Gênero, Sexualidade E O Sexual: O Sujeito Entre Butler, Foucault E Laplanche

Abstract

Neste trabalho, articulamos um debate crítico entre Butler, Foucault e Laplanche para pensar a constituição do sujeito a partir das categorias centrais utilizadas por esses pensadores: o gênero, a sexualidade e o sexual. Primeiro, desenvolvemos a ideia de jogos libidinais de poder: os jogos de poder foucaultianos não se sustentam sem um suporte libidinal subjetivo. Em seguida, após introduzir as leiturasde Butler e Laplanche, tentamos abrir caminho para uma releitura laplancheana sobre um mal-estar na teoria butleriana da performatividade de gênero. Para isso, aproximamos a performatividade, como repetição citacional de uma norma sem fundamento ontológico, aos conceitos laplancheanos de código tradutivos e mensagens enigmáticas. Como pano de fundo do debate, concebemos que a verdade recalcada dos arranjos normativos de gênero é o sexual, que desafia as tentativas de cristalizar, de forma clara e distinta, o binário tradicional homem-mulher. Do ponto de vista da constituição do sujeito, concluímos apontando a possibilidade de pensar em tratamentos menos mortíferos e menos rígidos para opulsional.

Inclusão ou ilusão da identidade de gênero no país com o maior número de assassinatos de transgêneros: um ensaio crítico brasileiro

“…Conscientemente ou não, esses indivíduos reforçam-se simultaneamente para manter um estado de normalização e inteligibilidade dos corpos, a fim de garantir uma identidade dentro de um sistema dual de homens e mulheres, com seus limites de características corporais, gestos e fala. 16,17,21,23 Na mesma medida, corpos que se desviam das performances esperadas no sistema masculino-feminino são considerados dissonantes e, consequentemente, carregam o ônus da eliminação-correção social, como ter seus nomes desrespeitados e enfrentar múltiplas barreiras ao acesso aos serviços, incluindo serviços de saúde.…”

Theoretical-methodological essay on gender identity information validity in epidemiological surveillance of violence

“…In this understanding, even male identity, which in the past benefited from the status of an original category, would not be exempt from this process of becoming and, consequently, from what is culturally necessary to gather in terms of male characteristics and behaviors. Consequently, the theoretical understanding of the separation of what is biological, sex, from what would be a category constructed by the discourse that stabilizes within a culture, gender, is questioned (8,10,12,16,18) .…”

“…These expectations will confine the as-yet-unborn body to a sort of path of expected behaviors taught by adults through multiple messages throughout life. Therefore, social rules, through a pre-existing discourse, although not necessarily deterministic and fateful, help shape and restrict certain experiences, desires, and, consequently, gender expressions, as well as contribute to the illness of individuals (18) .…”

“…However, after so many theoretical advances, there is no room for naivety. The hegemonic and heterocisnormative culture, in order to maintain the coherence of a dual gender system, favors some gender identities over others (18) .…”

Abjeção e migração: deslocamentos clínicos do enigma do dejeto às autorizações do desejo

“…(Laplanche, 1988, p.78-80-grifo nosso) Embora a ideia de enigma laplancheano pareça nos amparar mais diretamente na via de compreender o "enigma do desejo", dado a proposta constitutiva, nos interessamos por aquilo que o autor localiza como fracasso da tradução, o resto da significação, como pistas para abordar uma abjeção não apenas relacionada ao traumático orignário, mas também ao traumático ocasionado pelos mecanismos de saber-poder. Nesse sentido, as leitura laplancheanas de Gonçalves Filho a respeito das "mensagens enigmáticas de rebaixamento" (Gonçalves Filho,1998) e também a proposta por Lima & Belo (2019), ao se referirem aos "jogos libidinais de poder", nos parecem oferecer uma via para pensar articulações e deslocamentos do enigma do dejeto ao do desejo. Tal caminho não parece distante das próprias preocupações laplancheanas quando o autor faz da tentativa de compreensão do enigma em sua multidimensionalidade a própria tarefa psicanalítica:…”