iremos ...
Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco significaria ser louco de um outro tipo de loucura (Pascal . Pensées)Cada um é doido de sua banda.presente trabalho tem como objetivo analisar os temas da loucura e da morte, no conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", do livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. A narrativa mostra duas mulheres, a mãe e a filha de Sorôco, que vão ser levadas em um trem que acaba de chegar à cidade. O trem se destina ao hospício de Barbacena. As duas mulheres cantam uma cantiga ininteligível, que depois é imitada por Sorôco e pelas pessoas que ali se encontram observando a cena.Logo no primeiro parágrafo, o narrador faz a descrição do vagão de trem que levará as duas mulheres para o hospício. Esta descrição é feita negativamente, isto é, dizendo-se o que o vagão não é:Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. O1 Sob orientação do Prof. Sérgio Alves Peixoto, UFMG.
Neste trabalho, articulamos um debate crítico entre Butler, Foucault e Laplanche para pensar a constituição do sujeito a partir das categorias centrais utilizadas por esses pensadores: o gênero, a sexualidade e o sexual. Primeiro, desenvolvemos a ideia de jogos libidinais de poder: os jogos de poder foucaultianos não se sustentam sem um suporte libidinal subjetivo. Em seguida, após introduzir as leiturasde Butler e Laplanche, tentamos abrir caminho para uma releitura laplancheana sobre um mal-estar na teoria butleriana da performatividade de gênero. Para isso, aproximamos a performatividade, como repetição citacional de uma norma sem fundamento ontológico, aos conceitos laplancheanos de código tradutivos e mensagens enigmáticas. Como pano de fundo do debate, concebemos que a verdade recalcada dos arranjos normativos de gênero é o sexual, que desafia as tentativas de cristalizar, de forma clara e distinta, o binário tradicional homem-mulher. Do ponto de vista da constituição do sujeito, concluímos apontando a possibilidade de pensar em tratamentos menos mortíferos e menos rígidos para opulsional.
Este trabalho objetivou desenvolver subsídios para a psicanálise de velhos a partir da teoria laplancheana. A recorrência com que contingências do envelhecer impõem-se como força motriz para o trabalho psíquico, exige do analista pensar as implicações da velhice para o sujeito e para a prática clínica. Partimos da hipótese de que as vicissitudes da velhice tangenciam de modo particular o tema da sedução originária. A partir da leitura aos moldes de uma escuta clínica do livro a máquina de fazer espanhóis (mãe, 2016),1 articulamos as peculiaridades da velhice relatadas aos aspectos teóricos referentes a uma atualização das mensagens enigmáticas e suas consequências para o psiquismo. Consideramos que em função da velhice ocorrem particulares transformações do eu que interferem nos processos de subjetivação e na condução do caso clínico.
Resumo Ao longo das décadas de convivência com o feminismo, a psicanálise sofreu pertinentes críticas com relação à suposição da figura paterna como eixo central de sua teoria de constituição subjetiva. O maternalismo, por outro lado, destaca-se como a corrente pós-freudiana que toma o cuidado materno como modelo teórico e prático por excelência. No entanto, endossando uma perspectiva feminista, a centralização da maternidade não deixa de apresentar sérios riscos, pois se conecta diretamente a relações de poder e dominação que contribuem para a circunscrição das mulheres ao âmbito doméstico. Donald W. Winnicott, importante psicanalista britânico e expoente do maternalismo, estabelece a quase exclusividade do cuidado de crianças exercido por mulheres. Embora haja um aumento da discussão sobre o tema nos últimos anos, ainda é escasso o questionamento crítico do papel da paternidade em Winnicott. Este trabalho problematiza a ênfase dada à maternidade por Winnicott, de modo a tensionar sua exclusão da paternidade como possibilidade de cuidados de bebês. A partir do método psicanalítico proposto por Jean Laplanche articulado à função normativa dos discursos de gênero, como formulado por Judith Butler, analisamos dois argumentos winnicottianos sobre a maternidade. Foi possível evidenciar a reafirmação da hierarquia dos gêneros no cuidado com bebês realizada através de recursos essencializantes e apontar alternativas teóricas para a compreensão da evitação do rearranjo dos lugares de cuidado. O desamparo gerado na situação de cuidado destacou-se como um dos sustentáculos da exclusão de homens dessa posição.
O objetivo deste estudo foi verificar o estado de humor de praticantes amadores de corrida de rua nos períodos pré e pós-prova, a partir da Escala Brasileira de Humor (BRAMS). Participaram da pesquisa 37 praticantes filiados a grupos de corrida de rua. Auferiu-se, em relação aos estados de humor dos participantes, que a tensão, o vigor e a confusão apresentaram valores inferiores após a prova. A fadiga foi a única dimensão com aumento no período pós-prova. Em relação à qualidade do sono, pôde-se observar que os indivíduos que tiveram um sono satisfatório na noite anterior estavam mais bem preparados para a prova. Realizou-se, ainda, uma análise de acordo com o nível de experiência, na qual se verificou que os praticantes menos experientes sofreram mais os efeitos da competição, o que afetou significativamente os escores de tensão, vigor, fadiga e confusão.
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