As unidades de conservação (UCs) têm sua origem também atrelada ao turismo, quando estes espaços começaram a ser pensados para o uso de moradores das cidades. No Brasil, a beleza cênica preservada nesses locais é responsável por atrair grande número de visitantes, em sua maioria, advindos de áreas urbanas. Muitas UCs possuem moradores em suas áreas ou nas proximidades e alguns destes vêm se organizando para trabalhar com o turismo de forma a garantir a tomada de decisão sobre os processos e otimizar os benefícios provenientes da atividade. Este trabalho visa refletir sobre algumas possibilidades para o turismo de base comunitária (TBC) desenvolvido em unidades de conservação, através da visão dos moradores locais, que formam esta base comunitária. Para isso, foram observadas algumas experiências de TBC na Amazônia brasileira, umas já implementadas, outras ainda em processo de planejamento. Em especial são discutidos aspectos observados em trabalhos nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Amanã e Mamirauá, além de trabalhos e experiências pontuais na Reserva Extrativista do rio Unini, no Parque Nacional do Jaú, no rio Tapajós e na ilha de Marajó. Diversas questões referentes aos próprios conceitos (e às práticas) de conservação, sustentabilidade, economia ecológica, populações tradicionais, turismo de base comunitária, entre outros, compõem esta reflexão sobre TBC na Amazônia, trazendo perguntas que precisam de profunda discussão entre os atores envolvidos para que se possa chegar a maiores definições sobre o TBC em UCs na Amazônia, levando em consideração a perspectiva local. Palavras-Chaves: TBC, Amazônia, Amanã, conservação.
Comunidades locais se organizam para trabalhar com o turismo em áreas protegidas na Amazônia. Esta realidade é cada vez mais frequente, com exemplos no Brasil, Peru, Equador, entre outros. Desde 2006, é também realidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no estado do Amazonas, onde técnicos e pesquisadores trabalham junto às comunidades do lago Amanã, trazendo o tema do turismo para discussão, oferecendo apoio e coletando informações para ajudá-los a desenvolver o turismo em seus territórios. Para conferir aos moradores experiencia prática e autonomia na tomada de decisão, a partir de 2010 foram realizadas viagens experimentais, levando turistas para visitarem a região. As viagens tiveram diversos níveis de envolvimento dos habitantes, utilizaram distintas estruturas logísticas e propiciaram diferentes tipos de experiências para os envolvidos. E assim, serviram para apoiar ideias e conceitos em questões práticas, que por sua vez possibilitam aos moradores tomar decisões sobre um formato de turismo a ser implementado (ou não) pelas comunidades. Com base nessas experiências e nos relatos das ‘Viagens ao Amanã’, são discutidas diversas questões sobre o turismo de base comunitária, enfatizando a visão dos visitantes e as proposições dos comunitários sobre o tipo de turismo que pretendem desenvolver.
O turismo de base comunitária é carregado de valores e princípios que se revelam positivos para os envolvidos. Por meio da organização comunitária para o turismo, é possível que as populações acessem caminhos para conquistar seus direitos, garantindo autonomia sobre seus territórios e modos de vida. No caso dos povos tradicionais da Amazônia, que desenvolveram modos específicos de uso e manejo do ambiente, um modelo de turismo construído de forma a valorizar sua cultura e sua relação com o ambiente, além de propiciar desenvolvimento social e econômico, pode fortalecer processos de luta por reconhecimento territorial e histórico. Na região do médio Solimões, no Amazonas, comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDS) Amanã planejam suas formas de organizar e desenvolver o turismo em seus territórios. O presente trabalho, que faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre o TBC na RDS Amanã, tem como objetivo descrever a organização para o turismo nas comunidades do Lago Amanã, analisando as singularidades e os desafios encontrados. O processo de planejamento vem sendo acompanhado desde 2010, e os métodos de investigação valeram-se de estratégias de pesquisa de campo como a observação participante em estadia junto aos moradores, o apoio e acompanhamento de viagens com turistas, entrevistas com atores locais, além de consulta a bibliografia sobre os temas abordados. No recorte deste artigo, buscou-se debater os principais obstáculos para a organização do turismo comunitário, bem como as estratégias e possibilidades que a atividade pode oferecer para os povos ribeirinhos da Amazônia. Os moradores se mostram cada vez mais engajados e empoderados dos processos decisórios, ainda buscando definir o formato de turismo e os meios para alcançarem seus objetivos de maneira autônoma.***Agradecemos imensamente a todas/os habitantes das comunidades da Reserva Amanã, em especial as/os que participam dos trabalhos de planejamento do turismo.
Resumo A Amazônia tem se tornado cada vez mais um terreno de intensas e variadas disputas locais e transnacionais. No interior de suas matas, recortadas por miríades de grandes rios, paranãs e igarapés, habitam diversos povos de distintas matrizes étnico-culturais que dela dependem para sua sobrevivência. Este trabalho lança um olhar sobre as formas como alguns grupos locais lidam com questões atribuídas por agendas globais voltadas para a preservação da floresta. Através da relação entre três espécies da fauna e o turismo, busca compreender como esses grupos desenvolvem localmente seus processos de negociação e resolução de conflitos para praticar suas formas de conservação e desenvolvimento. Anos de pesquisa de campo, em duas áreas protegidas da Amazônia Brasileira, proporcionam a reflexão sobre as maneiras como a floresta é habitada e manejada, e revelam as formas como comunidades e instituições negociam interesses conflitantes sobre a conservação e o uso do ambiente.
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